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O smart money vai ficar mais smart: qual será a cara do corporate venture capital, o CVC, em 2024

Em vez de apenas virar sócia de startups e comprar a tecnologia delas, as grandes empresas querem replicar sua cultura

Daniel Ely, vice-presidente executivo da Randon: indústria gaúcha tem hub de inovação e ajuda startups (Alex Battistel/Divulgação)

Daniel Ely, vice-presidente executivo da Randon: indústria gaúcha tem hub de inovação e ajuda startups (Alex Battistel/Divulgação)

Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 06h00.

A simbiose entre startups e grandes empresas ficará ainda mais aprofundada no Brasil em 2024. Após dois anos de investidores do venture capital reticentes em assinar cheques a negócios ainda incipientes, a saída encontrada por muitos “startupeiros” foi recorrer ao crédito oriundo de grandes corporações. 

Chamado de corporate venture capital, ou CVC, esse tipo de financiamento costuma sair do papel quando uma empresa de grande porte tem interesse numa tecnologia criada por uma startup e que demoraria muito tempo para ser desenvolvida dentro de casa.

Para além de ser sócia, a grande empresa pode virar cliente da start­up ou mesmo apresentar novos clientes. Não é raro os times de investidora e investida trabalharem em conjunto em programas de inovação aberta. É, também, uma chance de ouro para grandes empresas fisgarem talentos.

Em meio ao inverno das start­ups, o corporate venture capital está bombando no Brasil. Os dados mais recentes, de 2022, indicam aportes desse tipo que somam 925 milhões de dólares, de acordo com levantamento do Distrito, uma plataforma com dados sobre startups. O número é mais que o triplo do patamar de 2020, quando esses investimentos somaram 261 milhões de dólares. O período coincidiu com a abertura de 70% dos fundos para CVC com atuação no país.

Em 2024, para além de servir de boia a empreendedores ávidos por recursos, o CVC ganhará importância como fonte de in­sights para a estratégia das start­ups. É uma mudança importante na relação de poder entre startups e corporações.

Até pouco tempo, era comum entre executivos de corporações o desejo de copiar o modo de gestão das startups. Após a crise de o venture capital derreter o valor da grande maioria das empresas de tecnologia, agora são as startups que estão calçando a sandália da humildade e prestando mais atenção aos modelos de negócios das corporações.

Quem já está com o novo 'mindset'

No fundo, ambos estão falando a mesma língua com mais frequência. “Avançamos em relação às expectativas de ambos os lados para a geração de valor entre corporações e startups”, diz Leo Monte, presidente da Associação Brasileira de Corporate Venture Capital, criada em novembro de 2023 na esteira do boom desse tipo de investimento.

O alinhamento de expectativas é um passo importante. Muitos programas de inovação aberta morrem na praia pela falta de compreensão da liderança das corporações sobre o que esperar das startups — e em quanto tempo chegam os resultados. Nos Estados Unidos, 31% dos CVCs foram dissolvidos entre 2020 e 2023, de acordo com dados de Ilya A. Strebulaev, professor da Universidade Stanford dedicado ao tema. A desconexão entre as partes é a principal causa para o fracasso.

Daqui para a frente, a toada nas grandes empresas é replicar nas start­ups boa parte da cultura corporativa responsável pelo sucesso delas. Em outras palavras, o smart money, jargão das startups para o investidor que tem lugar de fala nos rumos do negócio investido, ficará ainda mais smart. Alguns exemplos disso já estão pipocando aqui e ali.

Um bom exemplo vem da gaúcha Randon, uma das líderes globais em autopeças. A poucos quilômetros da sede da corporação, em Caxias do Sul, a Randon abriu o Conexo, um misto de coworking e universidade para start­ups, como as investidas da Randon Ventures, o braço do grupo para start­ups.

“É uma área para o desenvolvimento de pessoas”, diz Daniel Ely, vice-presidente da Randoncorp, a holding do grupo. “Queremos que as startups venham até nosso espaço, se conectem com nosso ecossistema e consigam se desenvolver conosco.”

Na Ambev, os executivos da companhia são incumbidos da missão de mostrar às startups quais são as áreas de negócio. Na língua do gigante de bebidas, eles viram “padrinhos” dos startupeiros. “Nós temos muitos ativos além de dinheiro para dar às startups, certo? Sentar com o VP da Ambev por 2 horas e tirar dúvidas tem muito valor e nós precisamos desse tempo”, disse Luciana Sater, head de investimentos da Ambev, num evento recente sobre CVC.

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