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O Brasil está mal com Joaquim Levy. Mas estaria pior sem ele

O melhor que temos pela frente no Brasil é a perspectiva de que as coisas não piorem. Já será bom se o governo for obrigado a manter Joaquim Levy no cargo


	 Tarefa ingrata: o ministro Levy tem de dar duro para desmontar, peça por peça, tudo o que foi feito nos últimos anos
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Tarefa ingrata: o ministro Levy tem de dar duro para desmontar, peça por peça, tudo o que foi feito nos últimos anos (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 20 de maio de 2015 às 18h08.

São Paulo - O ministro Joaquim Levy, autoridade principal da economia brasileira, não tem uma política econômica para o Brasil. Aliás, não se espera mesmo que tenha — e, se tivesse, o governo do qual faz parte não permitiria que ela fosse aplicada. O que o ministro tem é uma lista de tarefas sérias a executar, todas urgentes e possivelmente indispensáveis.

Sabe-se que está fazendo o máximo de esforço para cumpri-las, mas seu horizonte fica por aí — tudo o que Levy faz e tem feito desde que assumiu o Ministério da Fazenda deste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff é uma tentativa de frear a disparada do país rumo ao desastre.

Trata-se de carpintaria pesada, quando se leva em conta que todos os problemas imediatos da área econômica foram construídos pelo próprio governo ao longo dos últimos oito anos, peça por peça, com uma bateria permanente de medidas taticamente ineptas, estrategicamente tolas e administrativamente amadoras.

O trabalho de Levy, como se vê, não é construir — é desmanchar. Seria mais simples se tivesse de “desconstruir”, como se diz, a obra de um governo anterior. No caso, ele tem de “desconstruir” a pré-ruína econômica construída pela presidente que o nomeou, por seu patrono e antecessor, o ex-presidente Lula, e pelo partido de ambos. Que Deus ajude o ministro Levy nessa tarefa ingrata.

O Brasil vive no momento uma situação curiosa: para ficar a favor do que o governo precisa fazer no presente, trabalho que consiste basicamente em tirar as contas públicas do caos, o ministro da Fazenda tem de ficar contra o que esse mesmo governo fez no passado. Ou, mais exatamente, o que vinha fazendo até outro dia, quando as regras mais elementares da gestão econômica foram abandonadas em troca de índices de popularidade e exigências de marketing eleitoral.

Além disso, Levy tem de ficar descobrindo o tempo todo meios e modos de alterar a conduta de um governo economicamente neurastênico: quer que ele dê um jeito nos problemas indiscutíveis que estão aí, mas não admite que tenha tomado uma única decisão errada até hoje.

Exige mudanças, porque precisa mostrar resultados “já”, mas proíbe o ministro de dizer que está mudando seja lá o que for. Para completar esses infortúnios, seus maiores inimigos estão dentro do próprio governo, de seu partido e de toda a constelação de CUTs, MSTs e similares que vivem da máquina pública — sem contar empreiteiras, empresários dependentes do BNDES, devedores em busca de leniência e outros tantos adversários intransigentes do Tesouro Nacional.

Contra isso tudo, Levy conta com uma única peça de artilharia — Dilma, Lula, o PT e o resto do sistema não têm ninguém para colocar em seu lugar nem sombra de uma política alternativa para a área econômica. Podem não gostar do que ele está tentando fazer, mas precisam desesperadamente dos resultados que pode dar. Ruim com Levy? Talvez. Pior sem ele? Com certeza.

Após 12 anos e meio de governo petista, a soma final das esperanças possíveis do Brasil de 2015 ficou reduzida a isto: o melhor que temos pela frente, hoje, é a perspectiva de que as coisas não piorem.

Estará de bom tamanho se o governo continuar obrigado a manter o ministro Levy no cargo ­— ele certamente não pretende enfiar o país em novas aventuras fracassadas e pode até desfazer o grosso da situação de deboche que a presidente Dilma e seu entorno criaram nas finanças do Estado.

Será um alívio se os brasileiros forem poupados de novos experimentos econômicos que nem o Professor Pardal teria vontade de testar. Crescimento zero em 2015, como diziam antigamente os locutores de futebol, vai ser considerado “empate com sabor de vitória”.

Teremos repetido, nesse caso, o resultado de 2014, e o atual governo — o segundo pior de toda a história econômica da República, logo após o do presidente Floriano Peixoto — terá dado um passo importante para segurar essa vice-liderança; a outra opção é superar o marechal e levar o título de pior de todos. Fica, Levy.

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