Revista Exame

“Não dá para industrializar a inovação”

Para o chefe global de pesquisa e desenvolvimento da farmacêutica GlaxoSmithKline, o setor precisa de uma nova fórmula para criar remédios

Slaoui: “Não adianta dedicar um percentual fixo à pesquisa se não se sabe se há boas ideias”  (Divulgação)

Slaoui: “Não adianta dedicar um percentual fixo à pesquisa se não se sabe se há boas ideias” (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

São Paulo - Nos últimos anos, o setor farmacêutico foi incapaz de lançar remédios campeões de vendas no ritmo das décadas passadas. Para piorar, até 2015, medicamentos que vendem o equivalente a 170 bilhões de dólares por ano poderão ser comercializados como genéricos. Como fazer com que a indústria farmacêutica, um dos negócios mais lucrativos do século passado, continue assim? Em 2006, a GlaxoSmithKline, sexta maior farmacêutica do mundo, convocou o imunologista marroquino Moncef Slaoui para tentar encontrar a resposta. Slaoui, chefe global de pesquisa e desenvolvimento da empresa, falou a EXAME. 

1) EXAME - Por que se tornou difícil inovar na indústria farmacêutica?

Moncef Slaoui - Os remédios para doenças que atingem um grande número de pessoas já foram descobertos. O cenário mudou, mas parte da indústria ainda não se deu conta. Gasta dezenas de bilhões de dólares por ano em grandes centros de pesquisa e espera criar uma droga revolucionária, como se a inovação pudesse ser feita num processo industrial.

2) EXAME - Por que essa fórmula deixou de dar certo?

Moncef Slaoui - Porque dessa forma não somos mais produtivos. Não adianta dedicar um percentual fixo do faturamento à pesquisa sem saber se há boas ideias. É preciso identificar as oportunidades e acompanhá-las caso a caso, como fazem as pequenas empresas de biotecnologia.

3) EXAME - Por que a maioria das empresas farmacêuticas não adota essa estratégia?

Moncef Slaoui - As empresas seguem os velhos processos. As estruturas se tornaram tão grandes que os cientistas se sentem incapazes de propor um jeito novo de investir em inovação.

4) EXAME - Como o senhor está tentando mudar essa cultura na GlaxoSmithKline?

Moncef Slaoui - Há cinco anos, dividimos a área de pesquisa e desenvolvimento em pequenos grupos, com até 50 cientistas. Fazemos um investimento inicial e, a cada três anos, o projeto tem de passar por uma banca de avaliação para seguir adiante.

5) EXAME - Por que esse sistema é um avanço em relação ao anterior?

Moncef Slaoui - Esse modelo está mais próximo do que é empreender e arriscar. Em 2011, fizemos a primeira avaliação dos grupos. De 40, fechamos oito, que julgamos não ter avançado. Abrimos outros 12, que apresentaram ideias com potencial. 

6) EXAME - Os resultados das pesquisas na GlaxoSmithKline melhoraram?

Moncef Slaoui - Para medir isso, cabe uma comparação. Em 2006, o orçamento de pesquisa e desenvolvimento era de 5 bilhões de dólares. Havia seis medicamentos na fase final de testes, dos quais quatro falharam. Agora, temos 19 drogas na fase final e nosso orçamento equivale a dois terços do que era. As parcerias com laboratórios menores têm sido cruciais para que tenhamos esse resultado.

7) EXAME - A empresa mantém parcerias com laboratórios instalados no Brasil?

Moncef Slaoui - Trabalhamos com a Fiocruz, no Rio de Janeiro, para criar vacinas e estamos no terceiro ano de um programa para financiar pesquisadores em parceria com a Fapesp e o CNPq. O Brasil progrediu, mas precisa avançar mais. O sistema regulatório é demorado e pouco previsível. Se não sabemos quando teremos aprovações nem do que elas dependem, não iremos incluir o Brasil em mais programas.

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