Larry Page, presidente do Google: grandes planos para crescer na internet social (Chris Hondros/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de julho de 2011 às 06h00.
São Paulo - Para o desenho atual do mapa de forças da internet, talvez poucos momentos tenham sido tão determinantes quanto as primeiras semanas de 2004. No fim de janeiro daquele ano, o Google, uma empresa ainda jovem, mas que já se firmava como gigante do segmento de buscas, lançaria uma das primeiras redes sociais da internet, o Orkut.
Uma semana depois, iria ao ar a versão inicial do Facebook, um projeto experimental de jovens estudantes da Universidade Harvard. Há algo de simbólico — e de revelador — na continuação dessa história. O Facebook, como se sabe, cresceu de um dormitório de estudantes para se tornar a maior rede social do mundo, um colosso que reúne hoje mais de 750 milhões de usuários.
Já o Orkut, com a exceção de poucos mercados, Brasil e Índia incluídos, não decolou. Ao lado de outros tropeços pelo caminho, o episódio ajudou a pintar uma imagem que até hoje paira em torno da maior companhia de internet do mundo: o Google é incapaz de fazer web social.
Anos mais tarde, é possível dizer que, se isso é mesmo verdade, é também certo que o fenômeno não ocorre por falta de tentativas. O Orkut foi apenas uma das primeiras empreitadas da companhia a naufragar. Em 2009, o Google lançaria o Wave, um sistema de comunicação com base em interações sociais.
Tido como complexo demais, o Wave teve aceitação baixíssima e foi cancelado menos de um ano depois. No ano seguinte, a companhia introduziria o Buzz, uma rede social que integra algumas características do Twitter e do Facebook dentro do Gmail, serviço de e-mails gratuito da companhia. Também esse projeto não conseguiu decolar.
No final de junho, veio a público a última iniciativa da companhia em redes sociais. Trata-se do Google+, um serviço que era esperado havia meses e que, como também se antecipava, se parece muito com o Facebook. É cedo ainda para atestar o sucesso ou o fracasso do serviço.
Apesar de recente, o Google+ já é tido como a maior investida da companhia no segmento. Para muitos analistas, o lançamento do Google+ traduz o primeiro grande esforço para corrigir algo que foi admitido por Eric Schmidt, antigo CEO da empresa, como a maior falha de sua gestão.
"Erramos ao não levar o Facebook a sério", disse Schmidt recentemente em uma conferência. Essa, portanto, teria se tornado uma questão de honra para Larry Page, CEO e cofundador. "Page quer colocar uma camada social por toda a companhia", afirma Colin Gillis, analista de tecnologia da corretora BGC Partners. "Para o Google, agora, saber compartilhar está na ordem do dia."
Web social em alta
Não faltam indícios sobre a renovada importância da web social para os negócios da empresa. Vic Gundotra, engenheiro responsável pelo Google+, foi recentemente promovido a vice-presidente sênior da área social, uma posição que agora equivale a altos executivos da empresa nas áreas de busca e de publicidade.
Há rumores ainda de que 25% dos bônus de todos os colaboradores agora dependem do quão bem a companhia se sair em suas empreitadas sociais. Por isso, estão todos de olho no sucesso — ou fracasso — da nova iniciativa. Por ora, os números sugerem um início promissor.
Em menos de três semanas, mais de 10 milhões de usuários criaram perfis no Google+. O crescimento é surpreendente, embora em boa parte justificado pela facilidade de uma empresa do tamanho do Google de integrar serviços existentes e atrair novos usuários. Em termos de recursos, o Google+ se propõe a apresentar soluções para algumas das principais queixas dos usuários do Facebook.
A maior delas diz respeito à privacidade. Há anos, usuários do Facebook reclamam da dificuldade e da complexidade apresentadas pelo sistema para controlar quem vê o quê no fluxo de dados que circula pela rede. Outra se refere à maneira de apresentar as notícias que os usuários recebem de seus amigos e contatos.
Membros do Facebook se queixam de ser frequentemente inundados por informações pouco importantes a respeito de suas conexões e, cada vez mais, por spam. Nesse quesito, a companhia pretende aplicar o conhecimento de anos adquirido com o refinamento de buscas para apresentar um fluxo de informações mais relevante.
Ainda não se sabe como os usuários vão responder aos serviços, e o quanto eles representam algo realmente novo no cenário de redes sociais. Para a empresa, no entanto, os impactos do lançamento do Google+ já podem ser sentidos, sobretudo na cultura corporativa da empresa. No mercado, há uma espécie de consenso sobre os sucessivos fracassos do Google no ambiente da web social.
Diferentemente da maioria dos concorrentes na área, o Google é uma empresa em que os engenheiros estão no comando e que valoriza o trabalho realizado por eles acima de tudo. Não sem razão. Ao longo da história, foram conquistas de engenharia que determinaram o sucesso da companhia — como o aperfeiçoamento de algoritmos de busca e a melhoria de sistemas de publicidade online.
Mas, ocupado com a busca constante pela eficiência, o Google não enxergou que os usuários da internet queriam algo diferente. Hoje, os engenheiros ainda estão no comando — afinal, nada substitui as buscas como fonte de receitas para a empresa. A maioria dos produtos e serviços oferecidos pelo Google está focada na internet "tradicional".
Mas há caras novas em ascensão. Para desenhar a interface do novo serviço, o Google contratou Andy Hertzfeld, um dos maiores nomes do design de software do mundo, responsável em grande parte pela cara dos produtos da Apple. “O Google+ marca uma mudança interessante na cultura da companhia, em que funcionários são estimulados a tomar riscos e a desenvolver novos projetos na área social que poderão ser o próximo grande produto da empresa”, afirma Scott Kessler, analista da Standard & Poor’s.
Um lançamento desse porte pela maior empresa de internet do mundo tem força suficiente para mexer no mercado de redes sociais. Apesar de o Facebook atingir quase 10% da população do planeta e ter obliterado a concorrência, a chegada do Google+ é um lembrete de que redes sociais não são entidades intocáveis.
O MySpace, rede social que viveu anos de glória no início dos anos 2000, é a maior prova disso. Em 2005, a companhia foi adquirida por 580 milhões de dólares pela News Corp., do bilionário australiano Rupert Murdoch. No fim de junho, depois de anos em que os acessos ao site só despencaram, Murdoch se desfez do negócio por meros 35 milhões de dólares.
O próprio Facebook começa a dar sinais de que o crescimento explosivo pode estar perto do pico. Em maio, segundo o instituto Inside Facebook, a rede social perdeu quase 6 milhões de usuários nos Estados Unidos, seu principal mercado. Algo semelhante ocorreu também no Canadá.
Por enquanto, seu criador, Mark Zuckerberg, faz cara de despreocupado. Ele mesmo abriu um perfil no Google+, e é por enquanto o usuário que tem mais seguidores na rede. Numa prova de que o novo ataque do Google nas redes sociais pode, sim, causar problemas, o Facebook declarou que não vai mais medir o próprio sucesso pelo número de usuários. A métrica agora será a qualidade dos serviços oferecidos. Ponto para o Google.