Revista Exame

Opinião: Brasil vai conseguir sobreviver a 2017?

O derrotismo que hoje em dia parece predominar em boa parte do melhor pensamento nacional não vai levar ninguém a lugar nenhum.

O Presidente Michel Temer durante anuncio do pacote de medidas econômicas (Beto Barata/PR/Agência Brasil)

O Presidente Michel Temer durante anuncio do pacote de medidas econômicas (Beto Barata/PR/Agência Brasil)

JG

J.R. Guzzo

Publicado em 11 de janeiro de 2017 às 18h00.

Última atualização em 11 de janeiro de 2017 às 19h36.

São Paulo — Conseguirá o Brasil sobreviver até dezembro de 2017? sim, com certeza, tanto o Brasil quanto sua economia, mesmo porque não dá tempo, em 12 meses, de liquidar os dois. Já bem mais incerto é o destino de muitas empresas; mais complicadas ainda são as possibilidades de sobrevivência do emprego que você tem agora — caso, naturalmente, ainda tenha um.

Um ano atrás, neste mesmo espaço, registrou-se que o novo governo, então em vias de ser formado, diante do naufrágio da ex-presidente Dilma Rousseff, apresentava de saída uma grande vantagem: a situação ia parar de piorar. A hemorragia de fato parou, e isso foi fundamental.

Chegamos ao fim de 2016 com a inflação em 6,5% ao ano; só Deus sabe onde estaria se a calamidade continuasse. A política externa suicida dos últimos anos foi abandonada. O índice de mortalidade no ministério do presidente Michel Temer foi altíssimo, mas os ministros que escaparam estão mais ou menos de bom tamanho; não é que sobrem na praça gênios da administração pública e, de mais a mais, seria preciso algum fenômeno sobrenatural para conseguir um conjunto de nulidades tão extraordinárias como as que Dilma tinha o dom de encontrar.

As contas externas estão razoavelmente ajustadas. Não há crise cambial à vista, como sempre acontece com economias a caminho do ralo. Medidas importantes foram aprovadas, como a criação de limites legais para os gastos públicos nos próximos 20 anos, a modificação das regras para investimentos na exploração do pré-sal, a redução de impostos na remessa de lucros para o exterior e uma série de modificações que podem não ser sensacionais, mas têm o mérito indiscutível de estar na direção certa.

Enfim, foi mais ou menos o que deu para fazer — e esperar algo muito diferente disso, numa situação política patológica como a que o Brasil vive hoje, seria apostar contra os fatos. Nenhuma dessas considerações, naturalmente, ajuda a pagar as contas no fim do mês, mas também é certo que o derrotismo que hoje em dia parece ser a moda predominante em boa parte do melhor pensamento nacional não vai levar ninguém a lugar nenhum. O que adianta? Pessimismo, na melhor das hipóteses, é perda de tempo; na pior, e mais comum, resulta em colaboração ativa com a adversidade.

Cobram-se do presidente Michel Temer e das forças que o apoiam virtudes que não têm, habilidades que não conhecem e ideias que não lhes ocorrem. Querem providências que o governo simplesmente não está em condições de tomar. Exigem-se resultados impossíveis de obter em sete meses, principalmente levando-se em conta a massa falida que a atual administração recebeu do governo anterior.

Esperam-se altos índices de integridade, eficácia, lógica e inteligência de governantes que se originam num sistema político e eleitoral degenerado — e que só pode produzir o contrário, exatamente, daquilo que se considera ser o bem público. Uma usina que processa lixo, na porta de entrada, não pode servir ouro em pó na porta de saída.

Especialmente esquisita, no momento, é a torcida para que o governo do presidente Temer vá a pique. Entende-se, é claro, que esse seja o desejo do ex-presidente Lula, do PT e do sistema que lhes dá sustentação. Mas os demais, sobretudo quando se trata de gente ligada de alguma maneira à produção — o que teriam a ganhar com isso?

Parecem esquecer que esse governo pode ser o pior do mundo, mas é o único que a Constituição brasileira estabelece — e se ele cair será indispensável colocar outro em seu lugar. Alguém tem uma ideia melhor? É cansativo ficar ouvindo, o tempo todo, que é preciso “passar o país a limpo”, “recomeçar do zero”, “acabar com tudo isso que está aí” e outras fórmulas igualmente desprovidas de qualquer valor prático. Há uma ponte a atravessar mais à frente. É preciso chegar até ela.

Como nos ensina Victor Hugo, um país pode entrar em eclipse, a exemplo do Sol ou da Lua — desde que não fique lá para sempre. Há gente demais, neste início de 2017, querendo continuar no escuro.

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