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A startup brasileira por trás de anúncios da Amazon, Nestlé e Unilever - que já faturou R$ 120 mi

De forma simplificada, a Hypr, startup de marketing, utiliza dados geoespaciais e inteligência artificial para encontrar audiências com precisão e otimizar campanhas publicitárias

Adrian Ferguson, fundador da Hypr (Gui Gomes/Divulgação)

Adrian Ferguson, fundador da Hypr (Gui Gomes/Divulgação)

Juliana Pio
Juliana Pio

Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais

Publicado em 18 de outubro de 2024 às 06h00.

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Encontrar audiências com precisão em ambientes digitais ainda é um desafio para marcas de todos os tamanhos. Fragmentação de canais, concorrência acirrada, orçamentos restritos, dados isolados e segmentações ineficazes são obstáculos frequentes para os anunciantes. Em resposta, startups como a Hypr estão desenvolvendo soluções inovadoras para otimizar a segmentação de público e melhorar o desempenho das campanhas.

Fundada em 2020, a Hypr surgiu com o objetivo de compreender o comportamento dos consumidores no varejo físico e direcioná-los para o e-commerce. Com o crescimento de suas operações, a empresa passou a se posicionar como uma plataforma de distribuição de conteúdo - omnichannel, e recentemente atingiu 120 milhões de reais em faturamento acumulado.

“Nossa plataforma é, basicamente, um motor de distribuição de conteúdo que é alimentado por uma combinação de sinais contextuais, como coordenadas geoespaciais de estabelecimentos comerciais, dados macroeconômicos e transacionais, clima e consumo de conteúdo online, que são combinados para construir audiências mais precisas e relevantes para os anunciantes”, explica Adrian Ferguson, cofundador da startup ao lado de César Moura e Flávia Prado.

Recentemente, a Hypr anunciou a chegada de um novo sócio, Mateus Lambranho, ex-private equity da SPX Capital, com o objetivo de dar escala à operação, que já atende cerca de 290 clientes, entre eles Amazon, Nestlé, PepsiCo, TIM, Santander e Unilever.

“Estamos em fase de crescimento, impulsionada pelas vendas e reputação que estamos construindo”, afirma Ferguson, que planeja investir mais de 80 milhões de reais na operação nos próximos dois anos e prevê fechar 2024 com um faturamento de 135 milhões de reais.

Como funciona a tecnologia da Hypr?

A Hypr identifica os consumidores que tenham maior afinidade com uma determinada marca e, em seguida, distribui anúncios em telas digitais, como smartphones, TVs conectadas e mídia exterior. O uso de dados permite otimizar a distribuição de anúncios, reduzindo significativamente a dispersão do investimento publicitário. Identificamos um grupo de pessoas, com base em seu comportamento no mundo físico e em dados sobrepostos, que tem maior propensão a adquirir determinado produto ou serviço, aumentando assim a chance de conversão.

De forma simplificada, conseguimos, por exemplo, utilizar dados fornecidos pelos consumidores sobre sua localização no mundo físico e digital para direcionar as publicidades online. Uma pessoa que frequentava muitas hamburguerias, por exemplo, poderia começar a receber anúncios de ketchup, com base nesse histórico de comportamentos passados. Os locais que as pessoas frequentam são como uma impressão digital de quem elas são. Entendemos esses comportamentos e os direcionamos para o e-commerce.

Pode citar exemplos?

A Hypr consegue, por exemplo, identificar correlações de consumo, combinando diferentes fontes de dados. Um exemplo disso é o cruzamento de informações do Airbnb, como taxa de ocupação e receita de locações de curto prazo, com dados climáticos. Isso permite, por exemplo, direcionar anúncios de repelente de insetos para cidades litorâneas durante períodos mais quentes. Outro exemplo é a recomendação de que marcas de perfumes concentrem suas campanhas em consumidores que frequentam lojas de chocolates, já que, em ambos os casos, o foco é incentivar a compra de presentes.

Vale mencionar que os dados utilizados pela Hypr provêm de fontes públicas ou estão disponíveis para compra no mercado. Toda a operação é gerida internamente pela própria empresa, que atualmente conta com 24 funcionários e uma base proprietária com mais de 3 bilhões de interações entre marcas e consumidores. Isso permite um cruzamento mais detalhado de informações para construir audiências segmentadas.

A plataforma foi desenvolvida com base no conceito de “privacidade por design”, ou seja, nunca coleta ou armazena dados pessoais identificáveis, como números de telefone ou e-mails, garantindo a segurança e a privacidade dos usuários.

Quais são os desafios para garantir a precisão e a segurança desses dados?

Nosso maior desafio foi desenvolver do zero um modelo que não utiliza identificadores pessoais e, ao mesmo tempo, preserva a relevância na entrega de anúncios. Foi uma aposta ousada, já que contrariava o padrão seguido pela maioria dos nossos concorrentes, incluindo grandes empresas de tecnologia. No entanto, essa abordagem tem se mostrado bastante vencedora.

Quais outras soluções a Hypr está desenvolvendo?

Incorporamos inteligência artificial (IA) em várias etapas do ciclo de entrega de valor para nossos clientes, com foco em aumentar a eficiência. Etapas que até pouco tempo atrás demandavam equipes numerosas ou expertise técnica avançada foram amplamente otimizadas. Seria humanamente inviável ter um time analisando o que funciona melhor para cada projeto, dado o grande número de variáveis envolvidas, como sazonalidade, investimento, concorrência e peculiaridades de cada indústria, para sugerir as audiências ideais que devem alimentar a estratégia de mídia dos clientes.

Atualmente, muitas das tarefas complexas, que antes exigiam longas linhas de código, já são executadas por meio de linguagem natural. Isso permite que qualquer empresa acesse dados relevantes sobre o negócio, em tempo real, sem depender de times técnicos.

Quais são os planos futuros da Hypr?

Fomos procurados diversas vezes, tanto por fundos de investimento quanto por parceiros estratégicos, que veem nossa solução como uma alavanca para desbloquear valor por meio do uso inteligente de dados. Optamos, contudo, por continuar operando de forma independente, pois acreditamos que a empresa pode se tornar até dez vezes mais valiosa nos próximos três anos. Como já operamos com lucro, podemos utilizar o tempo a nosso favor, sem a necessidade de ter pressa ou de comprometer o desenvolvimento sustentável do negócio.


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