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Sete Perguntas | Na Argentina, a disputa é pelo centro

Para o diretor de uma das maiores consultorias de risco do mundo, tanto Mauricio Macri quanto Cristina Kirchner brigam pelos eleitores moderados

Favaro, da Control Risks: “Cristina Kirchner entendeu a sua limitação” (Control Risks/Divulgação)

Favaro, da Control Risks: “Cristina Kirchner entendeu a sua limitação” (Control Risks/Divulgação)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 20 de junho de 2019 às 05h04.

Última atualização em 25 de junho de 2019 às 15h10.

As eleições presidenciais na Argentina em outubro caminham para ser uma das mais polarizadas do país, numa disputa acirrada entre o atual mandatário, Mauricio Macri, e o veterano Alberto Fernandez, que encabeça a chapa com a ex-presidente Cristina Kirchner como vice. Essa é a avaliação de Thomaz Favaro, diretor para o Brasil e a Argentina da Control Risks, uma das principais consultorias de análise de risco político do mundo. Em entrevista a EXAME, Favaro diz que ambos os candidatos agora buscam capturar os eleitores de centro.

Como avalia a corrida presidencial na Argentina até agora?

A Argentina está dividida em três grupos: um liderado pelo atual- presidente, Mauricio Macri, outro que apoia Cristina Kirchner, e um terceiro, mais ao centro, que reúne os peronistas moderados e não alinhados com o kirchnerismo. Nos últimos meses, o que observamos foi a tentativa de captura desse grupo. A Argentina caminha para uma eleição extremamente polarizada, com uma disputa binária entre Macri e Kirchner.

O que podemos esperar dessa disputa?

Do lado de Macri, há a estratégia de se vender como o candidato “menos pior”, alguém que não representa a volta ao passado do kirchnerismo. Já o candidato a presidente Alberto Fernandez e Cristina Kirchner tentam se colocar como uma força política preocupada com as consequências sociais da crise econômica. A maioria das pesquisas mostra um empate técnico.

Qual é a impressão dos investidores internacionais sobre uma possível volta do kirchnerismo?

A escolha de Alberto Fernandez para encabeçar a chapa é uma boa notícia. Embora ele seja ligado ao kirchnerismo, sempre se posicionou contra as medidas mais radicais adotadas por Néstor Kirchner e, depois, por Cristina. A expectativa é que ele mantenha a independência, ainda que ela seja a vice.

A decisão de Cristina Kirchner de concorrer como vice-presidente surpreendeu. O que acha dessa estratégia?

É um sinal de fraqueza no sentido de que ela entendeu a limitação de sua candidatura, considerando um segundo turno contra Macri e num contexto em que seu governo é associado à corrupção. Certamente foi avaliado que um candidato moderado, crítico ao kirchnerismo, estaria mais bem posicionado para vencer.

A ascensão de uma terceira via, de centro, ainda é possível?

É cada vez menos provável que isso aconteça. Os argentinos chamam essa situação de grieta, uma espécie de rachadura que divide a sociedade em duas partes. Houve a tentativa de criação dessa terceira via, mas os nomes que restaram, como o atual governador de Salta, Juan Manuel Urtubey, e o ex-ministro da Economia Roberto Lavagna têm pouca chance.

Quais as expectativas para a economia da Argentina?

A situação no curto prazo é crítica. Neste ano, a previsão é de uma contração da economia de 1,4%. A taxa de inflação dos últimos 12 meses está acima de 50% e nem o mais otimista dos governistas crê que seja possível reduzi-la a um dígito em menos de três anos. Mas tudo indica que o pico da crise ficou para trás.

Quais são os desafios do próximo governo?

A recuperação será mais lenta do que a maioria dos argentinos gostariam. Além da inflação e da recessão, o próximo governo herdará desafios importantes, como lidar com a dívida pública, hoje em 86% do PIB, e a necessidade de renegociar os termos do empréstimo do Fundo Monetário Internacional em 2020.

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