Revista Exame

MDB fisiológico ficou para trás, diz Baleia Rossi, presidente da sigla, após eleições

Um dos vencedores das eleições municipais, Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, afirma não descartar candidatura do partido para 2026, defende corte de gastos do governo e esforço do Congresso para evitar “desperdícios”

Baleia Rossi, presidente nacional do MDB (Bruno Spada/Câmara dos Deputados/Divulgação)

Baleia Rossi, presidente nacional do MDB (Bruno Spada/Câmara dos Deputados/Divulgação)

Publicado em 21 de novembro de 2024 às 06h00.

“Somos do centro democrático, e não do centrão”, afirma Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, ao ser questionado sobre a vitória de partidos do chamado centrão nas eleições municipais. Com o segundo maior número de prefeitos e governo sobre 37 milhões de brasileiros a partir de 2025, o MDB se coloca longe do “toma lá dá cá” e ressalta que tem uma agenda.

Em uma tentativa de diferenciação do PSD, partido com maior número de prefeitos eleitos nesta eleição, Baleia afirma que os emedebistas elegeram mais mulheres e negros e estão mais conectados com a realidade do país. O deputado não crava se o partido apoiará a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso ele saia candidato, ou um candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está inelegível para o próximo pleito.

O foco, segundo ele, é discutir a possibilidade de candidatura presidencial própria e realizar boas gestões municipais para turbinar o número de deputados. Para ele, a economia será o tema central da disputa em 2026. E nessa lógica Baleia afirma que a sigla apoia a agenda de corte de gastos e declara que o Congresso também deve colaborar cortando desperdícios. “Inclusive no uso de emendas”, diz.

Quando o senhor analisa o resultado da eleição deste ano e o histórico do MDB em eleições municipais, o que ele representa sobre passado, presente e futuro do partido? 

Esse foi um momento muito especial. Conseguimos sair fortalecidos dessas eleições. Hoje, o MDB tem 37 milhões de pessoas sob gestão. Ficamos em segundo lugar em número de prefeituras, mas somos o partido com mais vice-prefeitos e vereadores, com 808 vices e 8.100 vereadores eleitos. Em termos de votos, também lideramos nas cidades onde vamos administrar.

E para além dos números gerais de prefeitos eleitos, qual foi o resultado do MDB quando olhamos para candidaturas de mulheres, pretos e pardos?

Foi um ponto que nos encheu de orgulho. Tivemos 130 mulheres eleitas como prefeitas, liderando em representatividade feminina entre os partidos. Além disso, elegemos 291 prefeitos e prefeitas pretos e pardos, com um número significativo também de vereadores — 3.414. Esse resultado mostra que estamos no caminho certo, conectados com a diversidade do Brasil. Desde 2018, quando tivemos uma queda e passamos de 67 para 34 deputados, conseguimos recuperar espaço em 2022. Hoje, com essa representatividade, vislumbramos um futuro mais inclusivo e conectado com a realidade do país.

E o que o senhor acredita que contribuiu para esse desempenho?

Valorizamos a tradição e a renovação. Desde que assumi a presidência do partido, nosso foco tem sido a renovação democrática, integrando correntes do MDB de todas as regiões. Foi um grande trabalho de unificação, valorizando as lideranças históricas e promovendo novas. Após um período de queda, crescemos em número de deputados, prefeitos, vices e vereadores, o que nos dá uma responsabilidade enorme para 2026.

Como o senhor avalia a vitória dos partidos do centrão nessa eleição?

São duas coisas diferentes: o centrão e o centro democrático. O MDB sempre teve posições claras e independentes, como ao lançar a Simone Tebet em 2022, um posicionamento de centro democrático. Eu, por exemplo, fui candidato à presidência da Câmara contra o centrão, e a Simone foi candidata à presidência do Senado também contra esses movimentos. O MDB não é adepto ao fisiologismo, ou seja, não troca apoio político por cargos ou ministérios. Kassab fez um excelente trabalho com o PSD, que teve mais prefeitos eleitos, mas o MDB se destacou em vários outros índices.

E sobre a vitória do MDB em São Paulo com Ricardo Nunes? Como avalia essa conquista?

Foi uma honra coordenar a campanha do Ricardo. Essa eleição tomou uma dimensão nacional, quase como uma disputa presidencial. Mostramos o Ricardo como ele é: um político de centro, conservador em algumas convicções, mas equilibrado, sempre buscando o diálogo. Sua vitória mostra que o eleitor quer uma política de boa gestão, e não de polarização.

E o papel do governador Tarcísio de Freitas na campanha?

Somos muito gratos à parceria do governador Tarcísio. Você falou de momentos difíceis; tivemos o fenômeno de rede social que é o Pablo Marçal. Temos de reconhecer que ele conseguiu, por meio das redes, se conectar com muita gente. A extrema direita foi representada no primeiro turno pelo Marçal. O Ricardo Nunes, por sua vez, teve uma frente ampla que conseguiu construir em cima de um projeto concreto para São Paulo. Em termos políticos, a candidatura do Ricardo ficou no centro, dialogando ora com a centro-direita, ora com setores mais progressistas.

