Escritório do Yahoo! na Califórnia: a empresa não reagiu às mudanças de mercado e perdeu espaço para o Google (Jim Wilson/The New York Times/Latin Stock)
Da Redação
Publicado em 1 de dezembro de 2011 às 06h59.
São Paulo - A história é conhecida: ali babá, um pobre lenhador árabe, encontra uma caverna onde 40 ladrões escondem um tesouro roubado. Sozinho, ele descobre as palavras mágicas capazes de abri-la (“Abra-te Sésamo”) e recolhe para si parte da fortuna. Jack Ma, um chinês franzino, pode não entender nada de mágica.
Mas à frente do conselho do Grupo Alibaba, hoje um gigante do comércio eletrônico, ele parece mais próximo a cada dia de um destino igualmente afortunado.
Doze anos depois de fundar a empresa em Hangzhou, na China, ele é tido como principal candidato à compra da americana Yahoo! “Estamos muito, muito interessados”, disse ele em um evento na Universidade Stanford, na Califórnia, em setembro deste ano.
Um dos símbolos da primeira fase da internet, o Yahoo! vive um momento delicado. Fundada na Califórnia em 1994, a empresa foi pioneira em serviços como busca e e-mails, e logo se tornou um dos sites mais acessados em todo o mundo. Com a chegada de competidores fortes, porém, sua liderança foi abalada.
A tecnologia de buscas do site não conseguiu acompanhar o passo do Google e ficou para trás. O serviço de e-mails gratuito, um dos maiores do mundo, também perdeu popularidade. Apesar de se manter como um dos portais mais acessados da internet, o Yahoo! já não tem o mesmo apelo entre investidores.
Os primeiros rumores sobre a venda da companhia começaram a circular em 2008. Naquele ano, a Microsoft fez uma oferta de compra de quase 45 bilhões de dólares. A proposta foi recusada.
A esperança de uma virada se renovou no início de 2009 com a chegada da nova presidente, a americana Carol Bartz. Mas não durou muito tempo.
Com resultados pouco expressivos, Carol foi demitida em setembro deste ano, o que trouxe novos questionamentos sobre os rumos do negócio.
Não faltam candidatos para assumir o controle do Yahoo!. A companhia, hoje avaliada em 20 bilhões de dólares, estuda propostas de associações com fundos de investimento e empresas de private equity, além de ofertas de antigos interessados, como a Microsoft. Mas é justamente a possibilidade de ser comprada por uma empresa chinesa que vem causando maior alarde.
Para muitos, esse é um sinal dos novos tempos. “Há algo de muito simbólico em um possível acordo entre essas companhias”, diz Duncan Clark, presidente e fundador da BDA, consultoria especializada em internet e tecnologia na China. Essa não é a primeira vez na história que os destinos de Alibaba e Yahoo! se cruzam.
Em 2005, o Yahoo! comprou 40% de participação no Alibaba por cerca de 1 bilhão de dólares. Mas aqueles eram outros tempos. Na época, o Yahoo! valia 20 vezes mais do que o grupo chinês. Hoje, a fatia do Alibaba adquirida pelo Yahoo! talvez represente mais do que o valor da própria empresa americana.
Nesse percurso, o Alibaba acumula glórias — e também alguma sorte. O crescimento do mercado chinês no período soprou a favor. Enquanto crises atingiram fortemente países desenvolvidos, a China despontou entre os emergentes.
O Alibaba domina hoje um mercado de mais de 322 milhões de usuários de internet, quase o dobro do americano e cerca de oito vezes o brasileiro. Mais do que um site de comércio eletrônico para empresas, o Alibaba é hoje um conglomerado de internet.
No portfólio, estão companhias como a Taobao, especializada no e-commerce para consumidores finais, o TaoBao Mall, focado na venda de produtos de grandes marcas, e o Alipay, de serviços de pagamentos online. O grupo, que em 2005 valia 2,5 bilhões de dólares, hoje tem valor de mercado estimado em 32 bilhões de dólares.
Futuro
Para o Alibaba, segundo analistas, a aquisição do Yahoo! pode ser um empurrão nos planos de expansão mundo afora. A companhia já possui presença nos Estados Unidos, mas, como outras empresas chinesas, enfrenta dificuldades para se estabelecer em mercados ocidentais.
“Companhias chinesas nem sempre são vistas como sinônimo de qualidade”, diz Rob Enderle, fundador da consultoria americana em tecnologia Enderle Group. “Por isso, comprar empresas ocidentais pode ser um bom caminho.”
Do lado do Yahoo!, a avaliação é que a compra poderia fortalecer a operação de comércio eletrônico, um passo considerado essencial para a recuperação das receitas e para que a companhia possa fazer frente a empresas como Google e Amazon.
“O Yahoo! teria a oportunidade de se reinventar replicando estratégias testadas no mercado oriental em outros mercados emergentes”, diz Cristiano Laux, diretor da empresa de pesquisas em tecnologia Pyramid Research.
O avanço do Grupo Alibaba sinaliza novos caminhos para o equilíbrio de forças da internet. Nos últimos anos, companhias também chinesas como Tencent e Baidu cresceram em influência na Ásia e preparam a expansão para outros continentes.
O maior impulso, porém, estaria no crescimento massivo da adoção da web em países emergentes. Enquanto o número de usuários de internet nos Estados Unidos cresce menos de 1% ao ano, na China o ritmo é de 22%.
“Na internet, são os usuários que indicam as demandas e os rumos do mercado”, diz Laux. Estaria o futuro da internet nas mãos de companhias como o Alibaba? O Yahoo! tinha um ano quando Jack Ma colocou as mãos em um teclado de computador pela primeira vez na vida, durante uma viagem aos Estados Unidos. Duvide quem for capaz.