Revista Exame

O carrinho Smart ficou para depois

Com a demanda por modelos de luxo em alta, a Mercedes vê as vendas do minicarro Smart despencar no país — e prepara uma reação tardia diante da concorrência

Loja do Smart em São Paulo: o modelo à venda hoje chegou com sete meses de atraso às lojas brasileiras (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

Loja do Smart em São Paulo: o modelo à venda hoje chegou com sete meses de atraso às lojas brasileiras (Alexandre Battibugli/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2011 às 08h00.

São Paulo - As primeiras unidades do Smart, modelo ultracompacto da alemã Mercedes-Benz, chegaram ao Brasil em abril de 2009 com a dura missão de ajudar a melhorar as receitas da operação local num contexto desfavorável.

Com histórico de sucesso de vendas na Europa, onde fora lançado uma década antes, o carrinho veio num momento em que os resultados da empresa estavam abalados pela baixa demanda de caminhões e ônibus logo após a crise financeira. O modelo cumpriu a função, mas apenas nos meses seguintes à sua estreia.

Até dezembro de 2009, o Smart vendeu mais de 1 000 unidades, o dobro do planejado por seus executivos, e fez a companhia ampliar a abertura de lojas — de duas revendas em São Paulo para oito no país. Desde meados do ano passado, porém, a tendência inverteu.

As vendas do Smart, que hoje representam 13% do volume de automóveis vendidos pela Mercedes-Benz no país, recuaram quase 30% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2010. Em julho, foram vendidos 88 carros, 47% menos que no mês anterior.

A queda num mercado em ebulição — o Brasil é o quarto maior do mundo no setor — contrasta com o próprio resultado da companhia. Tanto o segmento de automóveis como o de caminhões cresceram, respectivamente, 16% e 6% nos primeiros seis meses deste ano.

Os executivos da Mercedes dizem que tudo não passa de uma reação natural após a euforia do lançamento. “O brasileiro ainda está entendendo o conceito do carro”, diz o diretor de vendas da Mercedes-Benz do Brasil, Dimitris Psillakis. “É um processo que demanda tempo.”

Mas muita gente discorda dele, a começar pelos revendedores. Segundo alguns deles, boa parte do problema está na falta de barulho em torno da marca. De acordo com essa visão, a empresa deixou o modelo de lado em meio às vendas crescentes de carros de luxo.

“Depois de atender à demanda reprimida dos admiradores do carro, é preciso agora chegar aos consumidores que ainda nem conhecem a marca”, diz o empresário Fábio de Nigris, que — insatisfeito com os resultados — vendeu em maio sua parte na loja do Smart no bairro dos Jardins, em São Paulo, para o sócio, Cássio Saddi.


Até agora, a montadora alemã concentrou seus investimentos de marketing em ações pontuais voltadas para públicos específicos, como nos desfiles da São Paulo Fashion Week ou em galerias de arte.

Torná-lo mais conhecido é uma tarefa importante, sobretudo por tratar-se de um carro incomum. Com 2,69 metros de comprimento, espaço para apenas duas pessoas e motor 1.0, o modelo é o menor veículo de passeio do mundo.

A primeira campanha nacional da marca vai começar neste semestre, veiculada em televisão e cinemas a partir de agosto. Os anúncios irão divulgar a linha 2011, que passou por uma leve rees­tilização com a introdução de faróis de LED diurnos e rádio com GPS. Na opinião de revendedores, o esforço em torno de um modelo que não é propriamente novo vem tarde.

O modelo 2011, que estava à venda em outubro do ano passado em países como França e Itália, foi lançado apenas em maio deste ano no Brasil. “Sem novidade nas lojas, sentimos o impacto nas vendas”, diz André Frare, sócio-diretor da Smart Center Batel, revenda da marca de Curitiba.

No caso dos modelos de luxo da Mercedes, o intervalo entre o lançamento europeu e o brasileiro tem sido de, no máximo, três meses. Esse é o caso do Classe C Turbo, que, no primeiro mês nas concessionárias do Brasil, em junho, vendeu 560 unidades — quase o mesmo volume atingido pelo Smart em todo o primeiro semestre deste ano.

Concorrentes

Sem outras novidades previstas para este ano, o Smart enfrentará uma concorrência acirrada. Com preços entre 49 000 e 70 000 reais, a marca concorre com o líder da categoria de minicarros de luxo, o Mini Cooper, da alemã BMW.

Em junho, a BMW trouxe uma linha mais barata do Mini Cooper, ao preço de 69 000 reais, 10 000 a menos que a opção de entrada até então disponível nas lojas.


No primeiro semestre, a montadora já vendeu 65% mais do que no mesmo período de 2010 — num total de 1 255 unidades. Em agosto, a Fiat — com o lanterninha ultracompacto Fiat 500, que vendeu apenas 300 unidades no primeiro semestre — passará a vender no Brasil uma nova versão de seu carro, importado do México por 40 000 reais.

É um valor 30% mais barato que o atual, vindo da Polônia. “No final, todos disputam o mesmo público: pessoas com alto poder aquisitivo que querem um brinquedo de luxo”, diz Julian Semple, da consultoria Carcon Automotive, especializada no setor automotivo. “A diferença — para o bem e para o mal — é que o Smart é um carro para duas pessoas.”

A dificuldade da Mercedes com seu minicarro não é exclusividade do Brasil. Nos Estados Unidos, houve um efeito ainda mais dramático. As vendas despencaram de 25 000 unidades em 2008 para 5 000 no ano passado. Desde então, a operação passou por uma intensa reformulação, com o fechamento de 21 de suas 79 lojas no país.

“Com dois lugares, o Smart está no extremo oposto do gosto americano pelos carrões”, diz Stefan Bratzel, diretor do Centro de Estudos Automotivos da Universidade de Bergisch Gladbach, na Alemanha.

Parte da questão, atrelada às características do carro, deverá ser resolvida em 2014, quando a montadora pretende lançar em parceria com a nipo-francesa Renault-Nissan uma nova geração do Smart, com quatro lugares.

No primeiro ano, a meta é produzir 350 000 unidades do sucessor do Smart — mais que o triplo do que a versão original vendeu em toda a sua história. Até lá, no entanto, é com o carrinho de dois lugares que a Mercedes terá de conquistar espaço.

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