Alunos da Saint Paul: novas habilidades num mundo que se transforma cada vez mais rápido (Leandro Fonseca/Exame)
Redação Exame
Publicado em 25 de setembro de 2025 às 21h59.
Em poucos momentos da história recente do mundo fez tanto sentido falar em disrupção. O avanço da inteligência artificial sobre quase todos os aspectos da vida das pessoas deve mudar radicalmente o jeito de lidar com qualquer trabalho.
Sem falar nas incertezas econômicas e na transição para a economia verde, tendências que impulsionam novas carreiras e negócios, e trazem constantemente novos desafios.
Nesse contexto, o receio de estar aquém das demandas do futuro está nas alturas. Vide os resultados da edição 2025 do relatório Futuro dos Empregos, uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial (WEF) com mais de 1.000 CEOs de grandes empresas ao redor do mundo e revelada no encontro anual do grupo, em Davos, na Suíça, em janeiro.
Para 85% dos entrevistados, o treinamento constante de seus times será essencial para manter a competitividade dos negócios. Nos próximos cinco anos, metade da mão de obra das empresas entrevistadas deverá passar por alguma qualificação caso queira evoluir em suas carreiras, estimam os entrevistados.
O relatório ouviu empresas que empregam 14 milhões de pessoas, e revelou que 60% dos empregadores preveem transformações em seus negócios até 2030. A maior causa das mudanças, naturalmente, é o avanço da inteligência artificial.
Segundo o relatório do WEF, 86% das empresas acreditam que a IA terá um impacto profundo em suas operações até 2030, seguidas por robotização e automação, com 58%.
É um momento único de geração de oportunidades. A tecnologia está por trás de um período extraordinário de geração de valor. Vide o caso da americana Nvidia, fabricante de processadores ultrarrápidos ideais para as complexas demandas da IA.
A empresa quadruplicou de valor em apenas dois anos e já vale mais de 4 trilhões de dólares. Só não é mais impressionante que o caso da Oracle, outro gigante de tecnologia que viu o montante de contratos por seus chips para IA subir de 138 bilhões de dólares para 455 bilhões de dólares em apenas três meses.
Em um único dia de setembro o fundador da empresa, Larry Ellison, viu sua fortuna crescer impressionantes 103 bilhões de dólares com a disparada do otimismo dos investidores.
Sede da Nvidia: a inteligência artificial está por trás de um período extraordinário de geração de valor (Nvidia/Divulgação)
Tanto Ellison quanto Jensen Huang, fundador da Nvidia, atuam no mercado de tecnologia há décadas. Mas viram sua fama e fortuna disparar ao fazerem uma aposta conectada com o futuro próximo. Esse é um desafio para dez entre dez profissionais: num mundo que muda cada vez mais rápido, como antecipar as necessidades?
A notícia boa, como mostram os exemplos de Nvidia e Oracle, é que a recompensa vem cada vez mais rápido. Além da inteligência artificial, tecnologias emergentes, como a computação quântica, devem criar indústrias bilionárias nos próximos anos — e, assim, abrir espaço para carreiras inteiras até agora inexistentes (veja quadro).
Outra grande transformação deve ser puxada pela demografia. As pessoas estão vivendo mais e trabalhando até mais tarde. A tendência leva a um aumento na busca por skills de gestão de pessoas e de mentoria. Funções e negócios ligados a envelhecimento saudável, saúde e também a educação continuada na vida adulta devem ser cada vez mais importantes.
ChatGPT: na graduação em administração da Escola de Negócios Saint Paul, os alunos aprenderão a usar a IA para ir além (Cheng Xin/Getty Images)
A expectativa é que 8% dos empregos atuais podem desaparecer. A boa notícia é que novas funções podem ampliar o mercado de trabalho atual em 14%. No fim das contas, seriam 78 milhões de novos trabalhos, segundo o WEF.
As tarefas mais ameaçadas são aquelas repetitivas, que incluem de redatores a analistas de investimento. Mas no fim das contas todas as funções estão sendo transformadas. O relatório do futuro do trabalho revela que 39% das skills, as competências necessárias para o mercado de trabalho, serão transformadas até 2030.
Ou seja: todos precisarão de novas habilidades num mundo que se transforma cada vez mais rápido. A habilidade mais requisitada: pensamento analítico. Sete de cada dez empresas consideram esta a skill mais importante para atuais e futuros profissionais. Depois, pela ordem, vêm resiliência e flexibilidade, liderança e influência social, e pensamento criativo.
Fica cada vez mais claro que as competências técnicas, também chamadas de hard skills, já não são suficientes para garantir uma carreira bem-sucedida. Em vez disso, as empresas estão premiando profissionais com habilidades interpessoais, como empatia, liderança, criatividade e boa comunicação.
“Contrata-se pelo hard skill e promove-se pelo soft skill”, afirma José Cláudio Securato, CEO e fundador da Saint Paul, que destaca que a formação acadêmica tradicional, muitas vezes centrada no domínio de conteúdos técnicos, não tem acompanhado essa transição, que exige profissionais cada vez mais habilitados a se adaptar e a liderar equipes em ambientes dinâmicos.
Na graduação em administração da Escola de Negócios Saint Paul, a tecnologia não será tratada como uma disciplina isolada, e sim como uma ferramenta transversal que permeia todas as áreas do conhecimento.
Para isso, o currículo da escola integra a IA desde o início da graduação, com aulas que abordam desde o uso de ferramentas da tecnologia em finanças até a aplicação da inteligência artificial em marketing, inovação e gestão de negócios.
A escola se propõe a ensinar aos alunos como a IA pode ser aplicada para resolver problemas e gerar valor. Um exemplo: durante a formação, os alunos aprenderão não só a utilizar ferramentas como o ChatGPT, mas também a entender como a tecnologia pode ser usada para melhorar a comunicação, otimizar processos e apoiar as tomadas de decisões.
“Empregos serão criados e extintos, mas a maioria se modificará pela inteligência artificial”, diz Securato. “Por isso sabemos que uma formação profissional conectada às demandas do futuro precisa ter IA desde o primeiro dia. Mas a ideia é que as pessoas aprendam como usar a IA para conseguir ir além, e não só para fazer o que a IA já faz. Aí está a verdadeira oportunidade.”