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Impeachment só foi aberto devido aos erros de Dilma e PT

Quem poderia imaginar, um ano atrás, que Dilma correria o risco de ser deposta em um processo de impeachment? Algo assim só aconteceria se a presidente, seu governo e seu partido errassem em tudo. E eles conseguiram


	 Dilma e temer: depois da briga suicida com Eduardo Cunha, ela se meteu em outra pior, com seu próprio vice
 (Wilson Dias/ABr)

Dilma e temer: depois da briga suicida com Eduardo Cunha, ela se meteu em outra pior, com seu próprio vice (Wilson Dias/ABr)

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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2015 às 17h00.

São Paulo — Há menos de um ano, se alguém ainda se lembra, a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores acreditavam estar em estado de graça.

Dilma tinha acabado de ganhar a eleição para um segundo mandato; mais quatro anos de desfrute do governo estavam pela frente, e a sensação geral entre todos era de um futuro próspero, seguro e envolvido apenas com problemas da abundância. É verdade que, na eleição, 51 milhões de brasileiros tinham votado no candidato da oposição, um sinal de reprovação ao governo que não podia ser ignorado.

A campanha da reeleição tinha ­custado 300 milhões de reais, e a vitória só fora possível com a utilização aberta da máquina de governo. A economia, depois de promessas furadas que foram se desmilinguindo, uma depois da outra, durante o ano inteiro, teve crescimento de 0%. As contas públicas eram as de uma empresa em estado de pré-falência.

Seria indispensável, logo mais, aumentar as contas de energia elétrica que tinham sido reduzidas para Dilma ganhar votos, aumentar preços represados à força, a partir dos combustíveis, aumentar impostos sobre o consumo, e por aí vai. Mas nada disso preocupava ninguém nas altas culminâncias da República.

Eram dias de onipotência; quem apontasse algum problema desses era acusado de querer disputar o “terceiro turno”. Hoje, antes de completar seu primeiro aniversário, esse mesmo governo está respirando por aparelhos. Aconteceu-lhe o pior que seria possível: a presidente Dilma está pura e simplesmente ameaçada de ser deposta do cargo por um processo de impeachment.

Quem poderia pensar numa coisa dessas no começo de 2015? Mas aí estamos: algo assim só aconteceria se a presidente, seu governo e seu partido errassem em tudo e, por duro que seja de acreditar, eles erram em tudo, sim, senhor. O ano começou com o anúncio de que seria feito o exato contrário de praticamente tudo aquilo que Dilma havia prometido na campanha eleitoral de 2014.

Para executar os feridos, chamaram um banqueiro que desde seu primeiro dia como ministro da Fazenda foi odiado pelo PT, pela “base” e pelos “movimentos sociais” — era o “fora Levy”, precursor do “fora Dilma” que iria aparecer algum tempo depois. A presidente, já na época e até hoje, nunca conseguiu explicar se era a favor ou contra seu próprio ministro.

Limitou-se, o tempo todo, a dizer que tinha feito um governo impecável — sim, talvez pudesse ter ocorrido algum pequeno contratempo, coisinha de nada, mas o Brasil jamais estivera tão bem.

Não fazia o menor nexo, mas Dilma foi se tornando cada vez mais incompreensível ao longo do ano, com declarações prodigiosas sobre a mandioca, o fogo, o vento etc., a ponto de deixar incomodados profissionais experientes da clínica psiquiátrica.

A presidente inventou, e perdeu, uma briga suicida com o presidente da Câmara dos Deputados; acaba de se meter em outra, talvez pior, com seu próprio vice-presidente. Vai fechar o ano com uma recessão de 3,5% e com outra no forno para 2016.

Dilma não errou sozinha. Com ela erraram Lula e o PT. Não entenderam que as manifestações de rua contra o governo, ao longo do ano, foram as maiores já feitas no Brasil. Na luta da Justiça contra a corrupção, ficaram do lado dos corruptos — seu tesoureiro, que está preso e condenado pela roubalheira sem limites na Petrobras, vem sendo tratado como herói.

O líder do partido no Senado Federal está na cadeia. Na batalha do impeachment que agora começa, saíram da pior forma possível, perdendo logo na primeira votação feita na Câmara para dar largada ao processo. Uma hora querem que o impeachment seja decidido já; outra hora querem que seja decidido mais tarde.

São a favor de votação secreta numas coisas, contra em outras. Têm a imensa vantagem de precisar de apenas 171 votos, entre os 513 da Câmara, para vencer a disputa — e, espantosamente, começam a se ver ameaçados de não conseguir nem isso. Nunca se viu nada parecido na história deste país.

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