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Mundo vive boom dos leilões de arte

Nunca o mercado de leilões de arte faturou tão alto. O fenômeno é impulsionado pelo aumento da riqueza dos bilionários, que inflam os preços

Leilão da Christie’s, em Nova York: a tela com Elvis Presley saiu por 82 milhões de dólares (Divulgação)

Leilão da Christie’s, em Nova York: a tela com Elvis Presley saiu por 82 milhões de dólares (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2015 às 06h00.

São Paulo - O artista americano Andy warhol, morto em 1997, era um célebre frasista. Foi ele quem disse que todos mereciam ter seus 15 minutos de fama. Outra frase de Warhol, menos conhecida, descreve bem o atual momento do mundo das artes: “Ganhar dinheiro é arte, trabalhar é arte e fazer bons negócios é a melhor arte que existe”.

Em novembro, o icônico quadro Triple Elvis, do próprio Warhol, foi vendido por quase 82 milhões de dólares pela empresa de leilões Christie’s, em Nova York. O leilão, que reuniu 80 obras de diferentes artistas, arrecadou mais de 852 milhões de dólares em 1 hora e meia. Nunca uma casa de leilão havia faturado tanto em tão pouco tempo. 

Em 2014, o comércio de arte no mundo movimentou 51 bilhões de euros, um aumento de 7% em relação a 2013, o maior valor da história, de acordo com um estudo da Fundação Europeia de Artes Plásticas. Em fevereiro, um cliente anônimo pagou 300 milhões de dólares por uma tela do pós-impressionista francês Paul Gauguin, um recorde para uma única tela.

Embora haja investidores dispostos a gastar algumas centenas de milhões de dólares em artistas do século 19, são os artistas contemporâneos os responsáveis pelo momento excepcional do mercado de arte. Eles responderam por quase metade das vendas no ano passado.

Em 2014, as duas principais casas do ramo, as inglesas Christie’s e Sotheby’s, arrecadaram, juntas, mais de 5 bilhões de dólares com peças contemporâneas. A lógica no setor das artes parece óbvia: comprar obras de novos artistas ainda em baixa e revendê-las quando estiverem em alta.

“Todo investidor quer descobrir o Andy Warhol de amanhã”, diz Anders Petterson, presidente da consultoria inglesa Art Tactic. O duro, claro, é conseguir.

Com a economia europeia se equilibrando no fio da navalha e a economia global ainda cheia de incertezas, não deixa de ser curiosa essa atual alta do mercado de arte. A explicação mais aceita é a de que os ultrarricos estão ficando cada vez mais ultrarricos. De acordo com a revista americana Forbes, existem hoje 1 826 bilionários no mundo — 290 mais do que no ano passado.

Juntos, essa turma soma uma riqueza de 7 trilhões de dólares — há exato um ano eles detinham 6,4 trilhões de dólares. Muitos deles são conhecidos colecionadores de arte, como o francês Bernard Arnault, dono do conglomerado de luxo LVHM. É o poder de fogo de gente como ele que dita os rumos dos leilões.

“Cerca de 100 compradores movimentam mais de 50% do mercado”, afirma Clare McAndrew, presidente da consultoria irlandesa Arts Economics. Uma parte deles foi responsável pela valorização ocorrida nos últimos anos de artistas contemporâneos brasileiros, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes e Vik Muniz.

A recente atenção dos bilionários tem aquecido a demanda por peças de jovens artistas. As obras do pintor americano Israel Lund, de 35 anos, eram vendidas por cerca de 7 500 dólares em 2013 e alcançaram em leilões preços de 125 000 dólares em 2014. Nessa corrida por possíveis talentos rentáveis, já há quem fale em uma bolha no mercado de arte.

Em janeiro, Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, famoso por ter previsto o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, aproveitou sua palestra no Fórum Econômico Mundial, em Davos, para alertar que os preços de obras de arte podem estar chegando ao auge e que a queda poderá ser abrupta.

Roubini defende que esse mercado seja regulamentado como o de ações. A mudança, segundo Roubini, poderia evitar o estouro de bolhas e serviria de antídoto contra a lavagem de dinheiro. Suspeita-se que muitas obras sejam compradas por quem quer investir anonimamente num patrimônio que possa ficar na sala de casa, longe dos olhares das autoridades.

Os representantes do setor se opõem à ideia. “Somos favoráveis a regras que impeçam que corruptos adquiram obras, mas também não podemos exigir que as pessoas divulguem as mobílias que compram para sua casa”, defende Marc Porter, presidente da Christie’s para as Américas.

Por ora, não há nenhuma indicação de que o mercado de arte venha a ser regulado. Desde que mais bilionários estejam dispostos a encontrar novos talentos, os preços vão continuar favoráveis. O difícil é saber separar o próximo Warhol de quem terá somente 15 minutos de fama.

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