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Brasil deve mirar setores do futuro, diz cofundador da Apple

Na opinião de Steve Wozniak, o país deve identificar os segmentos mais promissores e abrir sua economia se quiser vencer a corrida tecnológica


	 Steve Wozniak, cofundador da Apple: “Não descarte as pequenas ideias”
 (Alberto E. Rodriguez/Getty Images)

Steve Wozniak, cofundador da Apple: “Não descarte as pequenas ideias” (Alberto E. Rodriguez/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 29 de setembro de 2016 às 05h56.

São Paulo – Há 40 anos, o engenheiro eletrônico Steve Wozniak e o amigo Steve Jobs tiveram a ideia de juntar uma porção de circuitos, colocá-los em uma caixa e vender a máquina para consumidores comuns, dando início à revolução dos computadores pessoais. Aquela invenção deu origem à Apple e a um setor que provocou marcas profundas na economia.

Hoje com 66 anos, Wozniak acredita que haja novos setores a ser explorados e que o Brasil tem chance de aproveitar as oportunidades. “É preciso identificar quais serão as áreas-chave para a economia no futuro e investir nelas”, disse em entrevista a EXAME. Em novembro, Wozniak virá ao Brasil para a conferência HSM Expo.

EXAME - Já faz mais de meio século que o Vale do Silício é o berço de empresas de tecnologia. O que explica isso?

Steve Wozniak - O Vale do Silício só cresceu assim porque, no início, os produtos eletrônicos dependiam do transistor. E os inventores do transistor fundaram na região uma pequena empresa chamada Shockley Semiconductor. Com o tempo, o sucesso da indústria de microprocessadores levou outros empreendedores a criar novos negócios.

EXAME - Qual é a lição que o Brasil pode tirar dessa história?

Steve Wozniak - A maior lição é a importância de ter uma empresa de sucesso que desperte o surgimento de novos negócios. O que o Brasil pode fazer agora é identificar quais serão as áreas-chave para a economia no futuro e investir nelas antes que outros países o façam.

EXAME - Como saber quais são essas áreas?

Steve Wozniak - É importante investir em pesquisa nos projetos mais arriscados e, principalmente, não descartar as pequenas ideias. Elas são muito valiosas.

EXAME - Que tipo de pequena ideia?

Steve Wozniak - O Google e o Facebook são exemplos de negócios que surgiram de pequenas ideias aparentemente sem potencial comercial. A própria Apple também é um exemplo.

EXAME - O senhor poderia dar um exemplo de uma nova indústria que deve ganhar importância econômica no futuro? 

Steve Wozniak - Uma das principais indústrias é a dos carros autônomos e elétricos. O impacto dela extrapola o mercado automobilístico e está ligado a todo o setor de energia. Um carro autônomo e elétrico pode impulsionar o desenvolvimento da indústria de energia solar, que, por sua vez, pode aumentar a demanda por baterias para estocar essa energia. É o tipo de visão que a montadora americana Tesla, de Elon Musk, está seguindo.

EXAME - Há algo que os governos possam fazer para estimular o avanço nessa direção?

Steve Wozniak - A pesquisa e o desenvolvimento em novas tecnologias dependem da importação de componentes eletrônicos, processadores, máquinas, equipamentos e software. Se o governo brasileiro facilitar a entrada dessas ferramentas, sem cobrar pesados impostos, já será um bom começo.

EXAME - O que mais o governo deveria fazer?

Steve Wozniak - É importante ter um ambiente de negócios que facilite o surgimento de novas empresas. Para mim, o indicador que mostra o potencial de um país para gerar riqueza não é a quantidade de grandes companhias ou o lucro que elas apresentam, mas se existe liberdade para as novas empresas se desenvolverem. Se o Brasil caminhar nessa direção, estará à frente dos outros países.

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