Revista Exame

O Brasil acha um caminho para o crescimento

Nem a euforia asiática, nem a depressão europeia. Em 2012, o país reforça sua opção de crescimento razoável e, acima de tudo, estável. Não chega a ser brilhante, mas é o possível por enquanto

Comércio cheio no Rio de Janeiro: o consumo será de novo o motor do PIB (Marcelo Correa/EXAME.com)

Comércio cheio no Rio de Janeiro: o consumo será de novo o motor do PIB (Marcelo Correa/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 1 de março de 2012 às 09h24.

São Paulo - Veio de Davos, a gélida cidade suíça que virou sinônimo de capitalismo, a melhor leitura do estado atual da economia brasileira. Durante a reunião deste ano do Fórum Econômico Mundial — desde 1971 uma espécie de meca do jet set global —, o Brasil foi apontado como o terceiro país mais importante para o crescimento das empresas globais, atrás apenas de China e Estados Unidos.

É uma posição ainda melhor que a obtida no recém-divulgado ranking de atração de investimento direto estrangeiro, que deu ao país o quarto posto em 2011. Não temos, é evidente, o fôlego estonteante dos países emergentes da Ásia, da China e da Índia à frente. Mas, aos poucos, o Brasil vai consolidando um caminho próprio.

Distante tanto da euforia chinesa quanto da depressão europeia, esse caminho consiste de uma combinação de crescimento pelo menos razoável com estabilidade quase inacreditável a qualquer brasileiro com mais de 40 anos de idade.

Excetuando-se o ano eleitoral de 2010, em que a economia foi visivelmente hiperaquecida, o Brasil parece ter entrado num voo de cruzeiro, em que o crescimento oscila em torno de 3,5% anualmente. A estabilidade pode-se notar até mesmo pelo número de ocupantes do Ministério da Fazenda — foram 12 entre 1985 e 1994 e apenas três desde então.

“O potencial de expansão brasileiro é de até 5% ao ano, um pouco acima do patamar atual”, afirma Jim O’Neill, presidente da gestora de recursos do banco americano Goldman Sachs e um dos primeiros a notar a capacidade transformadora dos quatro grandes do mundo emergente reunidos na sigla Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). “Não é um avanço de 10%, como o chinês. Para chegar a ele, talvez o Brasil precisasse atrair dezenas de milhões de imigrantes.”

Como tem ocorrido desde meados da última década, mais uma vez a alta do PIB em 2012 estará umbilicalmente ligada à demanda do mercado interno. É um trunfo e tanto: milhões de famílias da chamada nova classe média hoje consomem de carros e eletrodomésticos novos a pacotes de viagem, bens aos quais antes não tinham acesso.

Graças ao consumo dos próprios brasileiros, o crescimento econômico deste ano deve superar o de 2011, inferior a 3% — as apostas para 2012 estão na faixa entre 3,3% e 4,5%. Além da própria taxa mais alta, há ainda outra vantagem no ano que se inicia.

É como se 2011 e 2012 se olhassem no espelho e enxergassem seu oposto: um começou com euforia e terminou em ressaca; o outro começa titubeante, mas tende a engrenar a partir do segundo semestre.

Ou mesmo antes — nas contas de muita gente, a retomada provavelmente será antecipada. “O Brasil precisou dar uma boa freada no ano passado para desaquecer a economia, mas já temos sinais da volta do crescimento”, afirma Cristiano Souza, economista do banco Santander.  


Para quem acredita num ano bom, o otimismo é enfático. A SDLG, multinacional controlada pela Volvo que chegou ao Brasil há dois anos para vender máquinas pesadas à indústria de construção, prevê um crescimento de até 5% em seu segmento, segundo o diretor executivo da companhia na América Latina, Afrânio Chueire.

A promessa de aumento do investimento público em infraestrutura dá fôlego extra a um setor aquecido pelo aumento do crédito e iniciativas governamentais como o Minha Casa, Minha Vida. “O setor diminuiu a velocidade em 2011 com a redução dos gastos do governo, mas foi até bom. Ele estava muito acelerado”, diz Paulo Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.

Recolocar a economia no eixo, aliás, talvez tenha sido a principal conquista econômica da presidente Dilma ­ Rousseff ­em seu primeiro ano de mandato. Por isso, os prognósticos para 2012 são positivos. A inflação no ano passado correu frequentemente acima da meta de 6,5% definida pelo país e fechou o ano exatamente nesse limite.

Em 2012, a previsão é de queda de pelo menos 1 ponto percentual, já bem mais próximo do centro da meta, de 4,5%. Como muitas empresas estão com estoques elevados — outra herança dos meses de superaquecimento —, alguns produtos terão de ser desovados a preços relativamente comportados.

Em outro front, os juros devem continuar em queda, conforme deixou claro o Conselho de Política Monetária em sua última reunião. Na ata recém-divulgada, há uma referência explícita a uma taxa de juro, hoje em 10,5%, de um dígito. 

Os limites do possível

Não convém exagerar, porém, no otimismo. Os altos e baixos de antigamente foram atenuados. Os prognósticos atuais são de que o Brasil manterá o crescimento próximo de 4% até pelo menos 2016. É um desempenho notável na comparação com economias como as de Estados Unidos, França e Japão.

É também um alívio: afinal, depois da montanha-russa dos anos 80 e do voo de galinha da década seguinte, o Brasil voltou a ser um país que cresce. Mas persiste a sensação de que não estamos aproveitando nosso potencial. Eis uma razão: investimos pouco. Sem resolver o gargalo da infraestrutura, não dá para vender mais.

E é assim que empregos deixam de ser criados. A lista dos obstáculos ao crescimento inclui ainda a alta carga tributária e as amarras da burocracia, que minam a competitividade das empresas.

“O Brasil avançou nos últimos anos: somos um país fiscalmente responsável, gerimos bem a crise de 2008. Mas precisamos criar uma agenda de crescimento que permita aumentar a poupança interna, melhorar a educação e abrir mão do consumo para acumular recursos”, diz o economista Samuel Pessoa. Até que isso ocorra, nos resta comemorar nosso passo lento e firme.

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