Bangalore, o “Vale do Silício” da Índia: a abertura para a iniciativa privada florescer é a principal força propulsora do crescimento econômico do país (Foto/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2018 às 05h00.
Última atualização em 10 de maio de 2018 às 05h00.
À beira de ultrapassar 1,4 bilhão de habitantes, incluindo entre eles o maior contingente de miseráveis do planeta, a Índia pode parecer um desafio quase insolúvel. Como criar condições para que tanta gente seja resgatada da pobreza e alcance um padrão de vida decente? É uma pergunta que, guardadas certas proporções, se aplica ao Brasil, hoje próximo de 210 milhões de moradores e também com uma maioria de baixa renda. Pois a Índia tem dado seguidas mostras de que vai encontrando maneiras de enfrentar seus problemas colossais. Já faz um bom tempo que o país se destaca como um polo mundial de desenvolvimento de tecnologia.
No dia do fechamento desta edição da revista EXAME, 8 de maio, circulou a notícia de que a varejista americana Walmart estava negociando a compra da Flipkart, maior empresa de comércio eletrônico da Índia. A Flipkart é apenas uma das muitas startups criadas em Bangalore, uma metrópole do tamanho de São Paulo que virou uma espécie de Vale do Silício indiano. Os negócios digitais são uma das fontes que alimentam um crescimento econômico, em média, superior a 6% ao ano.
O uso inteligente da tecnologia é exatamente uma das saídas que a Índia está encontrando para atacar o imenso obstáculo da pobreza. Uma reportagem desta edição mostra uma providência tomada para conferir cidadania a centenas de milhões de pessoas. Trata-se da criação de um cadastro com a identificação eletrônica dos indianos, muitos dos quais até então viviam completamente à margem de qualquer registro.
Graças a essa medida, a população agora conta com um acesso mais fácil a serviços públicos, como programas sociais. Mais que isso, o governo do primeiro-ministro Narendra Modi resolveu usar o recurso para incluir os cidadãos no mercado, mais especificamente no mercado financeiro. Com isso, a Índia, um país em que há sete anos os bancos atendiam apenas um terço da população, agora tem 80% de bancarização — nosso índice é de 70%.
A iniciativa reflete uma mentalidade que tem grassado por lá: a de combater a intrincada burocracia e abrir espaço para a livre-iniciativa florescer — a identidade digital ajudou na formalização de milhões de pequenos empreendimentos e serviu de base para uma simplificação de impostos. O exemplo indiano, portanto, merece ser duplamente observado pelos brasileiros: pelo uso da tecnologia como instrumento de inclusão e pelo choque de capitalismo.
É um caminho até certo ponto contrário ao que o Brasil volta e meia teima em seguir, como alerta em entrevista também nesta edição a economista americana Deirdre McCloskey. Ela chama a atenção para o papel que aqui têm tido as políticas de intervenção do Estado na economia. Com essa visão que vai e vem desde os anos 30, o país caiu num atoleiro. “O nacional-desenvolvimentismo, conceito de que o governo gera riqueza, é o maior problema para o crescimento do Brasil”, diz Deirdre. “Se o país deixar que as ideias das pessoas sejam desenvolvidas, as coisas vão acontecer.” Estão acontecendo na Índia. E podem acontecer aqui também.