Revista Exame

“O crescimento chinês deve cair para 4% ou 5%”

O analista americano Michael Pettis, que vive na China desde 2002, prevê um pouso brusco para o país — com óbvias consequências negativas para o Brasil

Pettis: "Seria melhor que Brasília agisse com prudência e fortalecesse a área fiscal" (Anderson Schneider)

Pettis: "Seria melhor que Brasília agisse com prudência e fortalecesse a área fiscal" (Anderson Schneider)

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Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2011 às 13h58.

Ao contrário de muitos colegas, que se mantêm otimistas com a China, o analista americano Michael Pettis, professor de economia da Universidade de Pequim, prevê que o ciclo de crescimento forte do país está perto do fim. Se confirmado seu prognóstico, de uma desaceleração intensa nos próximos anos, haveria um impacto negativo sobre as exportações de matérias-primas brasileiras, sobretudo de minério de ferro.

1) EXAME - Qual o risco de uma forte desaceleração da China?

Michael Pettis - É improvável que aconteça em 2011, mas nos próximos dois ou três anos a taxa de crescimento da economia deve cair para algo em torno de 4% a 5%.

2) EXAME - Por quê?

Michael Pettis - Será muito difícil fazer com que o consumo doméstico chinês cresça rapidamente. E como a demanda global deve continuar fraca nos próximos cinco anos, dificilmente o país poderá contar com o aumento contínuo no superávit comercial. Isso deixa apenas o aumento do investimento como fonte de crescimento. Mas o governo chinês está em dúvida sobre o acerto de promover mais investimento.

3) EXAME - Diante da existência de bolhas como a do mercado imobiliário, há o risco de um crash chinês nos moldes do banco Lehman Brothers?

Michael Pettis - Sou bastante cético a esse respeito. O sistema financeiro daqui tende a se ajustar por meio de juros artificialmente baixos, aliviando os credores. 

4) EXAME - Quem pagaria a conta da crise chinesa?

Michael Pettis - Seria a renda das famílias. A forma como o sistema financeiro chinês se ajusta a uma crise é uma das razões pelas quais será muito difícil para o consumo crescer, porque caberá ao conjunto da população arcar com a faxina para limpar os maus investimentos. 

5) EXAME - Que impacto uma desaceleração chinesa teria sobre o Brasil?

Michael Pettis - Ao final de 2011, o risco da desaceleração econômica chinesa deve se refletir negativamente sobre o preço das commodities. E em 2012, assim que a economia começar a desacelerar, os preços de matérias-primas não alimentares devem cair rapidamente. A China comprará muito menos minério de ferro e cobre, mas continuará a comprar quantidades crescentes de comida.

6) EXAME - O Brasil se tornou refém da China em razão da exportação de commodities?

Michael Pettis - Sim. A dependência da exportação de commodities nunca é boa no longo prazo, mas em tempos de alta desses produtos é muito fácil esquecer isso.

7) EXAME - Medidas de austeridade econômica brasileiras reduziriam nosso risco diante da China?

Michael Pettis - Faz sentido que o Brasil fortaleça sua posição fiscal. A última vez em que o mundo desenvolvido sofreu uma grande desaceleração sincronizada, durante os anos 70, o Brasil e boa parte da América Latina pareciam estar imunes à crise. Mas o impacto da desaceleração foi apenas adiado até a década de 80, trazendo muita instabilidade. Há um risco similar atualmente. Ainda que grandes volumes de capital se dirijam ao país, seria melhor que as autoridades de Brasília agissem com prudência.

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