Thomas: ao encorajar o consumo, os países agravam a crise ambiental (Fabiano Accorsi/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h38.
Diretor de 2001 a 2005 do Banco Mundial no Brasil e atual diretor-geral do Independent Evaluation Group, braço responsável pela avaliação de projetos da mesma entidade, o economista indiano Vinod Thomas diz que, além de financeira, a natureza das próximas crises a atingir a economia mundial será ambiental. Nesse quesito, segundo ele, o Brasil leva vantagens sobre os demais países e pode se beneficiar.
1) EXAME - Quais são os desafios para que o Brasil mantenha seu crescimento nos próximos anos?
Vinod Thomas - Há evidências de que já estamos atravessando, simultaneamente com a financeira, outras duas crises mundiais: a de alimentos e a do aquecimento global. Se souber aproveitar suas vantagens naturais, o Brasil pode enfrentá-las com sucesso.
2) EXAME - Quais são as vantagens do Brasil?
Vinod Thomas - Ainda há espaço para aumentar a produção agrícola do país de maneira sustentável e potencial para desenvolver mais fontes de energias renováveis, como a hidrelétrica e a de biocombustíveis. Essas medidas também representam oportunidade de ganhar dinheiro com essas crises.
3) EXAME - Os países estão encarando seriamente a ameaça ambiental ou a ênfase está só na crise financeira?
Vinod Thomas - A maioria das economias ainda não se deu conta da urgência dessa questão e lida com a crise financeira segundo os antigos paradigmas, que mandam encorajar o aumento do consumo de tudo. Da forma como é feito hoje, esse aumento de consumo agrava as outras duas crises.
4) EXAME - O que deveria ser feito para evitar o agravamento das outras duas?
Vinod Thomas - Essas crises são como um dragão de três cabeças: as três precisam ser atacadas simultaneamente porque uma alimenta e fortalece as outras. Sobretudo os países mais ricos precisam diminuir as emissões de carbono, reduzindo o consumo e melhorando a eficiência energética de suas indústrias.
5) EXAME - O Banco Mundial, como financiador de projetos, está exigindo mais compromisso com essas questões?
Vinod Thomas - Sim. Nos últimos dois anos, o Banco Mundial desembolsou 80,6 bilhões de dólares para projetos de países em desenvolvimento, mais do que o FMI ou qualquer outra entidade. Isso nos dá oportunidade de recompensar projetos que enfatizam a qualidade sobre a quantidade do crescimento econômico.
6) EXAME - O senhor morou no Brasil até 2005 e escreveu um livro sobre a agenda de desafios socioeconômicos. O que mudou desde então?
Vinod Thomas - O país está avançando na distribuição de renda, e as regiões mais pobres estão crescendo mais do que as mais ricas. Hoje eu enfatizaria ainda mais a necessidade de permitir o crescimento nessas camadas mais pobres e investir na educação
7) EXAME - Como esse crescimento pode ser estimulado?
Vinod Thomas - É preciso desenvolver mais as linhas de microcrédito e melhorar o ambiente de negócios para pequenas e médias empresas, incentivando o empreendedorismo sustentável. A exemplo do que foi na Coreia do Sul, é preciso aumentar os investimentos privados na educação.