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Da Redação
Publicado em 9 de março de 2011 às 18h20.
Uma minúscula ilha do Sudeste Asiático é o exemplo mais eloqüente de como uma política de abertura comercial pode gerar prosperidade. Com pouco mais da metade da área da cidade do Rio de Janeiro e uma população de apenas 4,4 milhões de habitantes, a República de Cingapura, também conhecida como "a Londres do Oriente", tem renda per capita de 25 000 dólares (quase oito vezes maior que a brasileira), uma das mais avançadas indústrias de produtos eletrônicos do planeta e uma economia completamente integrada ao mundo.
Em 2005, voltou ao primeiro lugar no ranking de globalização da consultoria A.T. Kearney, que avalia o grau de integração nas áreas econômica, política, tecnológica e pessoal em 62 países (no mesmo levantamento, o Brasil aparece numa modestíssima 57a posição). O pri meiro levantamento do gênero foi feito em 2001, com Cingapura na liderança. Nos últimos anos, o país perdeu algumas posições, mas retomou a dianteira agora, depois de receber 16 bilhões de dólares de investimentos externos diretos.
Para o Brasil, que está apenas engatinhando no comércio internacional, a vida em Cingapura parece um enredo de livro de ficção científica. Enquanto o governo de Lula não consegue desatar os nós comerciais nem com os vizinhos do Mercosul, a ilha do Sudeste Asiático já assinou nos últimos anos seis acordos de livre comércio -- tanto com blocos comerciais como com países em separado. Em 2003, tornou-se a primeira nação asiática a fechar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos. No momento, negocia parceria semelhante com outros cinco países.
Os reflexos dessa política de abertura são visíveis no dia-a-dia. Grande parte dos habitantes da ilha fala inglês ou já estudou no exterior. Um em cada três trabalhadores é estrangeiro. Das quase 7 000 multinacionais que operam na Ásia, cerca de 4 000 têm suas bases regionais localizadas em Cingapura. O Aeroporto de Changi, considerado um dos melhores do mundo pelos serviços e pelas instalações, registra uma média de 3 700 vôos por semana para mais de 50 países. Cerca de 80 companhias aéreas operam em seus dois terminais carregando 30 milhões de passageiros por ano (quase o triplo que o Aeroporto de Cumbica, em São Paulo).
Um dos fatores determinantes para esse clima de prosperidade é a abertura para o comércio internacional. "O governo de Cingapura sempre fez de tudo para facilitar investimentos, importações e exportações", diz Simon Bell, diretor da divisão Global Business Policy Council, da A.T. Kearney. Quase 99% dos produtos importados em Cingapura são isentos de imposto. Sem barreiras, o movimento de comércio é incessante. Diariamente, saem de Cingapura cerca de 90 embarcações. No ano passado, o porto registrou o maior volume transportado do mundo, mais de 390 milhões de toneladas.
A relação de Cingapura com o comércio internacional é histórica. Desde que foi colonizada pelos britânicos, no século 19, já servia de entreposto comercial. Localizada num dos estreitos que ligam o Oceano Índico a uma das entradas do Pacífico, a ilha era um porto natural para armazenamento e processamento de mercadorias destinadas a países do Sudeste Asiático. Essa abertura comercial teve apenas uma breve interrupção. Foi durante o começo da década de 60, quando a regra geral para os países emergentes era a de fechar as portas para desenvolver as indústrias nacionais.
Cingapura também seguiu a cartilha. Mas, diferentemente do que ocorreu em outros países, o então primeiro-ministro Lee Kuan Yew deixou clara a intenção de que o período de substituição das importações era temporário e não serviria para proteger nenhum grupo em especial. "A situação das indústrias era reavaliada a cada seis meses. Caso não tivessem avançado, as barreiras eram removidas", explica Arvind Panagariya, professor de economia da Universidade de Columbia, em Nova York. No início dos anos 70, Cingapura já estava praticamente de volta à política de livre comércio que impera hoje.
Nos últimos 35 anos, a ilha teve um desenvolvimento espetacular. A renda per capita passou de 914 dólares, em 1970, para os atuais 25 000 dólares. Com isso, Cingapura deixou de ser uma nação de Terceiro Mundo para se juntar ao clube dos países mais desenvolvidos. As primeiras indústrias foram na área têxtil e no refino de petróleo. Hoje, a economia está bem diversificada. A principal indústria é a de eletrônicos, sobretudo semicondutores e discos rígidos.
Outros grandes setores são o naval e o petroquímico. Nos últimos anos, a indústria farmacêutica também começou a ganhar espaço e já representa 8% da receita industrial. Grandes laboratórios, como Novartis e Eli Lilly, instalaram centros de pesquisa e desenvolvimento na ilha. A mais recente investida de Cingapura é no setor de cassinos. No início de 2005, a atividade foi liberada. Serão construídos nos próximos anos dois empreendimentos no estilo de Las Vegas, com investimentos de 4 bilhões de dólares. Assim é que funciona o jogo da globalização.