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O 2º tempo de Milei: argentino buscará reformas ambiciosas nos próximos meses

Presidente depende de negociação com aliados para aprovar medidas no Congresso

Javier Milei: o presidente da Argentina se aproximou de Trump e garantiu apoio dos EUA (Gabriel Luengas/Europa Press/Getty Images)

Javier Milei: o presidente da Argentina se aproximou de Trump e garantiu apoio dos EUA (Gabriel Luengas/Europa Press/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 27 de novembro de 2025 às 06h00.

No dia 26 de outubro, estavam nas calçadas de Buenos Aires dois tipos de apoiadores do presidente Javier Milei. Havia os mais contidos, que foram até a Avenida Medrado vê-lo votar, mas preferiram ficar do outro lado da rua, e os mais fiéis, que gritavam seu nome, corriam para cumprimentá-lo e, mais tarde, foram para a rua celebrar sua vitória. Um deles se fantasiou de leão. Outro levou o violão e cantava uma música que fez para o presidente. “Milei é a única possibilidade que temos de mudança neste momento”, disse o advogado Horácio Galibert, durante a festa da vitória.

Naquela noite, Milei teve o maior triunfo de seu mandato até agora e conseguiu colocar fim em uma crise política, mas analistas ponderam que a vitória é parcial. Seu partido, A Liberdade Avança, ganhou mais assentos no Congresso, mas em número insuficiente para aprovar medidas sem apoio de aliados. 

Nos dias seguintes, o líder argentino começou uma série de reuniões para avançar três reformas: trabalhista, tributária e previdenciária. Nelas, há temas espinhosos a lidar, como a redução de direitos trabalhistas em um país de sindicalismo forte, uma conta que não fecha na arrecadação da Previdência e uma revisão do pacto federativo. “A reforma fiscal precisa não só baixar impostos, mas clarear a relação entre o governo federal e as províncias”, diz o analista político Felipe Noguera. Ele explica que a maior parte da arrecadação é feita pelo governo federal, que repassa o dinheiro aos governos locais. 

O avanço das reformas gera dúvidas entre políticos e empresários do país. Milei enfrenta, há meses, dificuldade com a articulação política, inclusive com aliados, que têm pouco espaço nas principais decisões. Um dos casos de atrito é fiscal: o governo tem cortado repasses às províncias, o que revolta os governadores, que então orientam seus partidos a votarem contra o presidente no Congresso. “Esperamos uma mudança no governo na forma de fazer política, especialmente no Congresso, e que seja uma atitude diferente”, diz a deputada federal Daiana Molero, do PRO, principal partido de apoio a Milei. 

Para Sebastián Figueroa, CEO da Scania na Argentina, o governo precisa deixar claro o alcance final das propostas. Ele afirma que as reformas poderão trazer bons resultados “se forem claras e abrangentes” e questiona os juros elevados no país. Milei subiu as taxas para conter a inflação, mas agora, como em tantos países do mundo, precisa acertar a forma de reduzi-la. Um pequeno sinal de como a Argentina vai caminhando para ter uma economia mais similar à dos demais países, embora ainda haja uma longa estrada à frente.  

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