O prefeito, em entrevistas, disse que não tem interesse em novas disputas eleitorais. Como o partido vê o futuro dele e o que isso significa para o MDB?

Ele está correto em focar a prefeitura. Completando esse mandato, ele poderá alçar novos voos. Ricardo tem potencial para ser um dos grandes líderes do MDB nacional. O MDB hoje é um celeiro de lideranças jovens, como o governador Helder Barbalho, no Pará, Arthur Henrique, em Boa Vista, e muitos outros.

E para 2026, o MDB pretende lançar candidato à Presidência, pleitear a vice de Lula, caso ele seja candidato à reeleição, ou pensar numa aliança com o indicado de Bolsonaro?

Vamos discutir internamente a partir do segundo semestre de 2025. Temos correntes que defendem uma candidatura própria; outras, uma aliança com Lula ou uma aproximação com Tarcísio. Todo partido grande quer colocar suas bandeiras, quer apostar em suas lideranças e em sua capacidade de comunicação, e o MDB não é diferente. Em 2022, lançamos a Simone, e isso foi muito importante para posicionar o MDB como um partido com agenda própria e propostas claras. Ela foi uma excelente candidata e, em uma eleição polarizada, chegou em terceiro lugar, superando Ciro Gomes. Isso mostrou que o MDB tem uma agenda de Brasil.

Com o resultado deste ano, qual é a expectativa do MDB para a bancada de deputados federais em 2026? Qual é a relação com os prefeitos e vereadores eleitos neste ano?

Nossa expectativa é muito positiva, por isso queremos apostar principalmente na unidade partidária e na valorização de boas gestões. Se o MDB tiver boas gestões municipais, isso vai alavancar a eleição de deputados federais, esta-du-ais, senadores, governadores e vice-governadores. Tivemos um crescimento da base partidária que já se refletiu em 2022 com o aumento significativo da bancada, e essa vitória histórica em 2024 nos dá bons indicativos para 2026.

Há discussões sobre uma possível reforma ministerial do governo Lula no próximo ano. O MDB pleiteia mais espaço no governo federal?

Não. Nosso objetivo é colaborar com propostas, sem exigências de cargos. Temos três ministros que trabalham bem. O MDB fisiológico ficou para trás. Não vamos trocar apoio político por cargo, nem por ministério, nem por secretaria, nem por qualquer outro espaço. Vamos falar de agenda, de propostas. Vamos apoiar tudo aquilo que for bom para o país, mas não acredito que qualquer prática da velha política do “toma lá dá cá” tenha espaço.

E sobre a agenda de corte de gastos que o governo está propondo? Qual é a posição do MDB?

O MDB abraça uma agenda na economia mais liberal. Temos um profundo compromisso com o social, mas entendemos que o equilíbrio fiscal é algo muito precioso para o Brasil, porque, se tivermos equilíbrio fiscal, vamos ter as políticas públicas chegando à ponta, transformando para melhor a vida das pessoas. Claro que não conhecemos o projeto, mas a princípio a gente é favorável. Vamos colaborar para que os efeitos de uma boa política econômica possam chegar à ponta, porque muitas vezes a gente tem bons índices, mas as pessoas não sentem essa melhora no dia a dia.

Como o MDB vê as discussões em torno das emendas parlamentares, considerando que levantamentos mostraram que houve ligação entre o recebimento de emendas e o sucesso eleitoral?

Existem duas falsas premissas que eu gostaria de contestar. Primeiramente, embora o MDB tenha sido o partido mais vitorioso nas urnas, possui o sexto maior fundo eleitoral — abaixo do PL, PT, PSD, União Brasil e da Federação do PT —, e tivemos excelentes índices de votos e vitórias. Em segundo lugar, muito se fala sobre a relação entre emendas parlamentares e sucesso eleitoral. No entanto, partidos como o PL e o PT tiveram mais emendas executadas que o MDB, mas isso não se refletiu em melhores resultados que os nossos. Acredito que nosso desempenho se deve à força municipalista, equilíbrio e capacidade histórica de boa gestão.

E sobre a votação das novas regras para transparência das emendas?

Quanto ao tema das emendas, eu reitero que elas são um instrumento importante para levar políticas públicas à população, mas precisam de uso responsável. Se o governo federal busca equilíbrio fiscal, o Congresso também deve colaborar cortando desperdícios, inclusive no uso de emendas.

Como o senhor avalia a posição da direita e da esquerda após essas eleições?

A esquerda teve dificuldades para se conectar com o eleitor, enquanto o centro foi o grande vitorioso. A direita, embora fortalecida, não conseguiu vencer em algumas cidades, mas teve resultados expressivos. Agora, para 2026, será fundamental que a economia melhore a vida do brasileiro, pois essa será a grande questão.

E a segurança pública? Esse tema também será importante?

Certamente. Assim como saúde, educação e mobilidade, a segurança pública será um grande desafio. A preocupação com o crime organizado, que tenta interferir nas políticas, será um dos temas centrais em 2026.






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