Revista Exame

Onde estamos atrasados para Olimpíadas de 2016

Convidado para gerir a preparação da Olimpíada, Henrique Meirelles deve assumir lutando contra o tempo. Em comparação com os Jogos de Londres, quase um ano já foi perdido

Uma imagem para o mundo: o réveillon em Copacabana exaltou os jogos no Rio. A questão é fazer em 2016 uma festa que favoreça a reputação do Brasil (Thor Unamar/EXAME.com)

Uma imagem para o mundo: o réveillon em Copacabana exaltou os jogos no Rio. A questão é fazer em 2016 uma festa que favoreça a reputação do Brasil (Thor Unamar/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2011 às 06h00.

O velho brasil que deixa as coisas para a última hora — e paga mais caro por isso — ameaça os dois grandes eventos que o país se propõe a organizar nos próximos anos: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016. No que diz respeito à Copa, a falta de gestão já mostra como resultado um atraso médio de dois anos nas obras e uma explosão de custos nos projetos de estádios. No caso da Olimpíada, a possível nomeação do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para o comando do órgão responsável é uma boa notícia — mas chega atrasada quase um ano.

A convite da presidente Dilma Rousseff, Meirelles foi escalado para dirigir a Autoridade Pública Olímpica (APO), uma instituição a ser criada na virada de fevereiro pelo Congresso por exigência do Comitê Olímpico Internacional. Se confirmado no cargo, Meirelles, que, após ter deixado o BC, cumpre uma quarentena até o final de abril, coordenará as ações do governo federal com as do estado e as da cidade do Rio de Janeiro — o governo estuda formas de fazer com que ele assuma o novo posto antes. A missão da APO é garantir eficiência na entrega de toda a infraestrutura necessária aos Jogos Olímpicos.

Trocando em miúdos, aos 66 anos, Meirelles, engenheiro civil de formação, foi escalado para zelar pela execução do orçamento de 30 bilhões de reais a ser investido em várias frentes: construção das arenas e da Vila Olímpica, projetos de mobilidade urbana e até o treinamento da mão de obra que trabalhará no evento. “A Olimpíada é uma oportunidade de ouro para o país e não pode ser comprometida pelos atrasos e pelo descontrole de custos que marcaram os Jogos Panamericanos de 2007”, diz Paulo Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.

Meirelles já começará lutando contra o tempo. Numa comparação com o cronograma seguido por Londres, cidade que realizará os Jogos de 2012, o evento do Rio de Janeiro acumulou até agora dez meses de defasagem quanto à criação da Autoridade Olímpica. Os londrinos criaram seu órgão gestor, o ODA, sigla de Olimpic Delivery Authority, oito meses após a escolha da cidade para sediar os Jogos. O órgão é importante por deter plenos poderes para executar a missão, eliminando assim a tradicional ingerência política quando o assunto é gastar dinheiro público.

No Rio, 18 meses foram decorridos e ainda não foi criada a estrutura gestora. De acordo com especialistas na monta­gem de eventos de grande porte, Meirelles precisa começar logo, porque 2011 é um ano crítico. Até dezem­bro, a Autoridade Pública Olímpica terá de concluir todos os projetos e realizar as licitações necessárias. Apesar do atraso na criação da APO, algumas coisas começam a andar. No momento, o Comitê Rio 2016, uma organização pri­vada sem fins lucrativos criada para gerir as operações em nível local, trabalha em conjunto com a construtora Carvalho Hosken, ganhadora da licitação para a edificação da Vila Olímpica, no detalhamento dos projetos apresentados ao COI.


Esp construtora prevê começar em abril a preparação do terreno pantanoso na Barra da Tijuca que abrigará a Vila Olímpica. O governo fluminense iniciou as obras da linha 4 do metrô carioca. Com seis estações, ligará Ipanema à Barra e está prevista para ser entregue em dezembro de 2015. Garantir que os prazos — e o orçamento — dessas e de outras obras sejam cumpridos será parte da missão do ex-presidente do BC.

Meirelles tem evitado a imprensa, mas assessores do Planalto dizem que ele já aceitou o cargo motivado pelo desafio de colocar de pé um evento de importância ímpar. A esperança é de um ganho de imagem semelhante ao ocorrido com a China ao fazer os Jogos de 2008. Mas, em termos de gestão, o melhor exemplo a ser seguido é mesmo o de Londres, que está na fase final de construção das instalações da Olimpía­da de 2012. Lá, graças à ODA, o cronograma de todas as obras e ações — coisa que ainda inexiste no Rio — foi dividido em seis fases: planejamento, escavação e demolição, construção, testes, realização dos jogos e, finalmente, a fase de legado, em que parte das arenas será reduzida, e a Vila Olímpica, reconfigurada para servir à população londrina.

Até agora, com exceção do atraso de um ano na linha do metrô que ligará o centro de Londres à Vila Olímpica, na zona leste da cidade, o cronograma está em dia — e, igualmente importante, o orçamento de 15 bilhões de dólares continua em vigor. Em sua missão de entregar os Jogos de 2016, Meirelles enfrentará lobbies e interesses políticos. Até o momento, sua nomeação enfrenta resistências do prefeito carioca, Eduardo Paes, e do ministro do Esporte, Orlando Silva.

Felizmente, em conversas reservadas, Dilma tem dito que a autoridade e a independência da APO são inegociáveis. Para transformar-se em realidade, a APO também precisa ser aprovada pelos legislativos do estado e da cidade do Rio de Janeiro, onde a tramitação é lenta. Para o bem dos Jogos Olímpicos de 2016, espera-se que Dilma convença o Rio a se mexer o quanto antes — e evite, assim, repetir o fiasco que vem se mostrando a condução da Copa de 2014.

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