Revista Exame

Corretoras se transformam para não sumirem do mapa

As tradicionais corretoras Spinelli e Concórdia se fundiram para criar uma empresa com um novo modelo de negócios

Marcos Maluf, presidente, e Rafael Giovani, diretor comercial da Necton: venda para o BTG para impulsionar o crescimento (Germano Lüders/Exame)

Marcos Maluf, presidente, e Rafael Giovani, diretor comercial da Necton: venda para o BTG para impulsionar o crescimento (Germano Lüders/Exame)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 20 de dezembro de 2018 às 05h42.

Última atualização em 20 de dezembro de 2018 às 05h42.

À medida que o mercado de investimentos muda, as tradicionais corretoras de valores brasileiras —fundadas nos anos 50 e 60, principalmente, para intermediar compras e vendas de ações na bolsa de São Paulo e na extinta bolsa carioca — vão sumindo do mapa. Muitas fecharam: em dez anos, quase 40 dessas empresas deixaram de funcionar, diminuindo o total de corretoras no Brasil em cerca de 40%. As que decidiram continuar no mercado estão se transformando. O objetivo é conseguir competir por investidores que querem produtos e serviços bem diferentes dos que buscavam no passado.

O movimento mais recente nesse sentido foi a fusão entre as corretoras Spinelli e Concórdia, aprovada em dezembro pelo Banco Central. Separadas, elas dão prejuízo e são pouco expressivas no setor financeiro local. Agora esperam abocanhar parte dos bilhões de reais que estão sendo aplicados em concorrentes mais novas e bem maiores, como XP, Easynvest, Guide, Genial e Modal. “A linguagem do mercado mudou, a forma de investir também, e isso demanda uma nova mentalidade. Não queremos criar simplesmente uma nova corretora rentável, mas uma empresa de investimentos”, diz Marcos Azer Maluf, presidente da Necton, nome da nova empresa.

“Nécton” é como é chamado o organismo aquático capaz de nadar contra a correnteza. A Necton das finanças não fará propriamente isso, pelo menos não por enquanto. O plano é seguir a linha de XP e companhia e, em vez de apenas intermediar a negociação de ações, como fazem as corretoras tradicionais, passar a vender fundos de investimento, títulos públicos, papéis privados de renda fixa e fundos imobiliários.

Spinelli e Concórdia já trabalhavam com alguns desses produtos, mas a Necton deve ampliar a oferta. Ainda que haja outras empresas fazendo exatamente isso, a avaliação é que existe mercado para todo mundo, uma vez que os recursos dos brasileiros estão majoritariamente aplicados nos bancos, que oferecem menos opções do que as corretoras independentes e geralmente cobram taxas mais altas. “Mais pessoas estão descobrindo que podem ganhar dinheiro investindo, em vez de apenas poupar”, diz Rafael Giovani, diretor comercial da -Necton. Para os especialistas, a queda dos juros — e a expectativa de que continuem baixos em 2019 — deve favorecer o movimento de busca por aplicações mais rentáveis. “As corretoras que tiverem as melhores estratégias de comunicação são as que mais conseguirão crescer”, diz -Giovani. Assim como suas concorrentes, a Necton pretende concentrar esforços na produção de textos e vídeos sobre investimentos e educação financeira, publicados em seu site. Mesmo depois da fusão, a Necton ocupa uma colocação modesta no ranking de corretoras do país: está na 20a posição, considerando-se o mercado de ações da bolsa B3. Nesse setor, tamanho é importante para reduzir os custos fixos.

O plano de fusão partiu dos controladores das corretoras: Nelson Spinelli, diretor e filho do fundador da empresa que leva seu sobrenome, criada em 1953, e a família de Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, que fundou a Concórdia em 1986 (a Concórdia pertencia à Sadia, mas tornou-se uma empresa separada quando a fabricante de alimentos se fundiu à Perdigão para criar a BRF em 2009).

Os acionistas sempre foram próximos e já tinham tentado uma união no passado envolvendo outras corretoras, como a Planner. Spinelli e Furlan agora têm 50% da Necton cada um, mas não vão participar do dia a dia da gestão. Com a fusão, áreas duplicadas das duas empresas podem ser unidas, resultando em uma diminuição de custos. De 220 funcionários como operação separada, as duas corretoras juntas devem ficar com 190. Isso pode ajudar a reduzir o prejuízo: em 2017, a Concórdia faturou 32 milhões de reais e teve uma perda de 3 milhões. Já a Spinelli acumulou uma receita de 30 milhões, com um prejuízo de 4,5 milhões de reais. Mas a expectativa é que os números melhorem de fato com o crescimento dos negócios.

Os principais executivos encarregados de comandar a nova corretora nem chegaram aos 40 anos. Formado em administração de empresas, Marcos Maluf tem 32 e, antes da Necton, foi presidente da corretora Um Investimentos e diretor comercial da corretora do Bradesco. Rafael Giovani tem 35 anos e trabalhou com Maluf na Um e também no Bradesco, nas áreas comercial e de desenvolvimento de produtos. Eles testarão uma prática que ainda é pouco comum aqui: a de fusão de corretoras.

Apesar dos resultados ruins apresentados por muitas empresas no setor (Concórdia e Spinelli estão longe de ser as únicas a operar no vermelho), a maioria resiste a incorporações. Os motivos são os de sempre: falta de acordo sobre preço e como tocar o negócio. Se a Necton for bem-sucedida, executivos do mercado financeiro apostam que a empresa poderá atrair concorrentes interessados em se unir a uma companhia maior. Para sobreviver nesse novo mercado, a estratégia tem sido seguir quem sabe o que está fazendo.

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