Desfile da Zegna: imagem do homem ligada a conforto (Divulgação/Divulgação)
Ivan Padilla
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 05h27.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 10h45.
Se existe uma certeza na moda é a de que tudo o que vai um dia volta. Os homens passaram as duas últimas décadas se acostumando a silhuetas estreitas, chamadas genericamente de slim e rotuladas como skinny em versões mais radicais. As semanas de moda masculina de Milão e de Paris, em janeiro passado, no entanto, confirmaram uma nova tendência: a presença de calças largas, camisas folgadas, casacos desabados. Nova tendência? Nem tanto. Com diferentes nuances e contextos, era dessa forma que nos vestíamos nos anos 1990.
Nas passarelas de Milão, a Zegna, talvez a maior referência em alfaiataria do mundo, apresentou uma moda casual chique repleta de casacos pouco estruturados e calças amplas, distantes da clássica imagem da marca. “O Alessandro Sartori, diretor criativo da marca, está criando essa nova imagem do homem, que tem a ver com os tempos de hoje, ligada a conforto, a esporte”, afirma o editor de moda Sylvain Justum, cofundador do podcast Self-Portrait. A Fendi também celebrou os trajes masculinos por excelência, com peças tradicionais, mas com uma pegada revisitada, mais relaxada.
Casacos que parecem roupões estiveram em diversas apresentações. A Prada veio com casacos com a cintura bem marcada, mas com ombreiras exageradamente largas. Em Paris, a Louis Vuitton trouxe a última coleção de Virgil Abloh, estilista falecido no ano passado, com muitas referências de streetstyle, como sempre. A Dior mostrou peças híbridas, alfaiataria com shape de jogging e camisas para fora da calça, além de sandálias Birkenstock nos pés dos modelos.
“Moda é comportamento”, afirma Ricardo Almeida, maior referência em alfaiataria no Brasil, que até pouco tempo atrás era conhecido pelas silhuetas esguias. “As pessoas querem conforto, estão menos presas a padrões. Roupas justas pedem um corpo mais sarado, e os homens hoje querem mais liberdade.” O estilista lançou no ano passado uma linha chamada Homemeeting, que mistura malharia com alfaiataria, com formas mais generosas.
Vale lembrar, porém, que nem tudo o que é apresentado em um desfile vai para as araras das lojas. As criações servem como referência, mas as peças são adaptadas ao gosto do consumidor médio. O Brasil, um mercado mais conservador na moda masculina, também costuma demorar para incorporar novidades. E a tendência da volta das roupas largas não significa uma nova ditadura na vestimenta. Quem gosta da calça marcando as coxas não tem por que abrir mão de sua preferência. A moda, vale lembrar, precisa ser acima de tudo uma manifestação pessoal.