Revista Exame

Público mais jovem e foco na mobilidade e sustentabilidade, os novos passos da Montblanc

A Montblanc pode até parar de usar material de origem animal se for o desejo dos consumidores, diz o diretor da divisão de couros Jean-Charles Hita

Jean-Charles Hita: uso maior de náilon e pesquisas em materiais como fibras de cactos. (Karsten Arndt/Farbbild.com/Divulgação)

Jean-Charles Hita: uso maior de náilon e pesquisas em materiais como fibras de cactos. (Karsten Arndt/Farbbild.com/Divulgação)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 22 de julho de 2022 às 06h00.

A primeira marca de moda a anunciar a proibição do uso de couro e pele em seus produtos foi a Gucci, em 2016. Mas foi só em setembro de 2021 que o grupo Kering, detentor da casa italiana e de outras grifes, como Brioni e Saint Laurent, confirmou a adoção geral da prática. Não são casos isolados. Um levantamento do site especializado Business of Fashion apontou que, das 25 maiores marcas de moda, apenas sete ainda produzem peças com material de origem animal. Mas algumas delas já assumiram o compromisso de aderir à causa em até cinco anos.

No segmento de vestuário a variedade de opções de tecidos nobres permite um posicionamento mais assertivo das grifes. Mas e quando falamos de uma marca centenária de acessórios, entre eles bolsas e carteiras, como a Montblanc? Para o francês Jean-Charles Hita, diretor global da divisão de couros, se os consumidores um dia demandarem a abolição do uso de couro, a Montblanc irá nessa direção. Mas faz um alerta: “Muitas vezes esquecemos que não se mata uma vaca pelo couro, e sim pela carne. O uso do couro faz parte da economia circular”. 

O executivo da marca de origem alemã que hoje pertence ao conglomerado suíço Richemont falou com a Casual EXAME em Paris, durante a apresentação para a imprensa da nova coleção Extreme.

O que muda em uma coleção de couro de um ano para o outro?

Muita coisa mudou, principalmente se pensarmos em termos de mobilidade. A coleção Extreme, por exemplo, foi lançada em 2016, teve uma segunda versão em 2019, e agora apresentamos a nova linha. Nesse tempo as pessoas passaram a usar patinete e mais bicicleta. Adaptamos os tamanhos e os formatos das bolsas. Estamos mirando consumidores mais jovens, mais ativos. Temos ganchos nas mochilas para prender artefatos como carteiras. Os fechos têm inspiração no alpinismo. E não falamos mais de gênero. Homens e mulheres usam a mesma patinete, a mesma bicicleta.

Na moda os consumidores reconhecem a coleção pelo ano de lançamento e esperam por novos produtos. Isso pode acontecer no mercado de acessórios?

Não tenho dúvida disso. Marco Tomasetta, nosso novo diretor criativo, revirou os arquivos da Montblanc para lançar a ­Extreme, sua primeira coleção. Ele encontrou essa estampa de linhas paralelas desenvolvida nos anos 1920 pela então diretora de mar­keting Grete Gross. No passado a Mont­blanc era conhecida pelas peças atemporais, era nossa orientação. A cor predominante era o preto, e os produtos tinham preços muito próximos. Tomasetta tem a missão de redesenhar todas as linhas, mirando novos consumidores. Tenho certeza de que vocês, no Brasil e no mundo todo, vão começar a perceber diferenças nas coleções.

Festa de lançamento da coleção Extreme, em Paris: produtos pensados para a mobilidade (Francois Durand/Getty Images)

É possível falar em sustentabilidade em uma marca que tem o couro como matéria-prima de seus produtos?

A Montblanc é parte do grupo Richemont, que é muito comprometido com a sustentabilidade. Trabalhamos a sustentabilidade em quatro direções principais. Primeiro, estamos abolindo o PVC, um material flexível usado geralmente em malas, mas muito difícil de reciclar e um dos que causam maior dano ao ambiente. Também usamos couro natural de fornecedores certificados, sem uso de metais. Priorizamos fornecedores italianos, próximos à nossa pelletteria em Florença, para evitar emissões de gases com o transporte. E, por último, utilizamos cada vez mais materiais alternativos, como náilon e algodão, além de desenvolvermos pesquisas com fibras provenientes de cactos, por exemplo.

Algum dia a Montblanc poderá deixar de usar couro em seus produtos?

Somos uma marca de luxo, então nossos clientes esperam que usemos os melhores materiais. Às vezes pode ser a matéria-prima mais cara; às vezes, a cor mais bonita, mais sustentável, mais macia, que dure mais. Se eu apresentar um couro sustentável, mas que pese muito, deforme, faça bolhas, esse cliente não ficará satisfeito. Nosso objetivo é fazer o melhor produto, e sustentabilidade é um componente disso. Se amanhã o material mais leve, mais resistente e com boa performance não for o couro, e o cliente ficar satisfeito, a Montblanc irá nessa direção. Mas existe um ponto aqui. Muitas vezes esquecemos que não se mata uma vaca pelo couro, e sim pela carne. O uso do couro faz parte da economia circular.  

Conheça a newsletter da EXAME Casual, uma seleção de conteúdos para você aproveitar seu tempo livre com qualidade.

Acompanhe tudo sobre:ConsumidoresModaMontblanc

Mais de Revista Exame

Invasão chinesa: os carros asiáticos que chegarão ao Brasil nos próximos meses

Maiores bancos do Brasil apostam na expansão do crédito para crescer

MM 24: Operadoras de planos de saúde reduzem lucro líquido em 191%

MM 2024: As maiores empresas do Brasil