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Telemedicina deve ser regulamentada de forma definitiva, diz Claudio Lottenberg

Para o médico Claudio Lottenberg, o país só tem a ganhar com a telemedicina

Claudio Lottenberg: reguladores precisam ser mais ágeis para aprovar as inovações (Germano Lüders/Exame)

Claudio Lottenberg: reguladores precisam ser mais ágeis para aprovar as inovações (Germano Lüders/Exame)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 05h14.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2021 às 14h05.

Aos 60 anos recém-completados, o oftalmologista paulistano Claudio Lottenberg se sente muito mais jovem. Acompanhar de perto as inovações na área da saúde é o que anima o presidente do conselho deliberativo da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, administradora do famoso hospital, e presidente do Instituto Coalizão Saúde, que reúne de farmacêuticas a operadoras de planos de saúde. Em sua opinião, depois de anos de debates e resistência, a telemedicina encontrou seu lugar no país — e a revolução que vem provocando não tem volta.

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Em grande parte devido à covid-19, estamos assistindo a grandes avanços da medicina nos últimos tempos. Qual é a tendência que vem se destacando no Brasil agora?
No próximo ano, o grande destaque da medicina será o desafio da implantação de um plano de vacinação contra o novo coronavírus que possa atingir as metas necessárias para permitir um novo normal seguro. Teremos um novo normal graças à vacinação, mas o incremento da economia se fará a partir de um patamar mais baixo, fruto da retração de 2020. Portanto, muito embora tenhamos crescimento, ainda estaremos bem atrás daquilo que seria necessário para enxergar uma maior inclusão social, com geração de renda e empregos. Mas, para a medicina, o momento é do digital. Eu trouxe a telemedicina para o Brasil em 2012; começamos a usá-la no Einstein quando o Conselho Federal de Medicina não permitia ainda. Acredito muito em formas disruptivas de assistência.

Os limites ao uso da telemedicina foram temporariamente suspensos neste ano por causa da pandemia. Os conselhos médicos ainda dizem que podem restabelecer as restrições para analisar melhor as vantagens e as falhas da prática. O senhor acha que dá para voltar atrás em uma ferramenta que pacientes, médicos e hospitais têm usado cada vez mais?
Creio que a telemedicina deva ser regulamentada de forma definitiva. A resistência da comunidade científica se deve ao medo de que o papel do médico seja abolido. Mas isso não vai acontecer. Médicos vão continuar atuando nas duas pontas. São bem-vindos os recursos tecnológicos que agregam valor, trazendo mais eficiên­cia, subtraindo o desperdício e incrementando a segurança dos procedimentos. Não precisar se locomover para receber ­atendimento é um grande ­ga­nho. Com esse tipo de recurso, a saúde no Brasil pode dar um salto. A pandemia trouxe um novo nível de entendimento de como a pesquisa séria deve ser feita e uma quebra de paradigmas. As agências reguladoras dos governos precisam ser mais ágeis para aprovar as novas tecnologias.

Mas parece que todas essas inovações estão mais ao alcance de quem pode pagar. Como estender o acesso a todos os brasileiros?
O setor privado atende 23% da população, e faltam recursos ao Sistema Único de Saúde (SUS). Uma das formas de aumentar a assistência é dar condições para que mais cidadãos usem o sistema privado, como o então presidente Barack Obama fez nos Estados Unidos com o programa Obamacare.

De que maneira se pode fazer isso no Brasil?
É preciso ter flexibilidade regulatória para atender às necessidades específicas. Cerca de 90% das queixas se resolvem em uma só consulta, gerando um custo pequeno. As filas nas Unidades Básicas de Saúde são enormes. Com um plano de saúde mais barato e mais simples, o usuário poderia ir a uma clínica particular, por exemplo. Quem tivesse passado de certa idade e pudesse precisar mais de cirurgias de alta complexidade compraria um plano mais completo.

Em seu escritório há fotos suas com Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro, Dilma Rousseff, João Doria. Como é conviver, profissionalmente, com pessoas tão diferentes? O Brasil precisa aprender.
Com respeito à diversidade. Não apenas nas palavras mas nas atitudes. É algo mais profundo, de aceitação genuína das diferenças. É essencial enxergar o diálogo como ferramenta para criar pontes. Na área da saúde, criar um sentimento de confiança é muito importante. O que faço o tempo todo é me relacionar, adoro falar. Isso se vai adquirindo pela experiência, com o coração aberto.

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