Revista Exame

Nada dá certo na Espanha

Empresas expropriadas, um monarca em apuros, um quarto da população sem emprego. A fase espanhola não é nada boa. E ninguém parece saber qual é o caminho certo para melhorá-la

Nem ele salva a pátria: em fase infeliz, a Espanha tem más notícias até do rei Juan Carlos e do futebol do Barcelona  (Carlos Alvarez/Getty Images)

Nem ele salva a pátria: em fase infeliz, a Espanha tem más notícias até do rei Juan Carlos e do futebol do Barcelona (Carlos Alvarez/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de junho de 2012 às 14h04.

São Paulo - A Espanha, país admirado por tanta gente, há tanto tempo e por tantos motivos, não anda, realmente, numa fase feliz. O Barcelona foi eliminado pelo Chelsea nas semifinais da Liga dos Campeões; os torcedores dos outros clubes espanhóis gostaram, mas uma derrota é uma derrota.

O rei Juan Carlos — até ele, essa figura tão simpática pelos quatro cantos do mundo — está metido numa história ruim, pelo menos do ponto de vista de sua imagem; o problema, aí, chama-se Corinne, uma loira alemã com quem viria mantendo um caso há quatro anos.

A Argentina, no seu grande projeto de tornar-se uma nova Venezuela, bateu-lhe a carteira ao expropriar de forma abusiva o controle dos ativos locais da petroleira espanhola Repsol — certa de que não vai enfrentar reação nenhuma e sem que a Espanha lhe tivesse feito nada de mau.

No Brasil, ela vai ficando com a fama de inimiga número 1 dos brasileiros na Europa diante das histórias cada vez mais frequentes de tratamento grosseiro para os viajantes que vão daqui para lá. Quando a conversa chega à economia, então, é aí mesmo que a coisa complica de vez.

Vem se tentando mais ou menos de tudo, até troca de governo, para tirar o país da crise que vive há três anos, quando a então orgulhosa economia nacional começou a fazer água pela proa e pela popa ao se mostrar incapaz de enfrentar com eficácia a tempestade financeira internacional que tanta dor de cabeça continua causando mundo afora. Nada dá certo.

As fotografias mais recentes da economia espanhola são de desanimar qualquer um. As medidas de austeridade, envolvendo do corte da despesa pública ao aperto nas aposentadorias, vão no sentido contrário do caminho seguido pelo governo anterior, mas os resultados são muito parecidos — ou seja, continuam nas vizinhanças do zero, pelo menos até agora.

Neste primeiro trimestre do ano, mais uma vez, a atividade econômica recuou — pouca coisa, é verdade, mas isso é exatamente o oposto do que a Espanha mais precisa no momento: crescer. A Standard & Poor’s acaba de baixar de novo a nota da capacidade espanhola de pagar suas dívidas.


Foram 2 pontos logo de uma vez, de A para BBB+, e não adianta ficar dizendo que as agências de rating não têm credibilidade; podem não ter, mas continuam criando os mesmos problemas do tempo em que tinham.

Aproveitando o embalo, a S&P baixou de grau nove bancos espanhóis, inclusive o Santander, o maior da zona do euro — que, além disso, anunciou uma redução de um quarto em seus lucros do primeiro trimestre devido às provisões contra maus créditos que teve de fazer.

Na última vez que foi ao mercado, a Espanha conseguiu levantar 2 bilhões de euros — mas ao dobro dos juros que teve de pagar em seu último empréstimo, no fim de março. É o tipo de coisa que não melhora o sono de ninguém, num país que tem no sistema financeiro o ponto mais crítico de sua economia.

Pior do que tudo, há o desemprego — 25% da população que poderia estar trabalhando, ou não longe de 6 milhões de pessoas, um número inédito na história da Espanha. Entre os jovens com menos de 25 anos, mais da metade não tem emprego.

Mau momento, sem dúvida.

É comum, nas campanhas eleitorais, ouvirem-se as ideias mais extraordinárias — algo normal, aliás, quando se considera que um dos propósitos da disputa eleitoral é permitir a circulação do pensamento, qualquer pensamento.

Na recém-terminada campanha presidencial francesa, por exemplo, um candidato propôs em seu programa de governo, certamente sem saber do que estava falando, que se introduzisse a correção monetária na França — e só para os salários. Eis aí um problema mundial: as pessoas conhecem pouco o Brasil.

Se conhecessem mais, aprenderiam uma infinidade de coisas que não devem ser feitas de jeito nenhum. O Brasil é um caso clássico de país que já experimentou quase tudo que não dá certo; em matéria de coisa errada, temos uma experiência que muito pouca gente consegue superar.

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