Revista Exame

O teste da realidade pega o Brasil de mau jeito

De acordo com a propaganda oficial, o Brasil era, até há pouco tempo, um fenômeno de sucesso sem paralelo na história. O problema, para o governo, é que não se pode esconder a verdade indefinidamente

Dilma Rousseff: qualquer que seja o crescimento do PIB que ela entregue, será pouco para as necessidades do país (Miguel Rojo/AFP Photo)

Dilma Rousseff: qualquer que seja o crescimento do PIB que ela entregue, será pouco para as necessidades do país (Miguel Rojo/AFP Photo)

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Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2013 às 22h32.

São Paulo - Estaria o ano de 2013, na economia, já perdido para o governo da presidente Dilma Rousseff? A resposta mais sensata a essa pergunta é que, em dezembro deste ano, ela será substituída por outra, muito parecida: 2013 foi um ano perdido para o governo? O que muda é o tempo do verbo.

No mais, teremos o habitual discursório para debater se um crescimento de 1,5%, 2% ou 2,5% no PIB foi bom, médio ou ruim — como se houvesse alguma grande diferença, nas realidades efetivas do Brasil, entre tais números ou outros do mesmo porte. O fato que verdadeiramente importa, seja lá qual for a cifra final de 2013, é que a economia está num pedaço de mau caminho.

Pior: continua no mesmo mau caminho em que patina há mais de dez anos, e que ações de pura marquetagem produzidas pela máquina oficial de propaganda têm conseguido esconder durante esse tempo todo do público em geral, dos meios de comunicação e mesmo da maioria das cabeças pensantes do país. 

Os números do momento, sem dúvida, são mais do que desconfortáveis. O último deles, divulgado no começo de julho, atesta que agora em maio a economia encolheu 1,4% em relação a abril. Trata-se de um certo IBC-Br, índice do Banco Central, que acrescentou outra informação: nos últimos 12 meses, o PIB cresceu apenas 1,9%, indicando que o crescimento do ano todo de 2013, se não houver uma vigorosa mudança no segundo semestre, ficará abaixo de 2%.

É menos da metade do que o governo anunciava em janeiro. Não existe, na verdade, nenhum prognóstico animador. Um dos mais bonzinhos é o do FMI, justo ele, que fala em crescimento de 2,5% para o ano. O próprio Banco Central contenta-se em prever 2,7% — e não existe no horizonte visível nenhum fato concreto que permita esperar coisa muito diferente.

Não há nada de bom nessa salada. Qualquer que seja o crescimento do PIB em 2013, será pouco — e isso quer dizer, no fim das contas, que a economia brasileira simplesmente não está funcionando de maneira a atender às necessidades da população.

São necessidades desesperadas, urgentes e concretas, ligadas às condições de vida infernais do dia a dia da maior parte dos brasileiros; some-se a isso a exasperação com a roubalheira, o descaso e a incompetência sem limites do governo, e o que se tem é uma explosão como a do mês de junho. 


O que o governo Dilma Rousseff está recebendo, agora, é a conta a pagar por mais de dez anos de mentira, durante os quais acreditou que seria possível mentir para sempre. Ainda há pouco falavam que o Brasil, graças ao gênio do ex-presidente Lula, era um fenômeno de sucesso sem paralelo na história econômica mundial.

Teríamos “índices chineses” de crescimento. A transposição das águas do rio São Francisco seria a maior realização da engenharia humana desde as pirâmides do Egito. O governo do PT estaria fazendo uma das maiores transferências de renda para os pobres já vista na história. O petróleo do pré-sal levaria o Brasil à Opep — e por aí se vai. Mas não havia nada disso no mundo real.

Em dez anos, de 2003 até agora, o Brasil passou uma única vez o crescimento anual de 7% na economia, em 2010 — quando teria de crescer no mínimo 7,5% ao ano, durante pelo menos uma ou duas décadas, para mudar de verdade.

Ao longo de toda a gestão Lula-Dilma, a partir de 2003 e incluindo-se o ano de 2013 — com as previsões em vigor —, o Brasil cresceu, em média, 3,7% ao ano, apesar de toda a explosão no desenvolvimento mundial.

É metade do que precisamos. É menos que o resultado da América Latina como um todo, muito menos que o dos países “emergentes” e ainda menos que o dos Brics, onde o Brasil figura em último lugar, disparado. A transposição de águas não transpôs água, mas apenas verbas. No caso do petróleo do pré-sal, venderam a pele do urso antes de matarem o urso, e hoje nem sabem mais direito onde está o urso. 

É esse o problema com a verdade. Um dia ela aparece.

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