Revista Exame

No Reino Unido, a meta do sistema de saúde é a eficácia

O sistema de saúde público britânico completa 70 anos e lida com o desafio de melhorar o atendimento sem prejudicar as finanças

Hospital na Inglaterra: demanda em alta, orçamento apertado (Hannah Mckay/Reuters)

Hospital na Inglaterra: demanda em alta, orçamento apertado (Hannah Mckay/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2018 às 05h00.

Última atualização em 5 de julho de 2018 às 05h00.

Os britânicos têm uma relação de amor e ódio com seu sistema público de saúde, conhecido pela sigla NHS (National Health Service). Fundado há exatos 70 anos, o serviço, que inspirou a criação do SUS no Brasil, é visto pela população como uma das grandes conquistas britânicas no século 20. Ele é a instituição mais admirada no país, junto da monarquia e do Exército.

O apreço, porém, não significa que o atendimento esteja livre de críticas. No último ano, aumentou o número de reclamações sobre a demora para marcar consultas ou para ser atendido num hospital. Em abril, a quantidade de pacientes que esperam mais de 18 semanas (limite considerado aceitável) para receber tratamento especializado chegou a 500 000, a maior em dez anos. O problema tem duas explicações.

Uma é o aumento da procura por serviços de saúde. A quantidade de internações, por exemplo, subiu 28% em uma década. A segunda é uma questão financeira. Pressionado para reduzir o déficit fiscal, o governo britânico impôs limites ao reajuste de salários e ao aumento do orçamento do NHS. Em meio às restrições nos gastos, o sistema de saúde procurou formas de usar os recursos com mais eficiência. Um programa pioneiro chamado RightCare é uma das medidas de maior sucesso. Criado em 2010, o programa avaliou cada uma das 207 divisões regionais do NHS procurando os lugares em que o tratamento de doenças — como asma, diabetes e certos tipos de câncer — era deficiente.

O objetivo era entender por que regiões com a mesma demografia e a mesma incidência de doenças conseguiam ter resultados melhores do que as outras. Daí por diante, os locais mais atrasados foram incentivados a adotar os mesmos procedimentos daqueles mais bem avaliados. A medida é importante porque, antes, era comum um paciente deixar de receber o tratamento mais recomendado na hora certa, levando a complicações no futuro — e ao uso de terapias e remédios mais caros. “Quando a prevenção falha, as pessoas adoecem mais tarde, e isso leva ao uso excessivo de tratamentos que não seriam necessários. Essa é uma das maiores causas, senão a maior, do desequilíbrio no sistema de saúde”, diz Matthew Cripps, diretor financeiro do NHS da Inglaterra e responsável pelo programa.

Apenas com pequenos ajustes na forma de tratar os pacientes, o NHS economizou no ano passado 610 milhões de libras (3,1 bilhões de reais), valor que ficou acima da meta de 490 milhões de libras. Hoje, o programa é uma das maiores iniciativas para tornar o sistema de saúde financeiramente mais sustentável. Medidas como essa são essenciais para o NHS reduzir a fila dos atendimentos e continuar a ser um símbolo de orgulho para os britânicos nos próximos 70 anos.

Acompanhe tudo sobre:Política de saúdeReino UnidoSaúde

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda