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Para a indústria de notebooks, o jeito é se reinventar

Depois de quase uma década de queda nas vendas, as fabricantes de notebooks apostam em inteligência artificial, conexões 5G e telas duplas para crescer

Estande da Intel na feira CES 2019, em Las Vegas: a empresa lidera um movimento pela renovação dos notebooks | Steve Marcus/Reuters

Estande da Intel na feira CES 2019, em Las Vegas: a empresa lidera um movimento pela renovação dos notebooks | Steve Marcus/Reuters

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 20 de junho de 2019 às 05h26.

Última atualização em 25 de junho de 2019 às 14h38.

Poucos segmentos da indústria de tecnologia tiveram uma queda tão brusca nos últimos dez anos quanto o mercado de notebooks, os computadores portáteis. Em 2011, quando o setor vivia o auge, as fabricantes desses produtos chegaram a vender quase 210 milhões de unidades no mundo.

Foi nessa época que a fabricante de processadores Intel liderou um movimento para deixar as máquinas mais finas, leves e potentes. Era o ano dos ultrabooks, aparelhos que concorriam com o MacBook Air. De tão fino, o produto da Apple foi apresentado ao mundo saindo de um envelope. O que veio em seguida, no entanto, foi uma ressaca das grandes. À medida que as pessoas deram preferência aos smartphones, as vendas de laptops (sinônimo de notebooks) minguaram até 157 milhões de unidades em 2016, uma queda de 25% em relação a 2011.

Passado o baque, agora a indústria ensaia uma nova retomada, apostando que as tecnologias de inteligência artificial, as conexões ultravelozes 5G e as telas adicionais nos aparelhos vão trazer de volta o brilho para o mercado de notebooks. Uma das empresas que lideram o movimento é novamente a Intel, junto de um grupo de fabricantes que inclui Acer, Asus, Dell, Google, HP, Lenovo e Samsung. Em 2019, as empresas lançaram a iniciativa chamada Project Athena, um esforço coletivo para criar laptops mais finos, mais leves, com mais poder de processamento e maior duração de bateria. A ideia é que apenas os modelos com certos requisitos técnicos sejam enquadrados na categoria Athena, como as empresas fizeram com os ultrabooks.

O nome da deusa grega da sabedoria (Atena) indica um dos requisitos dos novos laptops, que começam a ser vendidos ainda neste ano. Eles precisarão ter recursos de inteligência artificial. Inserida em um mercado que terá faturamento de 169 bilhões de dólares em 2025, segundo a consultoria americana Allied Market, a tecnologia será usada para estender a duração da bateria e facilitar a edição de imagens, com a aplicação de filtros automaticamente. Os notebooks do Project Athena ainda deverão ter autenticação biométrica (por impressão digital ou reconhecimento facial), processadores de última geração, conexão de internet veloz, bateria para 9 horas ou mais e tela sensível ao toque de alta resolução. Josh Newman, vice-presidente de inovação móvel da Intel, afirma que o Project Athena é de longo prazo e busca criar maior demanda para os laptops, tanto no mercado de consumo quanto no corporativo. “As pessoas passam muito tempo no notebook e o usam para atividades variadas, alternando entre tarefas particulares e profissionais. Nosso objetivo com o Project Athena é manter o que há de bom no notebook e acrescentar recursos e tecnologia para melhorar a experiência, seja ela no trabalho, na escola ou em casa”, diz Newman.

O cenário atual é positivo para o mercado. As vendas de laptops têm crescido desde 2016. A consultoria IDC prevê a venda de 165 milhões de unidades neste ano, número próximo ao de 2018. Já no Brasil o mercado de notebooks tem se expandido depois de amargar uma queda de 43% entre 2014 e 2016, durante a recessão. Para Wellington La Falce, analista de pesquisa da consultoria IDC Brasil, a variação do dólar e o desemprego alto afetam o consumo no país. “Todos esses fatores levam o consumidor a tirar o pé do acelerador e a comprar menos”, afirma La Falce.

Buscando inovar, as fabricantes tentam ainda outras abordagens. A Apple inseriu uma pequena tela acima do teclado, que oferece recursos inteligentes nos novos MacBooks Pro. A Asus colocou duas telas no modelo ZenBook Pro Duo — uma comum e outra acima do teclado, de 12 polegadas. A ideia é facilitar o uso de vários programas ao mesmo tempo. Dá para ver um vídeo na tela de baixo e responder a e-mails na de cima, por exemplo. Já a Lenovo, maior fabricante de notebooks do mundo, tenta inovar usando telas flexíveis. O aparelho da linha ThinkPad X1 tem uma tela de 13 polegadas que se dobra ao meio. Em sua versão final (ainda se trata de um protótipo), ele será compatível com redes 5G. Ricardo Bloj, presidente da Lenovo no Brasil, diz que o produto levou três anos para ser desenvolvido. “Ele vai oferecer uma experiência de uso diferente, porque pode virar notebook, tablet ou desktop. A ideia é que seja o único aparelho de um executivo”, afirma Bloj.

Stephen Kleynhans, vice-presidente de pesquisa da consultoria Gartner, acredita que o notebook passe hoje por uma crise de identidade. Antes ele era o principal dispositivo do consumidor. Agora o celular pode ser usado para realizar a maioria das tarefas. “A pergunta que fica é: haverá razão para as pessoas trocarem constantemente de notebook? A resposta é: provavelmente não. É um mercado maduro. As pessoas trocam seus produtos quando acham que precisam. E o antigo ciclo de três anos foi estendido”, diz Kleynhans. Se a estratégia de desenvolver notebooks ultraconectados, leves e com telas duplas vai funcionar, ainda é uma questão em aberto. Mas o fato é que os novos computadores portáteis serão bem diferentes daqui para a frente.

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