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Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

O republicano volta ao poder com a promessa de fazer mudanças profundas na política internacional e nos Estados Unidos

Donald Trump voltará à Casa Branca em 20 de janeiro de 2025 e promete série de medidas no 1º dia (Jabin Botsford/The Washington Post/Getty Images)

Donald Trump voltará à Casa Branca em 20 de janeiro de 2025 e promete série de medidas no 1º dia (Jabin Botsford/The Washington Post/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.

Voltar ao poder depois de perder uma disputa de reeleição é algo que poucos líderes conseguiram. Winston Churchill foi um deles: liderou o Reino Unido na Segunda Guerra Mundial, mas perdeu nas urnas depois de vencer o conflito, em 1945. Ele retornou ao cargo em 1951 e ficou por quatro anos. Outro político que conseguiu uma reviravolta assim foi Donald Trump.

Ele perdeu a reeleição em 2020, venceu em 2024 e agora se prepara para reassumir a Casa Branca, em 20 de janeiro de 2025. Trump diz que não vai perder tempo e assinará ordens executivas, já no primeiro dia, para colocar em prática suas promessas de campanha. Muitas delas devem sacudir a economia americana e o cenário internacional, como impor tarifas de importação, deportar milhões de imigrantes irregulares e expandir a extração de petróleo, além de retirar os Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris e reduzir a ajuda militar à Ucrânia (leia mais sobre as guerras aqui). 

No fim de novembro, Trump anunciou que pretende impor tarifa extra de 25% sobre todos os produtos do México e do Canadá que entrarem no país, e de 10% sobre os da China. Ele disse que as taxas serão mantidas até que os países vizinhos tomem medidas contra a imigração ilegal e o tráfico de fentanil. Especialistas afirmam que a medida, caso efetivada, deverá ampliar a inflação nos Estados Unidos, que depende muito de importações chinesas, mas pode gerar queda de preços em outros países.

“A China vai continuar tendo uma grande quantidade de produtos, que se não forem para os EUA irão para outros países. Poderá ter um efeito desinflacionário para esses países, incluindo o Brasil”, diz Malcolm Dorson, estrategista-chefe de mercados emergentes da gestora americana Global X, de Nova York. “Nos EUA, a menos que a economia esfrie por outras razões, uma alta de preços vai desacelerar a velocidade do corte de juros do Fed.”

Daniel Popovich, gerente de portfólio da gestora de investimentos americana Franklin Templeton, concorda que o Fed pode desacelerar a queda de juros, mas avalia que a economia americana tem demonstrado uma “resiliência impressionante” ao evitar uma recessão e se manter aquecida mesmo com juros altos. “A inflação está caminhando em direção ao que o Fed busca, em um cenário de alta dos salários reais, o que traz a perspectiva de um crescimento resiliente, que deve continuar”, disse Popovich, durante um evento da Mirae Asset.

Na campanha, Trump defendeu a queda dos juros mais rapidamente, mas o Fed tem independência nos EUA. O presidente do Fed, Jerome Powell, tem mandato até maio de 2026. Após declarações que sugeriram alguma interferência de Trump no Fed, o republicano recuou recentemente e disse que não pretende agir para removê-lo do cargo. Por fim, Trump também defende ampliar a exploração de petróleo nos Estados Unidos como forma de baixar os preços da energia — e a inflação. 

Retaliações à vista

Um ponto em aberto é como os outros países responderão se as novas tarifas forem de fato adotadas. A resposta pode estar no passado recente. Em seu primeiro mandato (2017-2021), Trump ampliou barreiras contra a China.

Em resposta, o país reduziu a compra de produtos agrícolas americanos. O total exportado dos EUA para a China no setor caiu de 24 bilhões de dólares em 2014 para 9,1 bilhões de dólares em 2019. Em 2023, esse valor foi de 18,5 bilhões de dólares.

Isso pode abrir espaço para que a China compre mais produtos do Brasil. Em novembro, o presidente Xi Jinping visitou Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília e ambos trataram de novas parcerias, como a ampliação da exportação de café brasileiro.

Há, porém, o risco de que Trump decida impor tarifas a produtos do Brasil. Roberto ­Uebel, professor de relações internacionais da ESPM, lembra que o país já teve de lidar com pressões assim. Em 2019, o republicano anunciou subitamente que aumentaria tarifas sobre o aço e o alumínio do Brasil, mas recuou da medida em duas semanas, depois de conversar com o então presidente Jair Bolsonaro.

“Acho que o Brasil está mais preparado hoje para amortecer esse tipo de política e há tempo para buscar outros parceiros comerciais”, diz Uebel. Um exemplo disso foi o avanço do acordo entre União Europeia e Mercosul, fechado no começo de dezembro e que aguarda ratificação pelos europeus.  

Aperto contra a imigração

Na política interna, a imigração deverá ser o centro das atenções. Trump promete deportar milhões de estrangeiros irregulares, e isso, além de afetar a vida dessas pessoas, trará desafios econômicos ao diminuir a oferta de mão de obra em funções básicas. O desemprego no país está baixo, na faixa de 4%. Além disso, os imigrantes consomem muito nos EUA, o que também poderia gerar uma crise se milhões de pessoas subitamente desaparecessem do país.

Mesmo assim, o novo presidente deixou claro que pretende avançar com a medida e nomeou para o governo várias pessoas que defendem linha dura contra estrangeiros, como Tom Homan, que integrou sua primeira gestão e será um “czar das fronteiras”, como disse Trump, com a missão de apertar a segurança e organizar deportações.

Ao formar sua equipe de governo, Trump se concentrou em escolher aliados fiéis, que deixaram clara a lealdade em momentos difíceis. Ele indicou Pam Bondi como procuradora-geral, que integrou sua equipe de advogados durante o primeiro processo de impeachment, em 2019, do qual foi absolvido pelo Senado.

Para chefiar o FBI, nomeou Kash ­Patel, que já afirmou que Trump deveria usar instituições de governo para perseguir opositores e a imprensa. “Vamos atrás das pessoas na mídia que mentiram e ajudaram Joe Biden a roubar as eleições presidenciais”, disse ele, em um podcast, antes de ser nomeado. 

As indicações ainda precisam ser confirmadas pelo Congresso, sob controle republicano nas duas Casas, mas por margens estreitas, uma situação similar à de seu primeiro mandato. Isso o impede de aprovar medidas radicais, como a de liberar um terceiro mandato. A lei americana permite apenas dois mandatos por pessoa. “A novidade em 2028 é que não teremos Trump na disputa. Teremos a próxima corrida presidencial começando em janeiro, porque as forças do Partido Republicano vão se unir para ver quem liderará o próximo ciclo presidencial”, diz Mauricio Moura, professor na Universidade George ­Washington.

Moura lembra que segundos mandatos costumam ser mais difíceis e de menos resultados do que os primeiros. Foi assim com o republicano ­George W. Bush, reeleito em 2004, mas que não conseguiu fazer o sucessor, e o democrata Barack Obama, reeleito em 2012 e que viu sua candidata perder em 2016, justamente para Trump. Mesmo Churchill enfrentou um segundo mandato problemático, que deixou poucas lembranças. Trump tentará, mais uma vez, fazer algo inédito na história.

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