Marina Daur, head de marketing da Ocean Drop (Leandro Fonseca /Exame)
Editora-assistente de Marketing e Projetos Especiais
Publicado em 5 de agosto de 2025 às 06h00.
Relógios inteligentes, smart rings e sensores biométricos entraram de vez na rotina de líderes empresariais como aliados para controlar em tempo real saúde, segurança e produtividade. A digitalização do corpo e da casa transformou a forma como esses executivos tomam decisões — dentro e fora do trabalho.
A adoção de tecnologias como inteligência artificial e internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) deixou de ser um tema de inovação corporativa para guiar escolhas cotidianas pessoais. Entre os entrevistados pela EXAME CEO está quem use algoritmos para definir a intensidade do treino, automatizar a rotina dos filhos ou rastrear a segurança familiar em outra parte do mundo. No centro dessa mudança está o uso de dados em tempo real para ampliar a clareza mental, prevenir a exaustão e criar autonomia — um novo capítulo da busca por performance executiva.
Durante 15 anos, Marina Daur (foto acima) foi uma executiva do setor de bebidas habituada a agendas noturnas e meses de Carnaval patrocinado. Hoje, como head de marketing da empresa de suplementos naturais Ocean Drop e atleta amadora, é o ritmo do corpo — e não o do mercado — que comanda seu dia.
A mudança foi motivada por dois eventos: a internação de um familiar por alcoolismo e a entrada em um grupo de corrida. “No começo eu nem sabia o que era pace”, diz, referindo-se ao tempo médio por quilômetro monitorado pelo -Garmin.
A partir daí, passou a registrar treinos no Strava e a monitorar sono, batimentos e fadiga com precisão cirúrgica. Em 2022, um desmaio no quilômetro 19 da Maratona de Berlim a levou a dobrar o cuidado. “Não era exaustão física, era efeito de um remédio. Desde então, valorizo ainda mais os dados de saúde. Eles são aliados para que eu entenda os limites do meu corpo.”
Hoje, Marina lidera equipes remotas em três estados e treina quatro vezes por semana nos parques de São Paulo. Nesse seu novo momento, é a busca pelo bem-estar que dita o seu ritmo.
Alexandre Bernardoni, fundador da Automate 2 Accelerate ( Leandro Fonseca/Exame)
Formado em ciência da computação pela Universidade de São Paulo, Alexandre Bernardoni passou mais de 30 anos desenvolvendo produtos de inteligência artificial para grandes empresas. Ao longo de três décadas, criou cinco negócios — quatro foram vendidos e um evoluiu para a High Platform, companhia especializada em soluções de chatbot, e onde atua hoje como -conselheiro.
Fundador da Automate 2 Accelerate, consultoria especializada em IA corporativa, Bernardoni ajudou a implantar os dois primeiros projetos comerciais de inteligência artificial no Brasil, para Sky e Netshoes. Hoje, usa a automação para facilitar a rotina. Ele comanda ambientes por voz, monitora a localização dos filhos adolescentes por rastreadores e planeja viagens. “Tudo ficou mais rápido e prático com os comandos por voz, seja para traçar uma rota, seja para ouvir uma música”, diz.
Em uma ida à Itália, substituiu o guia turístico por uma IA móvel, que contextualizava obras de arte e marcos históricos em tempo real. “Foi uma verdadeira imersão guiada por IA”, afirma.
Em casa, os gadgets ajudam a manter a segurança e a tranquilidade da família. Os celulares estão pareados, permitindo que ele e a mulher acompanhem a localização dos filhos adolescentes. “Quando minha filha mais nova foi para um intercâmbio na Noruega sem celular, um rastreador na mochila revelou onde era a casa da família anfitriã. A partir dali, comecei a explorar o bairro com o Google Earth. Foi uma viagem à parte”, conta Bernardoni.
