Revista Exame

O Brasil num mundo fragmentado

A guerra em Gaza reforça a tese de que vivemos uma era de conflitos sem solução — que precisa entrar no planejamento para os negócios em 2024

Guerra entre Israel e Hamas: potências têm as próprias limitações para se envolver  (Mohammed Zanoun/Getty Images)

Guerra entre Israel e Hamas: potências têm as próprias limitações para se envolver (Mohammed Zanoun/Getty Images)

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 26 de outubro de 2023 às 06h00.

Há 56 anos a EXAME tem a missão de ­desenvolver o capitalismo e o ambiente empreendedor no Brasil. Para isso, um desafio relevante é posicionar o ambiente de negócios num contexto global para lá de complexo. Eventos políticos, pandemias e guerras têm enorme importância nas decisões de investimento e na estratégia de empresas de todos os segmentos.

Num momento em que executivos desenham seus planos e orçamentos para 2024, analisar esses impactos é essencial. Má notícia: a tarefa de antecipar o futuro poucas vezes foi tão desafiadora. A guerra entre Israel e Hamas reforçou a tese de que vivemos numa era de poder difuso e de conflitos sem solução, como explica o historiador americano Michael Kimmage em entrevista nesta edição. Ela se soma a conflitos na Ucrânia, em Mianmar, no Sahel, na Armênia e a um possível conflito em Taiwan, para fazer deste fim de 2023 um período de especial instabilidade.

É a globalização dando lugar à fragmentação, que muda a geografia do poder e das cadeias de distribuição. Governos de Estados Unidos, China e Rússia, por exemplo, estão às voltas com demandas internas prementes, que envolvem paralisia legislativa, crise imobiliária e muitos protestos. Cada potência, como avalia Kimmage, tem um conjunto próprio de limitações não só para se envolver no conflito em Gaza como para ser protagonista da agenda global. Enquanto isso, o mundo vai mudando.

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Outra reportagem desta edição mostra como o México tem se beneficiado de uma nova ordem logística, menos dependente da China. Vizinho dos Estados Unidos, o país pode atrair 35 bilhões de dólares de investimento graças a uma base industrial e logística eficiente — um valor cinco vezes maior do que poderia ser captado pelo Brasil.

Vem da China também a reportagem de capa, que mostra a estratégia global das duas mais ambiciosas empresas chinesas de tecnologia: BYD e Huawei. As duas desenharam negócios verticalizados e investem pesado em tecnologia para conseguir fazer com que seus carros, baterias, smart­phones e redes 5G conquistem o mundo graças a qualidade, preço e serviço. O desafio, para elas, é evitar que seus clientes deixem de comprar seus produtos por causa da geopolítica. As duas empresas já produzem no Brasil, e a BYD deu início em outubro à construção de um novo complexo com três fábricas, na Bahia.

Num mundo fragmentado, a atração de investimentos também será mais e mais fragmentada. Pioneiro em energias renováveis e com um histórico de temperança num mundo em crescente ebulição, o Brasil tem potencial para aumentar sua fatia no bolo global.





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