Revista Exame

O que pensa Daniel Hajj, o braço direito de Carlos Slim?

O mexicano Daniel Hajj, genro do homem mais rico do mundo e presidente do grupo que controla Claro, Net e Embratel no Brasil, admite: os serviços de telecomunicações não estão no patamar em que deveriam estar no país

Daniel Hajj, presidente do grupo América Móvil (Germano Lüders/EXAME.com)

Daniel Hajj, presidente do grupo América Móvil (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - Aos 47 anos, o mexicano Daniel Hajj é um dos executivos mais importantes do mercado mundial de telecomunicações. Genro e braço direito de Carlos Slim, o homem mais rico do mundo, Hajj preside o grupo América Móvil — o maior do setor no México e dono, no Brasil, da operadora de celular Claro, da prestadora de serviços de rede Embratel e da companhia de TV por assinatura, banda larga e telefonia fixa Net.

Hajj foi alçado ao posto aos 34 anos. Em recente visita de negócios a São Paulo, ele falou a EXAME sobre os maiores problemas da telefonia móvel no país, por que o Brasil é apontado por analistas como um dos grandes responsáveis pela recente queda no lucro da América Móvil e os planos para revitalizar suas operações no país. A seguir, os principais trechos da entrevista.

EXAME - No Brasil, as operadoras de telefonia estão entre as empresas com os piores índices de satisfação do consumidor. O que as companhias da América Móvil têm feito para melhorar isso?

Daniel Hajj - Se não estamos entregando um serviço de qualidade, as pessoas têm razão de reclamar. E, de fato, não estamos no estágio em que gostaríamos de estar. Dito isso, é importante que fique claro que iremos reverter essa situação — e logo. O que acontece hoje é que a tecnologia dos smartphones se desenvolveu num ritmo mais rápido do que o da infraestrutura necessária para fazê-los funcionar bem.

É um cenário parecido com o que tivemos no fim da década de 90, quando ocorreu um aumento repentino na venda de celulares e as redes não deram conta da demanda. Mas pode estar certo de que estamos trabalhando para melhorar. As pessoas talvez não tenham percebido, mas nossos números internos mostram uma melhora em nossa qualidade.

EXAME - Qual é o volume do investimento previsto para o Brasil?

Daniel Hajj - Vamos investir mais de 10 bilhões de reais em 2013 no país. É metade do investimento que o grupo América Móvil fará neste ano globalmente. Só isso é muito revelador. Mostra quanto o Brasil é estratégico para nós. Estamos cumprindo os requerimentos da Anatel para expandir nossa rede de fibra óptica.

Também estamos trazendo um novo cabo submarino para conectar o Brasil e outros países da América Latina à Europa. Outra parte importante dos investimentos será aplicada na rede 4G. Estreamos recentemente o serviço em São Paulo. Temos 12 cidades com 4G no Brasil e é provável que cheguemos a 50 até o fim do ano.

EXAME - A América Móvil teve queda de 10% no lucro no primeiro trimestre de 2013, e alguns analistas apontam o Brasil como o responsável. O que aconteceu?

Daniel Hajj - O Brasil hoje tem um peso grande no negócio do grupo. É responsável por 27% da receita da América Móvil, atrás apenas do México, que responde por pouco mais de 30%. Estamos investindo na expansão de nossas redes no Brasil, principalmente na de telefonia celular, com o 4G.

Há também uma forte estratégia para o aumento da base de smart­phones, que já representam mais da metade das vendas de aparelhos na Claro. A meta é que, em três anos, eles representem quase 100%. Hoje temos custos adicionais, e os resultados imediatos podem não ser tão bons. Mas investimos sempre pensando no longo prazo. 

EXAME - No México, a América Móvil domina mais de 70% do mercado de telefonia. No Brasil, a competição é muito mais acirrada. Isso reduz as margens? 

Daniel Hajj - No Brasil, disputamos o mercado com três grandes grupos: Oi, TIM e Vivo. Essa competição nos obriga a usar práticas como o subsídio de aparelhos, que, no curto prazo, reduzem as margens de lucro. Hoje, dependendo do plano, há smartphones que saem de graça. Não gostamos de fazer isso, mas a política de nossas competidoras é agressiva. Se uma começa a subsidiar, as outras têm de ir atrás. Mas há um fator positivo. Os descontos fazem os clientes adotarem novas tecnologias mais rapidamente. 


EXAME - As empresas Oi e Vivo unificaram suas operações de telefonia, TV e banda larga numa só marca. Por que o senhor continua mantendo várias marcas no Brasil?

Daniel Hajj - Em 2010, fizemos a fusão de Claro, Net e Embratel e começamos o processo de integração. Essa é uma tarefa que precisa ser feita com calma. É preciso pensar na melhor estratégia para integrar a infraestrutura, as diferentes tecnologias e as equipes de vendas. Temos de evitar investimentos duplicados. Essa integração, quando estiver totalmente finalizada — e esperamos que isso não leve muito tempo —, vai tornar a empresa mais produtiva e mais competitiva. Quanto às marcas, pelo menos nos próximos três anos não pretendemos unificá-las.

EXAME - No Brasil, a operação da Net é a que tem apresentado os melhores resultados financeiros. Ela é a grande aposta do grupo?

Daniel Hajj - Não existe essa preferência. É como me perguntar qual é o meu filho favorito. Filhos são diferentes, são bons em áreas diferentes, mas não há preferidos. A Net tem feito um trabalho bom, pois vem crescendo num ritmo acelerado. Tem conquistado uma participação importante do mercado de telefonia, banda larga fixa e TV por assinatura. Mas as três empresas do grupo são uma só. Sendo assim, não faz sentido apostar em  apenas uma.

EXAME - O México está prestes a aprovar uma reforma no setor de telecomunicações que poderá forçar a América Móvil a encolher. Se isso acontecer, o Brasil passará a ser a prioridade do grupo?

Daniel Hajj - O governo mexicano está propondo medidas regulatórias que ainda não estão claras. É preciso ver se as novas regras vão mesmo servir de incentivo para investimentos no país. Dito isso, continuaremos interessados no México e em todos os países em que atuamos. Faremos isso enquanto as regras desses países fizerem sentido. Se, no futuro, eventuais mudanças transformarem o nosso negócio em algo inviá­vel, iremos rever nossa estratégia. Mas, por enquanto, nada vai mudar. 

EXAME - Como está a preparação para cumprir as exigências feitas pelo governo brasileiro para eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos? Os usuários estão com medo de que ocorra uma pane generalizada...

Daniel Hajj - Somos patrocinadores da Olimpíada e vamos oferecer a infraestutura de telecomunicações no evento. Com relação à Copa, estamos trabalhando para fornecer redes 4G e ter boas velocidades na rede 3G. Uma alternativa é a instalação de antenas Wi-Fi não só nos estádios mas em qualquer local de grande concentração de pessoas. Isso se faz muito em outros países, mas no Brasil ainda há poucas redes sem fio. Queremos acelerar nesse sentido.

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