Revista Exame

País segue no auge da animação

O aumento da quantidade de desenhos animados brasileiros, sobretudo na TV paga, abriu oportunidades para o licenciamento de produtos

A cantora Anitta: em outubro, ela terá uma série de animação e bonecas licenciadas | Mauricio Santana/Getty Images /

A cantora Anitta: em outubro, ela terá uma série de animação e bonecas licenciadas | Mauricio Santana/Getty Images /

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 27 de setembro de 2018 às 05h29.

Última atualização em 27 de setembro de 2018 às 05h29.

Em meio a uma turnê que já pela Europa e agora está em cidades de todo o Brasil, a cantora Anitta prepara uma estreia bem longe dos palcos. Em outubro, ela vai se tornar personagem de uma série de animação infantil, o Clube da Anittinha, que será exibida nos canais pagos Gloob e Gloobinho, pertencentes à Rede Globo. Simultaneamente, e a tempo de pegar o Dia das Crianças, Anitta também vai virar uma boneca, à venda nas -principais varejistas de brinquedos do país. No desenho animado, a cantora estará cercada de personagens inspirados em seus amigos, familiares e animais de estimação da vida real. O lançamento da boneca deverá ser o primeiro de uma série de produtos licenciados com a marca da cantora direcionados para o público infantil.

O movimento de Anitta ilustra um duplo fenômeno que abriu uma série de oportunidades de negócios no Brasil. O primeiro deles é o aumento da exibição de produções locais. Desde 2011, uma lei federal obriga os canais de TV por assinatura a transmitir pelo menos 3 horas e meia de conteúdo nacional por semana em horário nobre (ou seja, das 11 às 14 horas e das 17 às 21 horas). O que surgiu como uma obrigação logo se mostrou uma oportunidade à medida que os personagens caíam nas graças do público. O canal americano Cartoon Network, por exemplo, exibe atualmente 5 horas semanais com seis programas distribuí-dos na grade. Entre as produções brasileiras está a que retrata as aventuras do pinguim Oswaldo, criada pelo estúdio paulista Birdo e lançada em outubro do ano passado. O segundo fenômeno é consequência do primeiro: uma avalanche de produtos licenciados desses personagens. Trata-se de um mercado tão antigo quanto o nonagenário Mickey Mouse. O personagem, criado por Walt Disney, estreou no cinema em 1928. Cinco anos depois, a Ingersoll Watch Company produziu o primeiro relógio do Mickey.

No Brasil, é um nicho que cresce mesmo com a crise. Em 2017, o mercado  brasileiro de licenciamento faturou 4,4 bilhões de dólares, 15% mais do que no ano anterior. O Brasil é o sétimo país em licenciamento no mundo — e os produtos infantis correspondem a 70% dos itens licenciados. Não há dados que apontem a participação de personagens nacionais nesse avanço, mas a percepção é que houve um salto na área. “Marcas originadas de produções nacionais têm um atrativo extra: a agilidade nos trâmites, como a aprovação de produtos”, diz Marici Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Licenciamento (Abral).

Alguns dos exemplos mais bem-sucedidos giram ao redor das produções transmitidas pelo Discovery Kids. Há dois anos, o canal criou uma área de-dicada a gerir contratos de licenciamento de seus títulos exibidos no Brasil. Desde então, houve um aumento de cinco para 30 acordos desse tipo. A intenção é replicar o sucesso de produções veteranas, que fecharam contratos de licenciamento por meio de outras licenciadoras, como o desenho Show da Luna, no ar pelo Discovery Kids há quatro anos e produzido pelo estúdio de animação paulista TV Pinguim. Exibido em 90 países, em canais diferentes, os protagonistas da animação já estamparam cerca de 300 novos produtos lançados nos últimos 12 meses. O faturamento de licenciamento da TV Pinguim cresceu 6% no primeiro semestre de 2018 apenas no Brasil, quando comparado ao mesmo período do ano anterior.