Felippe Guerra, fundador da Brasis (Leandro Fonseca /Exame)
Filho de um dos primeiros operadores de bolsa negros do país e de uma artista plástica, Felippe Guerra é criador da Brasis, agência que desenvolveu uma abordagem incomum: conectar grandes marcas à cultura brasileira fora do eixo Rio-São Paulo. A ideia nasceu durante os três anos em que viveu nos Estados Unidos como professor da Miami Ad School. De volta ao país, passou a organizar experiências imersivas para conectar marcas a comunidades locais. A mais recente foi em Serrita (PE), terra do cantor João Gomes, onde promoveu encontros com influenciadores locais e mostrou o alcance da programação popular, que inclui missa, festa do peão e do forró.
Por causa do trabalho, Guerra viaja com frequência e coleta informações com um dispositivo que parece um pingente comum, mas que na verdade é um gravador inteligente da Plaud com IA integrada. “Ele organiza os áudios por temas e ainda transforma tudo em mapa mental”, explica. “É ótimo para processar tudo o que observo.”
A casa — ou melhor, as casas — também opera por sensores. Guerra vive entre São Paulo e Salvador e usa relógios inteligentes para monitorar a segurança e o ambiente. Sem tempo para frequentar assessorias esportivas, ele também começou a automatizar a rotina de treinos. Para isso, criou um sistema de interação com o ChatGPT: a IA analisa e cruza seus dados de -desempenho com artigos de nutrição e séries de musculação, exercícios aeróbicos e calistenia. “Tem funcionado bem. A IA virou uma espécie de treinador virtual”, diz ele.
Cadu Mayresse, fundador da Mayresse Arquitetura (Leo Orestes/Exame)
Entusiasta da tecnologia, o arquiteto Cadu Mayresse transformou sua casa em Gramado, no Rio Grande do Sul, em um laboratório pessoal de automação. “Som, luz, telão, ar-condicionado, câmeras de segurança... tudo é integrado e pode ser controlado pelo celular ou por comando de voz”, diz.
Fundador e diretor criativo da Mayresse Arquitetura, ele aplica a mesma lógica em seus projetos. “A tecnologia não é só uma ferramenta — é filosofia. Ajuda a organizar o tempo, tomar decisões mais inteligentes e manter o foco no que mais importa: projetar espaços que acolham e inspirem. No escritório, investe em inteligência artificial para tarefas operacionais. “Estamos implantando um CRM inteligente que faz o primeiro atendimento aos clientes. Isso libera a equipe para focar o que exige olhar humano.”
Mayresse também usa um relógio inteligente para monitorar a saúde. “Não tiro nem para dormir, especialmente em dias de maior estresse. A qualidade do sono passou a ser uma métrica importante desde que fiz uma cirurgia no joelho e fiquei mais atento à saúde, assimilando uma rotina de exercícios todos os dias.”
Em 2020, comprou um carro elétrico, mesmo não tendo pontos de recarga em Gramado. “Instalei o carregador em casa. Muita gente achou ousado, mas para mim não faz sentido projetar o futuro dirigindo o passado.”
Caroline Almeida, fundadora da Caroline Almeida Interiores e da Clínica de Milhões (Germano Lüders/Exame)
Fundadora da Caroline Almeida Interiores e da Clínica de Milhões, a designer Caroline Almeida viu na automação a solução para uma rotina que ameaçava sair do controle. Com duas empresas, filhos pequenos e clientes em três continentes, a tecnologia virou uma espécie de equipe invisível.
Na clínica especializada em espaços de saúde e estética, luzes e equipamentos são ativados por sensores, permitindo que os profissionais mantenham o fluxo de atendimento sem interrupções. A automação evita, por exemplo, que o dentista tenha de tirar as luvas para acender a luz.
Em casa, quem dá os comandos é a Alexa. Almeida usa o dispositivo de voz da Amazon para acionar luzes, cortinas, ar-condicionado, TV, som e até o dispenser de ração do cachorro da família. O aspirador robotizado também é controlado por celular ou voz. “Outra função da Alexa é me ajudar a criar rotinas para os meus filhos, como alarmes para acordar ou lembrar da hora do banho.”
Depois de perceber que estava ganhando peso e perdendo energia, a executiva instalou uma bicicleta ergométrica da Technogym com experiência imersiva e feedbacks em tempo real durante o treino, ajustou a alimentação e passou a dormir melhor. “Perdi 17 quilos”, comemora. “Hoje, a automação me permite cuidar de mim sem parar de cuidar dos outros.”