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Bvlgari investe em tecnologia e tradição na produção de joias

A Bvlgari redesenha a história da ourivesaria com sua nova fábrica no norte da Itália

Feito a mão: o arremate preciso das pedras preciosas (Matteo Carassale/Divulgação)

Feito a mão: o arremate preciso das pedras preciosas (Matteo Carassale/Divulgação)

Camila Lima
Camila Lima

Jornalista

Publicado em 22 de maio de 2025 às 06h00.

Última atualização em 22 de maio de 2025 às 09h13.

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No concorridíssimo universo das marcas de luxo, onde tradição é uma moeda inestimável, a inovação se torna outro pilar da mesma importância. É nesse cenário que atua a Bvlgari do século 21, combinando o savoir faire do joalheiro romano — ousado, barroco e assumidamente maximalista — com tecnologia e sustentabilidade.

Esses dois universos se encontram na Manifattura, a recém-inaugurada fábrica da grife em Valenza, na região de Piemonte, na Itália. Um lugar com um entorno de pintura de Cézanne, interior de filme de James Cameron e que ostenta, com orgulho, o título de maior fábrica de joias do mundo. Trata-se de um complexo com dois novos edifícios, inaugurados oficialmente no último mês de abril, e construídos para juntar-se a um prédio anterior, criado ainda em 2017 e que já se orgulhava de ser, até então, a maior fábrica do setor na Europa.

Livro de Roma: cidade da Itália é a inspiração da grife criada pelo ourives grego Sotirio Bulgari (Matteo Carassale/Divulgação)

Ao projeto original foram adicionados mais 19.000 metros quadrados, garantindo hoje, aos headquarters da empresa, uma área de 33.000 metros quadrados, capaz de absorver muitas funções antes terceirizadas pela marca.

A eficiência energética é outro destaque do empreendimento. Ao todo, 50% da energia consumida no local é produzida nele, sendo o restante proveniente de outras fontes renováveis. A Bvlgari se orgulha do fato de ser a primeira joalheria do planeta a fabricar 100% de suas peças com ouro totalmente certificado.

“Não vemos tradição e inovação como opostos, e sim como aliados. A alma da joalheria italiana está nas mãos dos nossos artesãos, que transmitem seu ofício entre gerações. Já a tecnologia nos dá a habilidade de elevar essa tradição, acrescentando precisão, consistência, melhorando as condições de trabalho, mas sem perder o toque humano”, explica Jean Christophe, CEO da marca e da divisão de relógios da LVMH.

Criada em 1884 no coração de Roma pelo grego Sotirio Bulgari, a evolução da Bvlgari é uma política de equilíbrio entre os tempos. Seu próprio nome, escrito com a letra “V”, faz referência a antigas inscrições em latim gravadas em mármore nos monumentos da Antiguidade. Já seus pés no futuro moram no metaverso e em projetos que procuram provocar desejos nas futuras gerações de consumidores. Entre eles está o Infinito, um aplicativo imersivo com a assinatura do artista digital Refik­ ­Anadol. Nele, os usuários podem interagir com as joias da casa e caminhar livremente pelas icônicas vias romanas.

A recém-inaugurada Manifattura, perto de Milão: título de maior fábrica de joias do mundo e projeto focado em sustentabilidade. (Bvlgari/Divulgação)

É desse vasto universo de ação que resulta a estratégia da marca dentro da atualmente desafiadora indústria de luxo. No relatório do primeiro trimestre de 2025, o grupo LVMH reportou crescimento do setor de joalheria e relo­joaria de 1% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto outras marcas apresentaram queda nas vendas.

O allure em torno da grife também se confunde — e se alimenta — com os 141 anos de vida de uma marca que é sinônimo da dolce vita italiana. Diziam que Liz Taylor não tirava suas joias da marca nem nos sets de filmagem de Cleópatra. Sophia Loren também não abandonava as suas, mesmo quando ia a caminho da principal butique da grife na Via ­Condotti, coração de Roma. Hoje, Zendaya, Anne Hathaway e Lady Gaga são os rostos do label e as escolhas perfeitas para exibir as criações de alta joalheria da grife pelos red carpets afora. Todas, por sinal, também marcam presença em imensos cartazes que decoram os amplos corredores da nova fábrica de Valenza. E, em tempo, dividem a cena com outro detalhe interessantíssimo que separa os ambientes: uma espécie de grandes capachos-aspiradores que sugam a poeira do solado dos calçados dos funcionários da casa e dos ilustres visitantes. A ideia é recuperar qualquer resquício de ouro — fruto de processos de fundição, polimento ou gravação — que, porventura, voe pelos ares e caia sobre o precioso chão dos headquarters da empresa.

O anel Serpenti de ouro 100% certificado que serve como base para as criações das joias da maison (Matteo Carassale/Divulgação)

Além das celebridades, criações icônicas sempre foram o segredo do fascínio da vasta clientela da Bvlgari, espalhada de Capri a Xangai. Que também se hospeda em algum dos 13 hotéis com a assinatura Bvlgari e se derrete diante de suas joias de vestir inconfundivelmente atuais. A linha Serpenti, por exemplo, criada ainda na década de 1940 e inspirada na mitologia romana e nas pulseiras helenísticas, é um desses marcos. Isso vale também para as pulseiras Tubogas, flexíveis e com contornos arredondados, que fazem alusão ao formato dos tubos transportadores de gás dos anos 1920.

A alta relojoaria, com destaque para o Octo Finissimo, feito de titânio e em homenagem à arquitetura romana, é outro dos louros da casa, além de uma verdadeira inovação da relojoeira graças à sua espessura milimétrica. Já os artigos de couro precioso, muitos deles de píton ou de crocodilo, saem do ateliê de Florença.

A prova do espírito pioneiro e da atemporalidade da Bvlgari está imortalizada na história e nas palavras de Andy Warhol, um dos artistas mais importantes e polêmicos do século 20. “Quando estou em Roma, sempre visito a Bvlgari, porque é o museu mais importante de arte contemporânea”, costumava dizer. E assim segue sendo, 35 anos depois. O retrato de uma grife que atravessa gerações e segue cobrindo o mundo de cores e glamour.

Camila Lima, de Valenza. A jornalista viajou a convite da Bvlgari.

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