Produção da Suzano: a companhia tem demonstrado capacidade de repassar preços e está em ritmo de desalavancagem, sendo um papel com potencial de valorização (Germano Lüders/Exame)
Repórter Exame IN
Publicado em 14 de fevereiro de 2025 às 06h00.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2025 às 14h31.
Quando o ambiente está nebuloso, é importante ter os olhos bem abertos. Em 2025, sobram incertezas sobre a bolsa. Em 2024, o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, amargou uma queda de mais de 10%, encerrando o ano em 120.283 pontos, no pior desempenho desde 2021. Em janeiro deste ano, ensaiou uma recuperação, encerrando o mês em alta pela primeira vez em cinco meses, ao avançar 4,86%, para 126.134,94 pontos. Nesse sobe e desce, o cenário econômico carrega desafios, como a política monetária restritiva, a pressão fiscal e as incertezas eleitorais.
Mas há, também, bons caminhos a seguir, com preços atraentes para investidores atentos. Para quem busca retornos no longo prazo, a seleção criteriosa de ativos é essencial para capturar oportunidades. “O momento exige cautela, mas há boas oportunidades para quem olha para a frente e consegue montar posições bem fundamentadas”, afirma Jerson Zanlorenzi, responsável pela Mesa de Ações do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).
Com a taxa Selic em 13,25%, o apelo da renda fixa, que já havia imperado no ano passado, continua forte. E não há indicações de mudanças. As projeções compiladas no Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, apontam para uma Selic em 15% ao final de 2025. “O investidor de curto prazo olha para o juro a 15% e tem dificuldade de justificar o risco de bolsa”, diz Humberto Meireles, sócio e integrante da equipe de gestão de ações da Vinland.
As chances estão para quem vê um horizonte mais longo. A leitura de grande parte dos agentes de mercado é de que 2025 será um ano de transição, com maior volatilidade no primeiro semestre e um segundo semestre marcado pela aproximação das eleições presidenciais. Na visão de Aline Cardoso, head de pesquisa e estratégia do Santander, a atenção do mercado deve se dividir entre os impactos dos juros elevados e as incertezas políticas. “Os primeiros meses do ano ainda serão pautados pelos efeitos da política monetária restritiva, mas, conforme o segundo semestre se aproximar, a volatilidade deve aumentar à medida que o cenário eleitoral ganhar forma.”
O Santander projeta o Ibovespa a 145.000 pontos ao fim do ano, enquanto o BTG Pactual trabalha com um cenário-base de 146.000 pontos, podendo oscilar conforme os desdobramentos fiscais e macroeconômicos. No cenário mais pessimista do BTG, o índice pode cair para 89.000 pontos, enquanto, no mais otimista, pode atingir 201.000 pontos.
Diante de um cenário de incerteza, os especialistas são unânimes ao afirmar que 2025 será um ano de geração de alpha, ou seja, de ganhos proporcionados pela escolha acertada de empresas individuais, e não apenas pelo movimento geral do mercado. “A bolsa como um todo pode não ter um grande rali, mas empresas bem selecionadas vão entregar valor”, diz Meireles. Entre os setores mais citados estão os de utilities e commodities, além de empresas com balanços sólidos e capacidade de repassar preços. O BTG destaca nomes como Petrobras, Itaú, Sabesp, Copel, WEG, Suzano e BB Seguridade. A head do Santander observa a importância de empresas com pricing power, ou seja, aquelas com capacidade de repassar custos ao consumidor sem perder demanda, protegendo suas margens de lucro mesmo em cenários adversos. Entre esses exemplos estão Totvs, Raia Drogasil e bancos.
O fluxo estrangeiro para o Brasil segue tímido, reflexo da perda de relevância do mercado local nos benchmarks globais. “O Brasil representa apenas 4% do MSCI -Emerging Markets. Muitos investidores compram apenas dois ou três papéis brasileiros e já consideram sua exposição suficiente”, diz Cardoso. No entanto, fundos quantitativos começaram a entrar no mercado local, impulsionados pela rotação de capital saindo dos Estados Unidos e da Europa.
Por isso, ainda que haja ventos contrários, os preços atuais criam oportunidades. “Os valuations estão muito descontados. Empresas bem geridas, que já passaram por vários ciclos econômicos, tendem a sair fortalecidas desse momento”, diz Meireles. O Brasil continua a ser um mercado de risco, tanto pela volatilidade interna quanto pelo cenário externo. O impacto das políticas econômicas de Trump nos EUA e a desaceleração da China seguem como fatores de incerteza. Por aqui, o olhar já se volta para as eleições presidenciais de 2026, o que amplia a instabilidade e torna o momento mais complexo, mas também estratégico para investidores dispostos a assumir riscos calculados. Para quem tem paciência e estômago para a volatilidade, 2025 pode ser um ano de boas compras.