(Yulia Reznikov/Getty Images)
Mariana Desidério
Publicado em 23 de abril de 2020 às 05h00.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 14h37.
A pandemia da covid-19 transformou a vida do empresário João Adibe Marques, presidente da farmacêutica Cimed, em uma montanha-russa. De uma hora para a outra, a matéria-prima importada de países como China e Índia tornou-se praticamente inacessível devido ao isolamento social e aos aumentos exorbitantes do preço do frete. Por aqui, o desafio era manter as fábricas funcionando e, ao mesmo tempo, garantir a segurança dos funcionários.
Em 31 de março, mais um desafio: o governo adiou por 60 dias o aumento de preços dos medicamentos. Com as más notícias, porém, veio uma oportunidade. A venda de vitaminas — um dos principais itens no portfólio da empresa — explodiu com a pandemia. Para Marques, passada a crise, o brasileiro deve continuar a se preocupar mais com a saúde, e a Cimed estará pronta para atendê-lo. “Vamos surfar essa onda”, afirma.
O novo coronavírus pegou a Cimed em uma transição de posicionamento e acabou por acelerar esse movimento. Fundada há mais de 40 anos, a empresa ganhou espaço com medicamentos genéricos e similares e sempre apostou no preço baixo para competir no mercado. Entre seus principais produtos está o antigripal Cimegripe.
Há cinco anos, começou a produzir também vitaminas e hoje tem a liderança do mercado de multivitamínicos com a marca Lavitan. No final de fevereiro, lançou o Lavitan 5G, um multivitamínico efervescente, primeiro produto desenvolvido internamente. O produto se esgotou em 15 dias. Isso fez com que a Cimed antecipasse outro lançamento, o Lavitan CDZSE. Inicialmente previsto para junho, o produto deve chegar às farmácias no início de maio.
O plano da Cimed é trabalhar cada vez mais com produtos para quem quer ficar mais saudável. “Decidimos virar a bandeira e estamos fazendo uma mudança na estrutura de pensamento da empresa. Agora seremos focados em prevenção”, diz Marques. Desde 2015, os itens de prevenção subiram de 15% para 30% do portfólio da Cimed, que tem 600 produtos. A categoria, que normalmente representa 12% do faturamento da farmacêutica, chegou a 35% em março. A meta é que, em três anos, esses produtos respondam por 50% do negócio.
O mercado de vitaminas movimenta 2,8 bilhões de reais no Brasil e cresceu quase 40% nos últimos sete anos. Em março, quando os casos de coronavírus já se espalhavam pelo país, a procura por vitamina C cresceu 340% em relação a março do ano passado. Hoje, apenas 6% da população consome vitaminas. Ainda não se sabe se a demanda vai continuar alta após a pandemia. Mas o prognóstico de quem acompanha o setor é positivo.
“Tivemos uma venda estrondosa de suplementação com a pandemia. Acredito que esse hábito vai ficar”, diz Edison Tamascia, presidente da Febrafar, federação que reúne associações de farmácias de todo o Brasil. “A Cimed é uma das principais empresas desse setor no país e pode ter um ganho significativo.”
A Cimed faturou 390 milhões de reais no primeiro trimestre do ano, 15% mais do que no mesmo período de 2019. A meta da companhia (traçada antes da pandemia) é encerrar este ano com 2 bilhões de reais em receita e abrir o capital em 2021. Por enquanto, os planos estão mantidos. Caso a crise da pandemia se estenda até o começo de junho, porém, os lançamentos previstos para o segundo semestre deverão ser adiados. Afinal, a Cimed já descobriu que — ainda mais em seu negócio — é melhor prevenir do que remediar.