Park Hyeon-Joo: o executivo diz que a história de retomada da Coreia do Sul deve inspirar os brasileiros (Germano Lüders/Exame)
Denyse Godoy
Publicado em 26 de março de 2020 às 05h00.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 15h01.
Reformas, reformas, reformas. Diante da elevadíssima incerteza por causa do novo coronavírus, Park Hyeon-Joo, fundador e presidente do conselho de administração da Mirae, maior instituição financeira da Coreia do Sul, está focado nas perspectivas de longo prazo para o Brasil. Em rara entrevista, Park contou à EXAME, durante visita a São Paulo no início de março, que quer aumentar os investimentos no país.
Quão danoso será o impacto da covid-19 para a economia global?
Difícil responder agora. O mundo ainda está tentando entender de que maneira a pandemia vai reduzir os gastos do consumidor, interromper a produção industrial e quebrar as cadeias de suprimento em toda parte.
Por que a Mirae está investindo no Brasil em um momento de tantas incertezas?
Desde 2003, a Mirae já se expandiu para 15 países. O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo. Vemos grande potencial para o crescimento do mercado financeiro. O governo segue firme nas reformas. Queremos, a partir do Brasil, avançar e nos tornar um dos principais grupos financeiros da América Latina.
Quais similaridades tem o Brasil com a Coreia do Sul?
A Coreia do Sul estava crescendo a taxas de 2 dígitos nos anos 1990. Mas, no começo dos anos 2000, logo após a crise asiática, precisou implementar reformas para tornar a economia mais orientada para o mercado. Assim, as taxas de juro caíram dramaticamente. Hoje, estão em 0,7% ao ano. Nós, que trabalhamos no mercado financeiro, nos lembramos do que aconteceu com a economia da Coreia do Sul ao se transformar em um país de juros baixos, e essa mudança pode ser muito empolgante para o Brasil também. O Brasil é uma economia importante tanto pelo tamanho de seu mercado doméstico quanto pela exportação de matérias-primas. Esperamos que as reformas impulsionem o potencial de consumo e o crescimento.
Em que outros tipos de negócio a Mirae pretende investir no Brasil?
A Mirae tornou-se uma das maiores investidoras no mercado imobiliário internacional. Está perto de finalizar a compra de 15 dos maiores hotéis dos Estados Unidos, como o The Ritz-Carlton, o Half Moon Bay e o Four Seasons Silicon Valley. Gostaríamos de buscar novos investimentos como esse no Brasil. Já temos vários ativos de escritórios de primeira linha nos Jardins e na região da Avenida Berrini, em São Paulo. Estamos também interessados no agronegócio, como uma opção de investimento privado em participações, e no comércio eletrônico.
Com a severa depreciação do real neste ano, mais investidores estrangeiros devem vir para o Brasil?
Vemos espaço e desejo dos estrangeiros em investir no Brasil porque veem o país como um mercado próspero. Considerando que a inflação está se estabilizando e que há planos para uma reforma administrativa e para uma reforma tributária, vai haver um cenário propício ao aumento do potencial de crescimento e à redução da dívida pública.
A confusão no cenário político do Brasil o assusta?
Respeito o fato de o Brasil ter uma sólida e bem estabelecida democracia, e de seus políticos serem eleitos pela população numa eleição justa. Espero que, com as reformas, haja um ambiente melhor de negócios para empreendedores como eu.