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Jovens de baixa renda rompem estigma e viram influencers de finanças

Jovens de baixa renda rompem o estigma de que controlar as contas e investir depende de muito dinheiro e se tornam influenciadores cheios de empatia

 (Divulgação/Folhapress)

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Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 05h13.

Última atualização em 17 de dezembro de 2020 às 11h01.

Grana. Dinheiro curto. Pagar boletos. Foi com uma linguagem simples e direta que os influencers de finanças conquistaram seu espaço na internet e milhares de seguidores. São jovens que orientam sobre como poupar e investir e traduzem o “economês” para um público muito além da Faria Lima. Em comum, eles têm em mente que a educação financeira deve ser acessível a todos e que ela é uma ferramenta de transformação social.

O surgimento de influenciadores de finanças é explicado principalmente pela queda da taxa básica de juro, a Selic, nos últimos anos. Para Cristina Helena Pinto de Mello, economista e professora na ESPM, são profissionais que ganharam destaque porque explicam de uma maneira muito didática conceitos que sempre foram vistos como difíceis. Além disso, o público se identifica com a imagem deles. “Eles popularizaram o acesso ao mercado. Os influenciadores têm uma característica de confiança gerada pela empatia.”

Nathália Rodrigues é uma delas. Aos 22 anos, a recém-formada administradora de empresas, conhecida como Nath Finanças, tem quase 1 milhão de seguidores nas redes sociais (Twitter, Instagram e YouTube). Público que ela cativou nos últimos dois anos se apresentando como orientadora financeira para a baixa renda. De forma descontraída, Nath explica desde como limpar o nome no Serasa até como fazer o fluxo de caixa de uma empresa.

A ideia do canal surgiu após as aulas de matemática financeira na faculdade, que despertaram o interesse da jovem por finanças. Ela diz que criou o canal para ajudar pessoas como ela. Moradora de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, Nath conhece as dificuldades de quem mora na região periférica das cidades. Durante a pandemia, ela se dedicou a explicar como seria o pagamento do auxílio emergencial. “Os calendários divulgados eram confusos e era um dinheiro de que as pessoas precisavam.”

Da periferia de São Paulo vieram outros dois influenciadores: Gabriela Mendes Chaves, da NoFront Empoderamento Financeiro, e Murilo Duarte, do canal Favelado Investidor. A economista desenvolveu um método de ensino por meio do rap, pelas letras do grupo Racionais MC’s. O consumo e o endividamento são temas abordados. Pensando no passo a passo para ensinar qualquer pessoa a investir, Murilo Duarte criou o canal Favelado Investidor no ­YouTube.

O objetivo de Murilo, ex-morador do bairro João XXIII, é derrubar o mito de que só quem tem dinheiro pode investir. “Dá para comprar ação com 10 reais. Com 30 reais, você pode comprar título público. Não importa quanto você ganha, o importante é criar o hábito de investir.” Ele ensina como organizar as finanças, abrir uma conta na corretora e escolher uma empresa na bolsa.

Iniciativas também surgem em outros estados. Em Salvador, a jornalista Amanda Dias criou o canal Grana Preta, focado na população negra. Pelas redes sociais, ela dá dicas principalmente para quem trabalha de forma autônoma. Além do conteúdo gratuito, ela dá cursos e palestras para ajudar no que ela chama de emancipação financeira.

No Sul do país, surgiu o Boletinhos. Quem comanda o perfil no Twitter e no Instagram é o publicitário Alan Soares. O jovem era a principal referência para os amigos quando o assunto era organização financeira. “Eu sempre fui muito bom em exatas e ajudava quem pedia. Aprendi sobre controle financeiro vendo minha mãe ralando em dois empregos para sustentar a casa. Cresci com essa noção.” São iniciativas que começam a se multiplicar país afora, diante de tantas necessidades e oportunidades que existem.

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