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O fluxo digital da globalização, segundo Thomas Friedman

Leia abaixo um trecho de Obrigado pelo Atraso, novo livro do jornalista Thomas Friedman, que acaba de ser publicado no Brasil

Obrigado pelo Atraso — Um Guia Otimista para Sobreviver em um Mundo Cada Vez Mais Veloz (Divulgação/Exame)

Obrigado pelo Atraso — Um Guia Otimista para Sobreviver em um Mundo Cada Vez Mais Veloz (Divulgação/Exame)

FS

Filipe Serrano

Publicado em 7 de setembro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 7 de setembro de 2017 às 05h55.

São Paulo — “Por um longo tempo muitos economistas insistiram que a globalização era apenas uma medida para o comércio de bens físicos, serviços e transações financeiras. Essa definição peca por ser muito estreita. Globalização, para mim, sempre significou a capacidade de qualquer indivíduo ou companhia de competir, conectar, trocar ou colaborar globalmente. E, por essa definição, a globalização está agora explodindo. Podemos hoje digitalizar muitas coisas e, graças aos celulares e à supernova [a internet], podemos agora enviar esses fluxos digitais a toda parte e recebê-los de qualquer lugar. Ainda que o comércio de bens físicos, produtos financeiros e serviços — as marcas registradas da economia global do século 20 — na realidade tenha parado de crescer nos últimos anos, a globalização medida por fluxos está crescendo — ‘transmitindo informações, ideias e inovação ao redor do mundo e ampliando a participação na economia global’ — mais do que nunca, concluiu um estudo pioneiro sobre o assunto publicado em 2016 pela consultoria McKinsey: ‘O mundo está mais interconectado do que nunca’.

Efetivamente, esses fluxos digitais se tornaram tão abundantes e poderosos que estão para o século 21 como os rios que desciam das montanhas estavam para as civilizações e cidades da Antiguidade. Naquela época, todos queriam construir sua cidade ou sua fábrica às margens de um rio com uma corrente poderosa — e deixar que ele fluísse através de você. Aquele rio daria poder, mobilidade, alimentos e acesso aos vizinhos e a suas ideias. O mesmo ocorre com esses rios digitais que entram e saem da supernova. Só que os rios junto aos quais as pessoas querem agora construir são a Amazon Web Services e o Azure, da Microsoft, conectores gigantes que possibilitam que seu negócio ou sua nação tenham acesso a todos aqueles aplicativos na supernova que dão maior poder computacional, onde você pode se ligar a qualquer fluxo no mundo do qual queira participar.

O mundo não pode se tornar tão conectado em tantos novos domínios de novas maneiras e com tamanha profundidade sem acabar sendo reformulado. Esses fluxos digitais globais vêm fazendo exatamente isto: possibilitando que cada vez mais pessoas ao redor do mundo tenham acesso às ferramentas tecnológicas e se tornem aqueles que fazem e acontecem; tornando o mundo muito mais interdependente em termos financeiros, de modo que todo país se encontra hoje numa situação mais vulnerável em relação à economia de outro país; estimulando o contato entre desconhecidos num ritmo e numa escala nunca vistos, fazendo com que ideias boas e más se tornem virais, podendo extinguir ou fabricar preconceitos muito mais rapidamente; tornando todos os líderes mais expostos e transparentes; e garantindo que os preços que os países pagam por aventuras no exterior sejam muito mais altos do que esperam, tornando esses fluxos uma nova fonte de comedimento geopolítico. Esses rios digitais correndo agora ao redor do globo, vinculando-se mais estreitamente a todos, só tendem a se tornar mais caudalosos e mais rápidos à medida que as pessoas se conectam com a supernova usando seus dispositivos móveis.”

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