Vitória de Tiger Woods no Masters de 1997: recorde de audiência | Stephen Munday/Allsport/Getty Images /
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2019 às 05h22.
Última atualização em 4 de junho de 2020 às 15h13.
Um paletó verde pode não ser a vestimenta mais elegante do planeta — ainda mais se você usar uma polo colorida e suada por baixo. Porém, não é essa a opinião da maioria dos golfistas. Poucos homens — e menos ainda mulheres — têm o direito de vestir a green jacket do Augusta National Golf Club, um dos mais famosos e fechados clubes de golfe do mundo, localizado no estado americano da Geórgia. É o Augusta quem organiza e sedia desde 1934 o Masters, o mais popular major, ou torneio de Grand Slam, do golfe mundial, que neste ano acontecerá de 11 a 14 de abril.
A tradição do Augusta National e suas normas (escritas ou não) vão na contramão dos esforços do golfe para se reinventar e atrair mais praticantes, como recentes simplificações das regras. Ainda assim, a instituição e seu paletó verde seguem como alguns dos maiores símbolos do esporte mundial — e também uns dos mais misteriosos e desejados.
Há, basicamente, duas maneiras de você ganhar uma green jacket do Augusta. A primeira é ser campeão do Masters e receber a peça que o torna membro honorário do clube. A segunda é ser sócio de fato — e aí você terá seu paletó verde exclusivo sempre no armário, devidamente lavado e passado.
Duro é saber qual das duas maneiras é a mais difícil. Para ser campeão do Masters, é preciso primeiro ser convidado. Ao todo, são 19 categorias de jogadores que podem receber a honra. Os primeiros 50 melhores do ranking mundial e ex-campeões como Tiger Woods, vencedor por quatro vezes do torneio, fazem parte desse grupo. Além do paletó verde, o campeão ganha um cheque de quase 2 milhões de dólares, de um total de 11 milhões de dólares em prêmios.
A cada ano, o Masters tem, em média, 12 milhões de telespectadores apenas nos Estados Unidos, o dobro de cada um dos outros três torneios do Grand Slam do golfe masculino. Em 1997, quando Tiger venceu seu primeiro Masters, foram testemunhas 20,3 milhões de telespectadores. Foi o recorde do golfe.
Os valores que o torneio movimenta são um mistério. Boa parte vem da venda de produtos licenciados, como bonés, cadeiras, camisas de golfe e bolas. Outro quinhão vem dos patrocinadores do evento — atualmente, Rolex, AT&T, IBM, Mercedes-Benz, UPS e Delta Airlines. Estima-se (sim, pois o número não é divulgado) que cada marca invista por ano 6 milhões de dólares. Detalhe: durante o Masters, não há uma única placa de patrocinador no campo. E, durante a transmissão, realizada pela CBS desde 1956, os patrocinadores dividem apenas 4 minutos de comerciais por hora, o máximo permitido pelo Augusta.
Assistir ao Masters como espectador também é para poucos: só o Augusta National sabe a quantidade exata de “patronos”, como denomina o público, mas o número deve girar em torno de 40 000 por dia. Os “patronos” têm de seguir regras estritas: telefones celulares e bonés com a aba virada para trás, por exemplo, são proibidos nas dependências do clube. Se você desobedecer, sua credencial é apreendida e seu nome é marcado para nunca mais entrar no clube.
Os ingressos são vendidos todo ano para uma lista seleta de convidados e para fãs sorteados depois de se cadastrarem no site do evento, com mais de um ano de antecedência. Cada tíquete custa 115 dólares para cada um dos quatro dias de competição, valor extremamente baixo para um evento dessa magnitude. No mercado paralelo, o ingresso para a semana pode chegar a 10 000 dólares.
É consenso no mundo do golfe e do marketing esportivo que o Augusta deixa muito dinheiro na mesa. Além dos poucos espaços publicitários na TV (e zero comunicação visual no campo) e do valor baixo dos ingressos, são famosos os (baixos) preços cobrados por alimentos e bebidas no campo. O sanduíche mais caro não sai por mais de 3 dólares, mesmo preço da cerveja — e o clube proí-be sócios e espectadores de dar gorjeta. O Augusta não parece mesmo se importar muito com valores.
Bill Gates, fundador da Microsoft, é um exemplo de quanto é difícil ingressar nesse exclusivo clube. Em meados da década de 90, o bilionário deixou escapar a conhecidos que queria se filiar ao clube. Levou uma canseira até 2002, quando finalmente recebeu um convite. Hoje, é dono de uma green jacket e já disputou por lá partidas com o megainvestidor Warren Buffett, outro sócio.
Especula-se que o Augusta tenha 300 sócios. Quem é convidado tem de pagar a taxa de entrada — um membro, falando em anonimato à revista americana Golf Digest, disse que o valor gira em torno de cinco dígitos. A anuidade não passa de 9 000 dólares. Além de Gates e Buffett, outros associados célebres são Jack Welch, ex-CEO da GE, e Condo-leez-za Rice, ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, primeira mulher a ser admitida como sócia, em 2012. Sem contar ex-campeões históricos, como o grupo intitulado Big Three, trinca formada por Gary Player, Jack Nicklaus e Arnold Palmer, este último morto em 2016.
O clube foi criado pelo advogado americano Bobby Jones, um dos maiores golfistas de todos os tempos, que morreu em 1971. Depois de se aposentar precocemente aos 28 anos, Jones queria um lugar tranquilo para jogar com os amigos longe da presença dos fãs. Em 1933, ele se aliou ao investidor americano Clifford Roberts e ao designer britânico Alister MacKenzie para construir o Augusta.
Os cuidados com a manutenção fazem do campo um dos melhores do mundo. Todo ano, de maio a outubro, permanece fechado para reparo e descanso do gramado. Alguns de seus greens — área de grama mais rala onde ficam o buraco e a bandeira — possuem sistema subterrâneo de aquecimento e resfriamento para melhorar a conservação da grama. Não é à toa que um terço dos golfistas americanos já afirmou que ficaria um ano sem fazer sexo em troca da chance de jogar no campo. Imagine o que eles não fariam por um paletó verde…