Lei Jun, CEO da empresa chinesa Xiaomi, fala durante lançamento do Xiaomi Phone 2: concorrente do iPhone (Jason Lee/Reuters)
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2013 às 17h32.
São Paulo - A China ocupa há anos a primeira colocação no ranking dos países que mais fabricam produtos piratas, mas mesmo para os padrões de uma economia acostumada a copiar, o caso de Lei Jun, empreendedor chinês de 43 anos, é peculiar.
Dono da Xiaomi Technologies, fabricante de smartphones com faturamento de 2 bilhões de dólares, Jun é um cover do americano Steve Jobs, criador da Apple, morto em 2011.
Assim como o inventor do iPhone, ele veste calças jeans, camiseta preta e tênis. Suas apresentações são performáticas, com slides e iluminação característica dos eventos de lançamento da empresa com sede em Cupertino, na Califórnia. Parte dos analistas que seguem o mercado de tecnologia chinês chega a chamar a Xiaomi de “mini-Apple”.
A ironia de tudo isso é que Jun é um dos representantes de uma nova fase da economia chinesa, mais criativa e mais inovadora.
Jun imita o estilo e a estratégia de Jobs, não seus produtos — apesar de sua obsessão copiadora, até agora não foi acusado de pirataria. O empreendedor chinês investe em pesquisa e desenvolvimento e tem se mostrado um mestre em ações de marketing.
Seus celulares, chamados de Mi, têm um design que lembra o do iPhone, mas com opções de cores chamativas, o que agrada principalmente ao público jovem.
Vendidos apenas pela internet e em quantidades limitadas, são alvo de um grande alarde na pré-venda. Não é raro ver lotes com 50 000 unidades esgotar-se em poucos minutos, criando um frisson parecido com o da venda de ingressos para shows disputados.
A essa sensação de exclusividade soma-se o fato de a Xiaomi, avaliada em 4 bilhões de dólares, fabricar bons produtos a preços acessíveis. O Mi 2, lançado em agosto de 2012, tem desempenho similar ao do iPhone 5, da Apple, mas custa metade do valor.
A explicação para a diferença está no lucro. Enquanto o iPhone tem margem de 60%, o lucro da Xiaomi é de apenas 10%. “Jun bolou uma forma de distribuir e divulgar seus produtos que criou uma legião de fãs da sua marca”, diz o americano James Roy, diretor da consultoria China Market Research Group, de Xangai. “Nesse sentido, ele se parece com Jobs.”
Exageros à parte, Jun é visto como um dos homens mais inovadores da China. Em 1998, aos 28 anos, ele fundou em Pequim o site de comércio eletrônico Joyo. A loja virtual tornou-se uma das mais populares do país e acabou sendo comprada pela Amazon, em 2004, por 75 milhões de dólares.
Jun passou a investir em outras empresas de tecnologia, como o site de jogos YY, que abriu o capital na bolsa americana Nasdaq no ano passado. Sua fortuna pessoal é calculada em 1,8 bilhão de dólares. Diferentemente da maioria dos bilionários chineses, Jun é carismático. Passa parte do dia respondendo a seus 4 milhões de seguidores no Weibo, rede social chinesa nos moldes do Twitter.
Ruptura com o passado
A China ultrapassou os Estados Unidos há dois anos como o país com a maior produção industrial do mundo. Motivo de comemoração por parte do Partido Comunista, o feito também serviu para lembrar à cúpula chinesa que falta sofisticação aos produtos das empresas locais.
No Global Innovation Index, ranking anual realizado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual, em parceria com a consultoria Booz, a China aparece em 34o lugar — a Suíça é a primeira colocada e os Estados Unidos estão na décima posição.
Disposto a abandonar a imagem de fábrica de quinquilharias, o país tem aumentado os investimentos na produção de conhecimento e incentivado o surgimento de empreendedores como Jun. Embora não revele o valor aplicado em pesquisa e desenvolvimento, a startup chinesa contratou recentemente Zhou Guangping, que até 2011 era o chefe da área de inovação da Motorola na Ásia.
Jun está otimista e tem motivos para isso. Segundo a consultoria americana Gartner, o mercado de smartphones na China deverá ultrapassar o dos Estados Unidos pela primeira vez neste ano. Até onde a vista alcança, a maior ameaça à startup mais badalada da China é a concorrência interna.
A Huawei e a ZTE, as duas maiores fabricantes de smartphones locais, já estão de olho nele. Consultores de tecnologia esperam que elas sigam sua estratégia de marketing agressivo e preços baixos. “É sempre bom lembrar: se há uma coisa que os chineses fazem bem é copiar”, diz o americano David Wolf, diretor da consultoria de marketing Allison+Partners na China.