Marcele Martins, da B.O.B: desafio é ter alguém dedicado à exportação na empresa (Andrea D‘Andrea/Amazon/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de junho de 2024 às 06h00.
No centro de distribuição de 112.000 metros quadrados da Amazon em Robbinsville, a 100 quilômetros de Nova York, a logística é futurística. Prateleiras robôs se movem autônoma e livremente pelo prédio para atender aos pedidos. Quando um item é comprado, é a prateleira que vai até o funcionário para entregar o produto a ser empacotado e enviado à casa do consumidor americano. Diariamente passam por ali 1,2 milhão de itens. Nesse mar de pacotes, há algumas poucas dezenas que pertencem à B.O.B, uma PME paulista de cosméticos sustentáveis criada em 2018 e que faturou 30 milhões de reais em 2023.
Para entender o que as pequenas caixinhas de xampu produzidas em São Roque, município paulista a 7.660 quilômetros de Nova York, fazem por ali é preciso voltar no tempo, há mais de 25 anos. Os empresários Andreia Quercia e Victor Falzoni, fundadores da empresa, se conheceram na escola e foram colegas durante todo o ensino médio. Não bastasse isso, fizeram faculdade juntos e estagiaram no mesmo lugar. Quando chegou a hora de trabalhar, se desgrudaram por alguns anos, até o empreendedorismo voltar a juntá-los. Numa conversa, viram uma oportunidade a ser explorada no Brasil. A inspiração vinha da Alemanha, onde morava (e mora até hoje) Quercia. “Por lá, ficou mais comum ter produtos em que a água é tirada da composição para ser mais sustentável de armazenar”, diz Falzoni. Nascia ali a B.O.B, sigla para Bars Over Bottles — ou “Barras em Vez de Garrafas”, na tradução livre. O principal produto da empresa é o xampu em barra, sem a necessidade de embalagem plástica, mas há ainda sabonetes, desodorantes e condicionadores — tudo em barra. Por não usarem água, além do apelo de sustentabilidade, os produtos da B.O.B trazem ingredientes mais concentrados e com melhor performance.
Com uma sócia na Alemanha, um nome em inglês e uma operação digital, dá para dizer que a B.O.B nasceu para ser global. E assim foi. Já no terceiro ano de operação, quando faturava cerca de 11 milhões de reais, chegou ao time a sócia Marcele Martins para, de fato, internacionalizar a operação. Mas não sozinha — a opção foi fazer isso com ajuda de uma parceira. No caso, a Amazon, que desde 2021 tem no Brasil um programa de exportação para pequenos e médios negócios, usado hoje por cerca de 3.000 PMEs. Chamado de Global Selling, o projeto ajuda em duas das partes mais complicadas para um pequeno negócio. Na logística, a varejista criada por Jeff Bezos fica responsável por toda a distribuição nos Estados Unidos — o empreendedor só precisa garantir que o produto chegue a uma unidade de logística da Amazon por lá. A outra é a visibilidade, com a garantia de que os produtos serão exibidos a milhares — ou milhões — de clientes.
A aposta deu certo. Dos 30 milhões de reais faturados pela B.O.B, cerca de 3 milhões têm origem nos Estados Unidos. “Acho que é muito importante ter pelo menos uma pessoa do time focada nisso”, diz Martins. “É um mercado totalmente novo, então você precisa entendê-lo.” O resultado fez com que a marca expandisse a operação, com a criação de um e-commerce próprio para os americanos. De acordo com Falzoni, existem “oportunidades gigantescas” para que produtores nacionais invistam em exportações. “Um produto feito para o mercado exterior não tem carga tributária como ICMS e PIS. Soma-se a isso o real desvalorizado e cria-se um cenário competitivo para PMEs, mesmo que elas não consigam trabalhar com escalas enormes.” Não à toa, a B.O.B tem lucrado em torno de 10.000 dólares mensais com a operação. É um dinheiro que volta ao Brasil e é reinvestido em ações diversas na empresa, de novas fórmulas e produtos ao marketing.
*O repórter viajou para Nova York, a convite da Amazon.