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O bônus vai ser gordo em private equity

Uma pesquisa exclusiva mostra que os executivos dos fundos de private equity nunca ganharam tanto dinheiro no Brasil. Até quando a euforia vai durar?

Héctor Nunez, contratado pelo Carlyle: do Walmart para a Ri Happy (Kiko Ferrite/EXAME.com)

Héctor Nunez, contratado pelo Carlyle: do Walmart para a Ri Happy (Kiko Ferrite/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 23 de março de 2012 às 06h00.

São Paulo - Até pouco tempo atrás, os bancos de investimento eram o empregador dos sonhos no mercado financeiro. Os figurões dos grandes bancos estrangeiros chegaram a ganhar, no auge da farra das aberturas de capital, em 2007, mais de 15 milhões de dólares de bônus anual.

De lá para cá, as cifras ficaram mais modestas — para os padrões dos banqueiros, claro. Ainda há bônus milionários, mas, em muitas instituições, boa parte deles começou a ser paga em ações e em até cinco parcelas anuais (numa tentativa de conciliar a remuneração dos executivos com os resultados de longo prazo das instituições).

Os bancos, enfim, perderam o glamour de outrora. Mas a turma do mercado financeiro não precisa se preocupar. Surge, no Brasil, um novo filão que promete uma remuneração gorda, gordíssima: o negócio, agora, é trabalhar num fundo de private equity.

Nunca foi tão vantajoso ser funcionário desses fundos, que levantam recursos com investidores para comprar e vender empresas. Apesar da crise, essas instituições, no Brasil e no exterior, tiveram bons desempenhos no último ano — e seus profissionais não têm do que reclamar.

A remuneração no Brasil subiu, em média, 30% em 2011, segundo pesquisa inédita da consultoria de recrutamento Flow, especializada em finanças. Entre salário e bônus, o diretor-geral de um fundo ganha de 1,2 milhão a 1,6 milhão de reais por ano.

É menos da metade do que recebe um banqueiro em posição semelhante, mas o executivo de um private equity tem um poderoso incentivo: quando consegue completar com sucesso um ciclo de investimento (ou seja, comprar uma fatia de uma empresa e vendê-la anos depois com lucro), recebe um extra que pode chegar a 40 milhões de reais.

Foi isso que atraiu o cubano Héctor Nunez, ex-presidente do Walmart no Brasil, contratado pelo fundo Carlyle em fevereiro. “Este é o ganho mais interessante: quanto você leva se o negócio efetivamente dá certo”, diz Nunez, que afirma ter recebido outras sete propostas de empresas desde que deixou o Walmart, no fim de 2010, mas preferiu o Carlyle.

A concorrência por talentos está obrigando os fundos a ser generosos na hora de tirar executivos da concorrência. Segundo cálculos da Flow, um fundo tem de oferecer pelo menos 30 milhões de reais para roubar o chefe de um rival. Esse montante se explica porque, ao trocar de fundo, o executivo deixa para trás qualquer possível retorno que seus investimentos trariam.


Se tudo continuar como está, a tendência é que esses valores continuem em alta. Os fundos de private equity nunca tiveram tanto dinheiro para investir no Brasil. Nos últimos dois anos, foram levantados 20 bilhões de reais, crescimento de 55% em relação ao montante de 2008 e 2009.

Grandes firmas internacionais, como Apax e TPG, abriram escritórios no país recentemente e ainda não preencheram todas as vagas. O KKR está procurando um chefe para sua operação local desde o início de 2011.

O TPG aproveitou a entressafra dos bancos de investimento e contratou Denis Jungerman, ex-diretor do Credit Suisse, para chefiar sua operação aqui depois que os bônus dos executivos do banco caíram 41%.

Caça nas empresas

Os fundos que têm como estratégia comprar o controle de empresas também estão buscando profissionais para ocupar gerências, diretorias e algumas presidências das companhias em que investem. A GP Investimentos levou seis meses para contratar um diretor financeiro para a LBR Lácteos, dona das marcas Bom Gosto e LeitBom.

O escolhido foi o paulistano Marcos Mendes Gabriel, de 40 anos, ex-Unilever. “Os fundos estão invadindo as empresas, atrás de profissionais”, diz Bernardo Cavour, diretor da Flow. O Carlyle contratou 75 executivos em menos de dois anos. 

Ainda que sejam altíssimos, os bônus oferecidos pelos fundos de private equity costumam ser menos criticados que os dos bancos de investimento, porque boa parte deles está atrelada a resultados de médio prazo — os investimentos, afinal, precisam dar certo.

Apesar disso, a remuneração desses fundos está no centro do debate da campanha presiden­cial americana (o candidato republicano Mitt Romney é o criador do fundo Bain Capital e tem um patrimônio estimado em 200 milhões de dólares). Uma das propostas em discussão prevê dobrar o imposto que incide sobre os bônus — e até dá para entender por quê.

Stephen Schwarzman, presidente do Blackstone, ganhou impressionantes 214 milhões de dólares em 2011, 33% mais que no ano anterior — enquanto o desemprego no país permanece altíssimo. A remuneração por aqui não chega nem perto da americana. Mas está crescendo tanto que, para quem está de olho numa vaga, não custa sonhar.

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