Revista Exame

O surfista e a simbiose à frente da digitalização da Mormaii

Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, buscou na biologia a inspiração para levar sua empresa, a fabricante de artigos esportivos Mormaii, ao varejo multicanal

Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii: foco no espírito da marca (Eduardo Marques/Tempo Editorial/Divulgação)

Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii: foco no espírito da marca (Eduardo Marques/Tempo Editorial/Divulgação)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 12 de março de 2020 às 05h30.

Última atualização em 12 de março de 2020 às 05h30.

Aos 72 anos, o médico Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo, recorre a seus conhecimentos de biologia para explicar a digitalização da Mormaii, fabricante de roupas esportivas que fundou há 40 anos em Garopaba, no litoral sul de Santa Catarina. “A tecnologia é como a mitocôndria, um corpo estranho ao nosso, com DNA próprio, que vive em simbiose conosco”, diz.

Para Morongo, fã de obras de evolução e de distopias, o predomínio das máquinas sobre os seres humanos é inevitável. E a única saída para as companhias que não queiram ficar pelo caminho — e, num tom mais alarmista, para toda a humanidade — é atuar em simbiose com os robôs. A lição das mitocôndrias, acredite, fez a Mormaii ser uma das varejistas mais avançadas do Brasil na integração entre os canais de venda físico e digital.

A Mormaii foi criada em 1976, quando Morongo, médico, se mudou para Garopaba e precisou costurar à mão roupas de borracha para surfar nas águas geladas durante o inverno. As roupas de borracha ainda são fabricadas em oficinas na sede da companhia, de forma essencialmente artesanal, e podem custar facilmente mais de 1.000 reais.

Mas a receita da companhia, estimada em 350 milhões de ­reais, vem da variedade: são 30 linhas de produtos, que incluem chinelos, camisetas, capacetes, malas, suplementos, energéticos, bicicletas. Quem analisa a entrada em novos nichos de negócio, por licenciamento, ainda é Morongo. “Começamos num nicho, consolidamos uma história e só então começamos a expandir”, diz Morongo. “Não há limite para a variedade de produtos, o que não pode é perder a qualidade e o espírito da marca.”

A força da marca está baseada em sustentabilidade e qualidade de vida, dois conceitos que acompanham a empresa desde seu início. Quatro décadas mais tarde, auxiliam a Mormaii a se destacar no mar aberto da internet. “Temos uma marca difícil de ser copiada, o que tem nos ajudado a superar competidores muito maiores não só na internet como também nas lojas ­físicas”, afirma Sacha Juanuk, diretor de marketing da companhia. É ele o responsável por levar a empresa para o varejo online nos últimos três anos. A premissa da Mormaii é que tanto a empresa quanto seus franqueados e revendedores ganhem com os pedidos feitos online.

De Garopaba, Juanuk, habituado a trabalhar de chinelos, comanda um azeitado processo de venda que integra as lojas físicas aos estoques. O primeiro a topar a ideia de distribuir de sua loja as compras feitas online foi um franqueado na cidade de Joinville, em Santa Catarina, em 2017. Os pedidos realizados em sua região passaram a ter o preço cotado partindo de diferentes pontos: centro de distribuição da Mormaii, centro de distribuição do fabricante ou loja mais próxima. Hoje, 60% das 23 lojas da Mormaii são também distribuidoras de produtos comprados online.

A meta é expandir o número de unidades para 60 em dois anos. Além disso, a companhia passou a selecionar no ano passado outro tipo de franqueado: pessoas que constroem pequenos galpões apenas para atender à demanda das compras online feitas na região. O estoque avançado pode ser até um cômodo de uma casa. Até agora, a Mormaii tem nove dessas estruturas, chamadas docas, mas a meta é ter uma por estado em dois anos. O próximo passo é integrar as surf shops multimarcas à estrutura.

Seria o último passo da integração dos canais da Mormaii — aquele processo conhecido pelos consultores de varejo como omnicanalidade. Mas Morongo e Juanuk preferem mesmo chamar de simbiose entre homem e máquina. “A invasão da tecnologia vai trazer mudanças genéticas, órgãos artificiais, algoritmos aprendendo até a alma e a cultura da empresa. Vai ser punk”, diz Morongo. “Esse é um desafio de todos nós e de todas as empresas.” Para além da Mormaii, o empresário está construindo um iate de 70 pés com baterias de íon lítio e um avião de carbono que pousa e decola na água — os dois supereficientes em energia e prontos para qualquer tragédia. O mundo está mudando, e Morongo, definitivamente, não quer esperar para ver.

Acompanhe tudo sobre:ModaRoupasSurfeVarejo

Mais de Revista Exame

Aprenda a receber convidados com muito estilo

"Conseguimos equilibrar sustentabilidade e preço", diz CEO da Riachuelo

Direto do forno: as novidades na cena gastronômica

A festa antes da festa: escolha os looks certos para o Réveillon