Revista Exame

O bom chefe sabe quando sair de cena

1 - Assumi há cerca de dez dias a gestão de um departamento de 15 pessoas numa empresa que tem apresentado bons resultados. Meu antecessor se aposentou, mas ainda presta serviços de consultoria. O time claramente ainda joga no time dele — e não me reconhece como a nova líder. Como ganhar a equipe? Anônimo É natural que as […]

O bom chefe sabe quando sair de cena (Marcelo Caldeira/EXAME.com)

O bom chefe sabe quando sair de cena (Marcelo Caldeira/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2014 às 20h15.

1 - Assumi há cerca de dez dias a gestão de um departamento de 15 pessoas numa empresa que tem apresentado bons resultados. Meu antecessor se aposentou, mas ainda presta serviços de consultoria. O time claramente ainda joga no time dele — e não me reconhece como a nova líder. Como ganhar a equipe? Anônimo

É natural que as pessoas se acostumem ao estilo de um chefe ao longo dos anos. E, claro, quanto mais o tempo passa, mais apego tende a existir. É natural também que, quando esse profissional deixa o cargo, permaneçam a referência e eventualmente certa nostalgia, sobretudo se os resultados são bons.

A comparação imediata entre o antigo e o novo chefe é inevitável. As pessoas começam a fazer uma espécie de jogo dos sete erros entre o estilo de gestão do antecessor e o do sucessor. A razão é bem simples. As diferenças podem trazer mudanças — e as pessoas, em geral, são resistentes a mudanças. 

No seu caso, o antigo chefe deve ser uma pessoa competente, mas o tempo passa e a fila tem de andar. Assim é a vida. Quando o executivo se aposenta, o preferível é afastá-lo para que o sucessor possa assumir de fato a nova posição. Um novo chefe já terá de conviver com a sombra do antecessor por algum tempo.

Lidar com a figura presente do antecessor só atrasa a passagem do comando. Se no seu caso ele tiver de ficar por perto por algum motivo, observe se ele é disciplinado o bastante para evitar contato direto com a equipe. Ele deve endereçar as pessoas que o procuram ao novo chefe, a quem ele deve dar o máximo apoio.

Você deve ser a principal interlocutora dele neste momento. E ele deve ajudá-la a conquistar o time. Afinal, se você foi colocada nessa posição, é porque ganhou a confiança de seu chefe, foi reconhecida como capaz de conduzir a equipe e tem possibilidades futuras na empresa. 

Em minha opinião, de nada adianta tentar disputar poder com seu antecessor. Na verdade cabe exigir seu espaço já conquistado. Caso o chefe antigo esteja apegado à posição de liderança, melhor seria providenciar o afastamento físico dele imediatamente. Pelo que percebo de sua pergunta, a empresa está errando profundamente em deixá-lo por perto.

Ele poderia ainda continuar a trabalhar como consultor. Mas em casa ou em qualquer lugar fisicamente distante do escritório e à sua disposição. Ou seja, quando você precisasse dele por algum motivo, poderia chamá-lo. Se essa situação não for resolvida pela empresa, é melhor você procurar outro trabalho.

Tenho 71 anos e confesso que tenho pouca paciência com velhos que se apegam a posições de poder. É pura falta de ética profissional. É falta de percepção da sequência da vida.

2 - Percebo que, por vezes, um mesmo time vencedor parece simplesmente desistir de ser eficiente. Será que, diante de tanto sucesso, as pessoas se tornam mais acomodadas? Os times de trabalho têm prazo de validade? Antonio Cesar Leandro, de Minas Gerais

O prazo de validade — ou capacidade de gerar bons resultados — está diretamente relacionado à motivação individual e à união do time. Sem os dois ingredientes, a receita desanda mesmo. Acredito profundamente que, mantidos todos os outros fatores constantes, um time motivado pode realizar coisas inimagináveis.

A grande questão que se coloca é saber o que é motivação e como consegui-la. Estou convencido de que boa parte dos altos executivos das empresas não percebe o valor da motivação humana em sua plenitude.

A definição mais completa que já encontrei a respeito disso consiste no conceito de saúde mental que o psicólogo americano Abraham H. Maslow elabora em sua obra clássica sobre o tema, Motivation and Personality, cuja leitura já recomendei nesta coluna.

Em linhas gerais, trata-se de oferecer aos funcionários, por um longo tempo, a satisfação de suas necessidades básicas de vida — sejam elas fisiológicas ou de segurança, pertencimento, estima e autorrealização. 

No quesito autorrealização, tenho visto empresas promoverem a rotação de pessoal gerencial (mas não de técnicos) a cada três anos, no máximo, com muito sucesso. Isso é ideal­ para o aprendizado das pessoas, para seu crescimento. E pode ter um bom impacto na motivação.

Além de ter as pessoas motivadas, outro fator muito importante é manter a união de um time por meio de um objetivo bem claro em comum. Muitas vezes perdemos uma grande meta de vista quando começamos a achar mais importante gastar tempo em discussões intermináveis sobre processos internos em vez de se lembrar qual é a razão de ser de toda a corporação. 

O que une as pessoas é o sonho comum. Uma empresa que não é capaz de criar e comunicar um grande objetivo a todos os seus funcionários — e a seus clientes — tem um problema sério. É importantíssimo que cada companhia e cada time tenham um sonho e que ele seja grande.

Diante desse sonho grande, todas as pessoas da empresa têm de ser cobradas por sua parcela na execução da estratégia. Diferentemente do que muita gente pensa, as pessoas se sentem bem quando cobradas com o devido respeito e com a oferta de ajuda em caso de necessidade. (O que falta em geral é justamente essa segunda parte.)

Se isso existe, as pessoas tendem a ter o pensamento natural, que gera um time de resultados: “Se me cobram tanto é porque o que faço é muito importante”.

Um sonho grande em comum acaba com as picuinhas do dia a dia porque elas ficam muito pequenas e irrelevantes. Acredito que, se a empresa mantém as pessoas motivadas em torno de um sonho grande, o time permanecerá campeão por muito tempo.

Acompanhe tudo sobre:Edição 1012Gestão de pessoasgestao-de-negociosGurusLiderançaVicente Falconi

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda