Revista Exame

“Não dá para ter vergonha do lucro”, diz Ann Bernstein

Para a pensadora sul-africana, a iniciativa privada é vítima de preconceito nos países em desenvolvimento, onde as empresas são tratadas como o “império do mal”

Ann Bernstein: “As empresas precisam parar de pedir desculpa por existir” (Germano Lüders/EXAME.com)

Ann Bernstein: “As empresas precisam parar de pedir desculpa por existir” (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 27 de maio de 2011 às 09h03.

A sul-africana Ann Bernstein dirige o centro para Desenvolvimento e Empresa, instituto com sede em Johannesburgo, na África do Sul. O foco do centro é discutir as questões vitais do desenvolvimento do país africano, como o crescimento econômico e a consolidação democrática. No ano passado, Ann publicou o livro The Case for Business in Developing Economies (numa tradução livre, “Em defesa dos negócios em economias em desenvolvimento”), ainda sem publicação no Brasil. Em visita ao Brasil, Ann falou a EXAME.

1) EXAME - O que a motivou a escrever o livro?

Ann Bernstein - Sempre trabalhei em instituições de pesquisa financiadas por empresas privadas e percebi, ao longo do tempo, que havia certo preconceito. Volta e meia eu tinha de explicar por que trabalhava para o “império do mal”. Isso me fez concluir que as empresas são malvistas pela sociedade de países em desenvolvimento, o que não deixa de ser chocante, dado o enorme bem que a iniciativa privada faz para as cidades e as regiões desses países.

2) EXAME - O livro diz que o diferencial da África do Sul são as empresas. O que mais explica o sucesso do país?

Ann Bernstein - Na época do apartheid, o Estado era muito discriminatório, o que é totalmente condenável. Mas não podemos esquecer que, em outras áreas, esse mesmo Estado era muito inteligente. Usava, por exemplo, a receita gerada pelos impostos para ajudar a desenvolver a infraestrutura, uma raridade entre as nações em desenvolvimento.

3) EXAME - Por que o resto da África se mantém no atraso?

Ann Bernstein - A África tem muito poucas empresas. Mas todos os governos da região sabem o que é preciso ser feito. É preciso investir em infraestrutura, eliminar a burocracia e criar um sistema de leis que funcione. Paul Kagame, presidente de Ruanda, abriu o país, chamou as empresas e a iniciativa está funcionando. É disso que a África precisa, e não de ajuda.

4) EXAME - Por que a senhora diz ser contra a responsabilidade social?

Ann Bernstein - As empresas precisam parar de pedir desculpa por sua existência. Se uma empresa é bem-sucedida, lucrativa e cumpre as leis locais, ela é boa para a sociedade e essencial para o desenvolvimento. Isso porque paga impostos, gera empregos, estimula a inovação e a pesquisa. Isso é o principal. Tendo atingido esses objetivos, então se pode conversar sobre o que mais deve ser feito para a sociedade. 

5) EXAME - Mas não é lucrativo ter responsabilidade social?

Ann Bernstein - Você acredita nisso?

6) EXAME - A senhora não?

Ann Bernstein - Se uma empresa melhora sua eficiência energética e o valor da conta de luz cai 30%, não é responsabilidade social. É inteligência.

7) EXAME - A África do Sul tem um programa para incentivar a presença de negros em posições de liderança nas empresas. Esse programa funciona?

Ann Bernstein - Não muito bem. O programa não estimula o empreendedorismo.  Os negros apenas dizem: posso ser seu sócio, vamos fazer um acordo. Muitas vezes acabam conseguindo algo só por causa da cor da pele. Não posso pensar em nada pior para construir uma sociedade. Sou a favor de uma sociedade construída com base na igualdade de oportunidades. O objetivo deve ser uma educação de alto nível para todos.

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