Falconi (Ilustração: Mauricio Pierro)
Da Redação
Publicado em 13 de agosto de 2016 às 05h56.
São Paulo — O especialista em gestão Vicente Falconi responde a dúvidas dos leitores de EXAME sobre clima de competição entre funcionários num ambiente corporativo.
1. Ao estabelecer metas desafiadoras para todo mundo, a empresa não corre o risco de criar um clima de competição interno perigoso, em que um quer passar por cima do outro? Ter uma cultura de resolução de problemas, sem metas, já não é suficiente? Qual é o melhor caminho?
Paulo Rogério Pigozzi, do Rio Grande do Sul
Vou começar pela primeira pergunta. Não vejo razão para ter receio de que, num regime de metas, os funcionários passem um por cima do outro. Quando um profissional tem uma meta, seu único competidor deve ser ele mesmo.
Para garantir que não haja um comportamento predatório, sou favorável a um contrato em que uma pessoa só ganha bônus quando bate a própria meta e o negócio também bate a dele. Desse modo, estimula-se a colaboração, uma vez que todos sabem que não adianta bater a meta sozinho.
Sobre a segunda parte do questionamento: sim, atingir uma meta é o mesmo que resolver um problema. No entanto, chamo a atenção para o fato de que há dois tipos de problema. Um deles é o que decorre de um evento inesperado, como queda de energia, entrada de novo produto concorrente e por aí vai. O problema bom é o que você estabelece para si mesmo para melhorar algo que eventualmente já é bom.
Não é saudável ter centenas de imprevistos ruins todos os dias. A prioridade, nesses casos, é estabelecer um bom gerenciamento da rotina para diminuir a frequência de “incêndios”. Sem metas, estou certo de que o nível de gerenciamento em sua empresa não será dos melhores. Quando há metas bem desdobradas para todos, todas focadas na meta do presidente, a empresa passa a ter um novo vigor.
2. Estou buscando uma forma de melhorar minha comunicação e, quem sabe, encontrar a excelência, seja escrita, seja falada. Por essa razão, escrevo para entender como foi seu desenvolvimento nessa seara e o que o senhor recomenda para uma pessoa que nasceu na área técnica, de tecnologia, e migrou para uma área de negócio.
Anônimo
Sua pergunta é muito interessante. Dediquei boa parte de meu último livro, O Verdadeiro Poder, ao tema da comunicação porque se trata de uma questão presente em todas as fases de nossa vida, desde a primeira infância — para a comunicação das necessidades básicas — até a fase adulta, quando técnicas mais profundas podem ser aplicadas à vida profissional.
Para contribuir, indico o livro O Princípio da Pirâmide — A Lógica Aplicada na Escrita, no Pensamento e na Resolução de Problemas, da especialista americana Barbara Minto. Esse livro influenciou muito minha vida profissional. Dediquei uma coluna recentemente a esse tema. Para pinçar alguns aspectos mais importantes: na hora de fazer uma apresentação de negócios, a primeira coisa é mostrar o resultado final.
Geralmente contamos toda uma “ladainha” para depois, lá no final, quando todos já estão dormindo ou saíram da sala, contar a parte que realmente interessa. Mostrar o resultado antes desperta na plateia o interesse de saber mais. Outra: organize sua apresentação de modo conciso. Se você tem meia hora, serão dez slides no máximo. Um slide para cada 3 minutos.
É muito comum as pessoas se perderem pelo excesso de slides: em determinado ponto da apresentação, percebem que não vai dar tempo de mostrar tudo e começam a improvisar. É um desastre: a imagem que fica é de desorganização. O que mais me surpreende é que não se ensina comunicação em nenhuma fase de nossa educação.
Em minha opinião, duas áreas da ciência deveriam estar presentes nas escolas desde o curso fundamental: comunicação e teoria geral de sistemas. Essas duas áreas de conhecimento são fundamentais para a condução da vida numa sociedade complexa como a nossa.
3. Tenho como meta incutir a inovação na cultura da empresa. Quais são os melhores indicadores para medir a eficácia dessa jornada?
Anônimo
O que é inovar? Vou dar minha definição: “é encontrar maneiras de ser mais competitivo para atingir o consumidor final”. Quando uma pessoa depara com o problema de escolher um produto, entre vários concorrentes, para atender a uma necessidade em particular, ela tem três questões em mente. A primeira é a “qualidade”, termo que resume o poder de atração do produto para os consumidores.
A segunda é o preço — aqui fica evidentemente clara a importância do custo. E, finalmente, a “disponibilidade”, ou seja, a presença do produto nas prateleiras. Qualquer iniciativa que você tenha para melhorar qualquer dessas três percepções do consumidor em sua decisão de compra é uma inovação. A inovação pode ser no produto ou nos processos.
Para mim, a base para ter um ambiente de inovação contínua é a boa gestão. Sugiro dois indicadores para medir o ritmo de inovação: percentual de padrões de produto ou processo alterados nos últimos 30 dias e percentual do faturamento devido a produtos lançados nos últimos cinco anos. Existem outros, mas, se começar por esses dois, você estará bem.