A popularidade de produções pioneiras começa a abrir espaço para acordos que já nascem internacionais. Foi o que aconteceu com a TV Pinguim, que até o fim deste ano deve lançar a animação Cantando com Ping e Pong, sobre as aventuras de um passarinho e um cachorro. Na América Latina, a série será transmitida pelo Discovery Kids. Ao mesmo tempo, os canais TVO, TFO e Knowledge Kids vão exibi-la no Canadá. A produtora paulista Birdo, responsável pela animação do desenho Clube da Anittinha e dos mascotes da Olimpíada Rio 2016, acaba de lançar a série Cupcake And Dino em parceria com um estúdio canadense. Em julho, a Netflix incluiu episódios da série em 188 países. No Canadá, a série estreou no Teletoon em 3 de setembro. No Brasil, a estreia no Disney Channel está prevista para novembro. A também canadense eOne, distribuidora de produtos licenciados da animação Peppa Pig no mundo, comandará os futuros contratos no país.

Paravisi, diretor da Marisol: a mascote da marca protagoniza animação e vai virar brinquedo | Divulgação

Entre as licenciadoras, a disputa por novas oportunidades de licenciamento com o que pode se tornar a próxima série de sucesso tem começado cada vez mais cedo. Em agosto, a Redibra, empresa criada em 1967 para ser representante exclusiva dos produtos Disney no Brasil, criou uma área especialmente dedicada a prospectar estúdios de animação em ascensão. O primeiro cliente é o recém-lançado desenho Boris e Rufus, produzido pela catarinense Belli Studios e exibido desde o primeiro semestre de 2018 no canal pago Disney XD e, na TV aberta, pela TV Cultura. Os executivos da Redibra e da Belli já começaram a desenhar juntos uma estratégia comercial. Uma linha de brinquedos será apresentada numa feira do setor em março de 2019. O lançamento terá o objetivo de preparar os lojistas para vender os produtos. A chegada às lojas só deverá acontecer em setembro de 2019. Além de brinquedos, estão previstos lançamentos de roupas. “Queremos encontrar e ajudar a formar a nova Galinha Pintadinha”, diz David Diesendruck, presidente da Redibra. A famosa personagem azul, que surgiu no YouTube em 2006 e -conquistou as crianças em fase pré-escolar, é licenciada pela empresa desde 2011. Ainda hoje o faturamento de produtos com a imagem da Galinha cresce cerca de 5% ao ano.

Personagens velhos conhecidos do público também aproveitam o embalo para crescer. É o caso da Maurício de Sousa Produções, que pretende lançar a inédita série Turma da Mônica Jovem no Cartoon Network em 2019. A criação reforça o posicionamento da Turma, que já vendeu produtos licenciados para 83% dos brasileiros, segundo uma pesquisa do DataFolha no ano passado.

Num movimento realizado com a intenção de fortalecer a própria marca e também criar uma nova frente de ne-gócios, a varejista catarinense Marisol deu vida à coala que estampa vestuários infantis da marca há 27 anos ao lançar o desenho animado Mundo Ripilica em novembro de 2017, transmitido pelo -Discovery Kids. O projeto começou há aproximadamente quatro anos e não existe nenhuma referência à empresa ou a seus produtos. “A ideia é que o desenho seja visto como qualquer outro desenho da progra-mação”, afirma Mario Paravisi, diretor executivo de marcas da Marisol. A expectativa é que o investimento — não revelado — seja pago com o lançamento de produtos licenciados que já começam a chegar ao mercado. Desde o início da exibição do desenho, a Marisol já fechou três contratos de licenciamento com a marca Lilica Ripilica nas categorias -higiene bucal, papelaria e ótica. A meta é ingressar no mercado de brinquedos neste ano com o lançamento da boneca Lilica Ripilica. Animação, como se vê, é o que não falta.

Acompanhe tudo sobre:AnimaçãoBrasilDisneyMarisolTV paga

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda