Revista Exame

O fenômeno dos empresários que sobem e despencam no Brasil

Empresários que aparecem do nada e vão para o nada, sem deixar claro por que subiram tanto, parecem fazer parte do histórico de “ascensão social” de Lula


	 De bilionário a presidiário: suspeitas de corrupção levaram à prisão de André Esteves
 (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

De bilionário a presidiário: suspeitas de corrupção levaram à prisão de André Esteves (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2015 às 17h00.

São Paulo — Lá se vai para o espaço, a bordo de um camburão da Polícia Federal, mais um empresário emergente do Brasil do ex-presidente Lula, da presidente oficial Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores. Foi a vez, agora, do banqueiro André Esteves, preso por suspeitas de corrupção múltipla por decisão do Supremo Tribunal Federal e trancafiado no conjunto de presídios de Bangu, no Rio de Janeiro, à espera de uma definição de seu destino pela Justiça penal.

Empresários que aparecem do nada e acabam indo para o nada, sem nunca deixar claro como e por que subiram tanto entre um momento e outro, parecem fazer parte do histórico movimento de “ascensão social” que Lula garante ter criado no Brasil de 2003 para cá — um benfazejo complemento ao “resgate” de “milhões” de pobres que o governo petista retirou do infortúnio e colocou na “classe média”, segundo espalha há anos sua máquina de propaganda.

No mundo dos fatos, como se sabe, a principal característica desse fenômeno é que ele não existe. No mundo dos bem-aventurados que se viram promovidos diretamente para a condição de bilionários, a subida realmente aconteceu — mas tem durado pouco e, ao se desfazer, deixa prodigiosos prejuízos para o Erário público. Ou, mais exatamente, para quem entra realmente com o dinheiro — o pagador de impostos em geral.

André Esteves, espantosamente rico aos 47 anos de idade como líder do conglomerado financeiro BTG Pactual, segue de perto — para ficar apenas no exemplo mais notório — o comentadíssimo Eike Batista. Lembram-se dele? Era outro amigo-irmão-camarada dos arquiduques dos governos Lula-Dilma.

Tinha um espetacular talento para convencer o BNDES a lhe emprestar bilhões, dando em garantia a miragem de projetos que jamais executou ou que jamais deram um tostão de retorno. Dizia-se a caminho de ser, um dia, o homem mais rico do mundo — e era levado perfeitamente a sério, a começar pela mídia.

Um belo dia quebrou, é claro, porque isso é o que sempre acontece com quem deve e não mostra dinheiro de verdade para pagar. Hoje declara-se apenas um cidadão de “classe média”. Seu percurso, naturalmente, não é igual ao de Esteves — Eike não está em Bangu, nem no xadrez da Polícia Federal de Curitiba por causa da Operação Lava-Jato, nem foi citado formalmente como pagador de propinas ao senador Fernando Collor ou a outras estrelas do governo popular do PT.

Mas é basicamente no mesmo caldo de bactérias que ele viveu seus curtos anos como “campeão nacional”, um tipo de ente econômico criado nas fantasias de Lula, Dilma e seus luas pretas para ajudar na construção do “Brasil potência”, que iria mostrar ao Primeiro Mundo capitalista a genialidade de “um operário que chegou à Presidência da República” etc. etc. etc. Deu nisso.

A nova classe de empresários-banqueiros-milionários gerada nas presidências do PT inclui muita gente mais. Há o notável José Carlos Bumlai, pecuarista, usineiro e súbito investidor em petróleo, o amigo pessoal de Lula que desfrutava de acesso livre ao Palácio do Planalto “em qualquer tempo e em qualquer circunstância” e que conseguiu o prodígio de ficar devendo quase 500 milhões de reais ao BNDES com lastro em empresas quebradas.

Há o defunto banco Schahin, envolvido até o talo num escândalo de aluguel de sondas à Petrobras e com diretores em posição de destaque na lista dos beneficiários da “delação premiada” na Operação Lava-Jato. Há o extraordinário “complexo industrial” Sete Brasil, criado para fornecer (aqui vão elas de novo) essas benditas sondas à Petrobras, em obediência à ordem de Lula que obrigou a empresa a comprar “equipamento nacional” para a exploração de seus poços em alto-mar.

Lula, como se sabe, festejou a própria decisão dizendo que tinha ressuscitado a “indústria naval neste país”. A Sete Brasil, também envolvida com propinas e com Esteves, está hoje em estado falimentar; sua demolição já custou, só em 2015, a demissão de 20 000 empregados de estaleiros pelo Brasil afora. É o modelo Lula de avanço social.

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