Revista Exame

Mark Zuckerberg, muy amigo

A Rede Social pode não ser a história verdadeira da criação do Facebook, mas é um excelente filme sobre a nova geração digital

Tudo começou assim: o brasileiro Saverin (à esq.) e Zuckerberg (sentado diante do computador) em cena de A Rede Social (Divulgação)

Tudo começou assim: o brasileiro Saverin (à esq.) e Zuckerberg (sentado diante do computador) em cena de A Rede Social (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 8 de abril de 2011 às 17h56.

Rede Social é um filme genial desde a porta do cinema. Que tal o texto do cartaz: “Você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos”. Os 500 milhões de amigos, é claro, são os usuários do Facebook, a rede social que tem a ambição de conectar todas as pessoas do planeta. Nada mau para a bilheteria ter tantos potenciais espectadores de seu filme. Nada mau, também, ter um roteiro pulsante, escrito por Aaron Sorkin (criador da série de TV West Wing) e realizado com brilhantismo por David Fincher (de Clube da Luta e O Curioso Caso de Benjamin Button). Finalmente, nada mau ter como personagem principal o mais novo magnata do mundo digital, um jovem que, hoje, aos 26 anos, é dono de uma fortuna estimada em quase 4 bilhões de dólares e que começou sua empresa num quarto do alojamento da universidade.

Ou não. Porque um dos pontos centrais do enredo de A Rede Social, cuja estreia está prevista para 3 de dezembro, é a disputa legal de Zuckerberg contra os irmãos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss e o parceiro deles, Divya Narendra.

O trio convidou Zuckerberg para fazer a programação do HarvardConnection, uma ideia de um site exclusivo para estudantes da universidade, com ênfase em namoro. Ele aceitou a missão, mas passou a evitar os três durante semanas e não entregou trabalho algum. Logo depois, Zuckerberg lançaria o que na época se chamava The Facebook, em sociedade com seu melhor amigo. Bem. Melhor amigo talvez não seja a classificação adequada. A pessoa em questão é Eduardo Saverin, um brasileiro que ficou amigo de Zuckerberg e investiu o capital inicial da empresa. Quando o negócio começou a decolar, Zuckerberg diluiu a participação de Saverin na empreitada e essencialmente o tirou da jogada.


Um dos empreendedores mais bemsucedidos dos últimos tempos é um ladrão de ideias capaz de puxar o tapete de um grande amigo. O filme não vai tão longe a ponto de dizer isso, mas a sugestão é bastante clara. No final, você descobre que tanto Saverin quanto os três criadores do HarvardConnection fizeram acordos milionários. A Rede Social tem como base Bilionários Por Acaso, de Ben Mezrich, um livro que se apoia nos relatos de Saverin e dos três sócios e nos documentos dos dois processos. Zuckerberg não colaborou nem com o livro nem com o filme. Quando questionado sobre sua versão cinematográfica, ele elogiou o figurino do personagem: “Todas as camisetas e blusas são exatamente iguais às minhas. Mas eles (os responsáveis pelo filme) não conseguem entender que alguém possa construir algo porque goste de construir coisas”. Se a reputação de Zuckerberg não é destruída pelo filme, a história da fundação do Facebook será sempre lembrada pelos episódios mostrados na tela.

E eles são contados de forma arrebatadora. A Rede Social é um thriller. Um bando de nerds programando computadores num quarto não é exatamente a matéria-prima ideal do cinema, mas, nas mãos de Fincher, a história ganha dinamismo e, quem diria, charme. Os personagens também são excelentes. Não há um único vilão: todos os personagens mostram suas falhas. Mas nenhum deles mais do que o protagonista. Além de relativamente parecido com seu personagem, Jesse Eisenberg consegue reproduzir com perfeição o traço mais marcante de Zuckerberg: um olhar vazio, perdido, que pode ser confundido com desinteresse ou intensa concentração. Zuckerberg é retratado como uma pessoa com talento de sobra para computadores e em falta para os relacionamentos pessoais. É o nerd típico, e é claro que não se perde a ironia de que uma rede em que 250 milhões de pessoas se socializam diariamente tenha sido criada por alguém que aparentemente não entende nada do assunto. O brasileiro Saverin é interpretado por Andrew Garfield, na melhor atuação do filme. A cena em que ele descobre que foi apunhalado pelas costas pelo ex-amigo é uma das melhores do filme. Outro papel importante, no roteiro e na história do Facebook, é o do playboy Sean Parker. Justin Timberlake traz à vida de forma convincente uma das pessoas que mais influenciaram Zuckerberg nos primeiros passos do Facebook — e que seria, mais tarde, também colocado para escanteio.

O Zuckerberg do filme guarda ressentimentos por não poder entrar nos clubes exclusivos da já exclusiva Harvard. É essa sensação de estar do lado de fora uma das motivações que o levam a criar um site que acabou virando um mundo em si próprio. Menos ficcionais são as cenas que mostram o trabalho de criação do Facebook: garotos amontoados numa casa, comendo porcarias e programando sem parar. São esses os novos bilionários, os todo-poderosos da nova ordem digital. Na cena final, depois de uma audiência com advogados, Zuckerberg fica recarregando obsessivamente a página de sua ex-namorada no Facebook. O prodígio que conectou milhões de pessoas chega ao fim do filme como começou: sozinho.

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